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Sinopse

Patriarca de uma família turca, Eyup trabalha para um rico homem de negócios que lhe faz uma proposta indecorosa: que assuma a autoria de um crime em troca de dinheiro.

Crítica

Premiado no Festival de Cannes de 2008 como Melhor Direção, o longa turco 3 Macacos chegou aos cinemas brasileiros com mais de um ano de atraso. Mesmo assim a espera compensa, principalmente pelo aspecto pitoresco do longa, que parte de uma trama familiar bastante trágica para discutir assuntos universais. Os silêncios, os mal-entendidos, as submissões e os desejos abordados parecem, num primeiro olhar, distantes da nossa realidade, mas a medida em que o enredo avança vamos nos identificando cada vez mais com a situação que está sendo desenhada. E no final, o que se tem está além de uma mera questão geográfica: são sentimentos que qualquer um de nós já enfrentou em algum momento da vida. E talvez seja isso que faça deste longa algo tão interessante.

O título faz referência óbvia à conhecida lenda japonesa dos Três Macacos Sábios, aqueles que nada veem, nada ouvem e nada falam. Esse mito vem do Séc. XVII, e afirma que, se os homens não olhassem, não ouvissem e não falassem o mal alheio, teríamos assim comunidades pacíficas com paz e harmonia. Pois é justamente isso que os três protagonistas desta história tentam fazer, falhando miseravelmente. Afinal, são pessoas comuns, enfrentando dilemas humanos e conflitos simples, como falta de dinheiro, amores não correspondidos, traições de todos os níveis, falta de esperança e sonhos despedaçados. Como seria fácil se todo conselho pudesse ser aplicado imediatamente, se mudar de atitude fosse algo comum e se assumir compromissos não implicasse em outros tantos problemas!

3 Macacos começa numa estrada escura, numa noite de chuva. Um atropelamento acontece. Quem dirige é um importante político que, temeroso do que aquilo possa lhe causar, oferece um bom dinheiro ao seu motorista – de folga naquela ocasião – para assumir o crime no seu lugar. O homem aceita, pensando na família e na escassez de possibilidades no horizonte para melhorar de vida. No acordo, há também uma compensação financeira à esposa e ao filho do empregado, para assim poderem se sustentar enquanto o patriarca estiver na prisão. Estas três pessoas, cada uma encarcerada sob um aspecto diferente, são os tais macacos do título. O marido calado num mundo em que todos gritam, a mulher cega por uma paixão que não tem futuro, e o filho surdo ao drama que afligiu os pais e, por consequência, ele próprio.

Dono de uma fotografia exuberantemente triste, de uma plasticidade arrebatadora, 3 Macacos encanta também pelas interpretações dedicadas do elenco principal, pelo roteiro bem amarrado e pela direção segura. São poucos diálogos, mas todos colocados com muito esmero e cuidado, como se cada palavra pudesse alterar por completo o sentido do que está sendo dito. Tudo é econômico, e esta escassez de elementos, ao invés de afastar, conquista justamente pelo estranhamento. É um filme muito diferente do que estamos acostumados a presenciar, e é preciso uma dedicação extra, acima de tudo no início da ação, para adentrarmos neste contexto e deixarmos nos envolver. A dor exposta não é de um ou dois, mas sim de todos nós. E por não ter medo de enfrentar o óbvio é que esta obra consegue se destacar com tamanho impacto.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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