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Crítica

Em diversos países da Europa, abortos podem ser realizados até a vigésima quarta semana de gestação, já que nela o feto ainda não está completamente constituído, assim não possuindo consciência ou reação à dor. Em casos de malformação, porém, esse limite pode ser estendido. A abordagem da diretora Anne Zohra Berrached em 24 Semanas, longa-metragem selecionado este ano para concorrer ao Urso de Ouro no Festival de Berlim, se dedica exatamente a analisar os dias tensos da grávida Astrid (Julia Jentsch), uma comediante de sucesso, repleta de dúvidas e julgada por várias pessoas ao seu redor.

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A trama se passa na Alemanha, se desenvolvendo após algumas análises, por meio das quais se constata que o bebê é portador da Síndrome de Down. Astrid e o marido não cogitam o aborto mesmo frente ao choque momentâneo de seu filho ser um “downie”. Ainda assim, familiares mostram um lado inesperado para o casal, indicando o aborto do feto e um preconceito aterrorizante. Decidido a criar o filho da melhor maneira, o casal segue em frente, mas leva outro baque - e dos grandes – depois de algumas semanas. Numa ultrassonografia eles descobrem que o bebê possui um defeito congênito, problema no coração que o levará a inúmeras cirurgias. Talvez ele nem tenha muito tempo de vida.

Jentsch, força central do filme, apresenta uma forte e impactante performance, marcada por dúvidas e fraquejo já esperados. Mas a complexidade dos acontecimentos, da sua reação diante deles e dos constantes palpites de quem assiste sua situação de fora moldam esse desempenho de uma maneira exemplar. Não há como julgá-la, não há como deixar de ter empatia por sua dificuldade. Berrached não a constrói como uma matriarca sem erros. Astrid é complexa, errática. E possui todo o direito de assim ser. Também, é evidente, a diretora aponta que o vilão, se é que existe esse tipo maniqueísta aqui, é a sociedade, refletida nos familiares, nos amigos e na imprensa, bem mais do que na própria protagonista.

O dilema de realizar ou não o aborto para economizar a família e o bebê de um longo sofrimento se arrasta até os momentos finais. De excepcional na trama apresentada é o fato da direção de Berrached, aliada ao roteiro coescrito por Carl Gerber, construir essas dúvidas e intrincadas resoluções, não apenas no que tange a Astrid. Em um dos momentos mais emblemáticos, o marido, Markus (Bjarne Mädel), precisa compreender que não competirá a ele a decisão. Afinal, a gestação é de Astrid e ela que arbitrará o rumo dos acontecimentos.

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24 Semanas é um daqueles filmes enquadrados no filão raro que analisa a temática do aborto com dignidade e sem demagogias, mesmo que em alguns momentos descambe para algo desnecessariamente melodramático. Todavia, é bom constatar o resultado, esse recorte pungente das agruras que o olhar cínico e julgador da sociedade lança sobre as mulheres. Um filme necessário em meio as discussões feministas e do corpo da mulher que batem cada vez mais à porta e são assunto

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é graduado em Cinema e Animação pela Universidade Federal de Pelotas (RS) e mestrando em Estudos de Arte pela Universidade do Porto, em Portugal.
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