Sinopse
Tocho, Jean Pierre e Ely viajam da Espanha para o Mali para visitar o pai moribundo da pela última vez.
Crítica
No cinema, a estrada pode desempenhar diversas funções para além da literal. Não raro, filmes de viagem, os chamados road movies, apresentam percursos de transformação e/ou redenção consideráveis, sendo neles o destino menos importante que o decurso. Em 4L, há a necessidade de atravessar continentes para fazer jus a uma amizade boa parte construída em trânsito, quando três jovens eram impetuosos demais para deixar que o marasmo os detivesse. Tudo começa com Tocho (Hovik Keuchkerian) sendo “resgatado” de sua rotina modorrenta pela carta alarmista da esposa de um ex-colega que está morrendo no coração da África, cenário que eles, junto com Jean Pierre (Jean Reno), escrutinaram na adolescência. Todavia, o cineasta Gerardo Olivares não se esforça no sentido de representar a importância dessa reunião, rapidamente tirando "obstáculos" do caminho, promovendo religações frouxas e introduzindo banalmente uma personagem vital.
Ely (Susana Abaitua) substitui o pai moribundo na relíquia de quatro rodas com a qual o trajeto emblemático é refeito. Sua inclusão na equipe se dá tão levianamente quanto a demonstração de insatisfação de Tocho com isso. A energia que circula entre os personagens é indefinida de maneira contraproducente, menos por conta da intenção de tornar nebulosas as intenções, mais em virtude da inabilidade ao entrelaçar sensações potencialmente ambíguas. Como num passe de mágica, após certa demonstração de fraqueza, o homenzarrão passa a ter comportamentos paternais, ou seja, opostos, sem que o filme justifique a radical virada de chave. De modo semelhante, a argamassa que une as intenções confluentes, ou seja, a amizade que tende a salvar os componentes mesmo num instante severo de crise, é mal composta. Os sujeitos verbalizam a importância dos vínculos, mas estes não são delineados com força dramática suficiente. Por isso o conjunto é morno e insosso.
As subjetividades são diminuídas em benefício da sobressalência dos perigos do deserto. Tocho e Jean Pierre são individualmente enfraquecidos, ambos relegados às respostas que podem dar às intempéries do território africano. E um precisa assumir as rédeas assim que o outro é acometido por uma grave diarreia. Gerardo Olivares não cruza as demandas pessoais e a missão compartilhada por esse time que, ainda, ganha a presença de um nativo, Mamadou (Juan Dos Santos), cuja função é circunstancial. Em um momento de exceção, o coadjuvante brilha ao falar “agora somos todos imigrantes ilegais”, quando constata que os demais (europeus) foram ludibriados e tiveram seus passaportes roubados. Embora faça outros comentários que pudessem o colocar como emblema da periclitante crise mundial das imigrações, ele não tem espaço suficiente para extrapolar o papel estereotipado de guia, inclusive quanto a uma conexão específica com a Mãe África.
4L é monótono, a despeito da sua ocasional e peculiar ternura. Ímpetos tais como a premência de encontrar sentido à vida e a vontade de aproximar-se das raízes são pouco explorados, senão como virtuais pilares. As músicas acabam parafraseando as imagens, sendo assim redundantes. Gerardo Olivares abusa das tomadas aéreas (provavelmente filmadas a partir de drones), reiterando, sem variações substanciais, a pequenez daquele comboio diante da natureza tão sublime quanto hostil. A falta de objetividade, sublinhada pela incapacidade de desenvolver as coisas tidas como essenciais, faz do longa-metragem um desfile consecutivo de questões já postas, com o ônus gradativo da ausência de frescor, este que abandona as segundas ou terceiras incursões pela mesma conjuntura. As complexidades cedem espaço às conveniências, vide a participação torpe (e boba) do oriental que surge no deserto e lhes provê o urgente para escapar à morte e seguir perseverando.
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