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Sinopse

Cinebiografia dos irmãos Mirosmar José e Emival, que fizeram sucesso e fortuna na música com os nomes de Zezé di Camargo e Luciano. A história percorre a vida dos jovens e humildes rapazes da interiorana Pirinópolis (Góias) que, com o esforço do pai Francisco, tornaram-se campeões de venda e ícones do estilo sertanejo moderno.

Crítica

Quando foi divulgado que iriam transformar em filme a história da dupla sertaneja Zezé Di Camargo & Luciano, duas ideias foram logo pré-concebidas pelo público em geral: primeiro, a de que só os fãs do gênero sertanejo iriam aos cinemas prestigiá-los (já chegam as produções estreladas por Xuxa, Renato Aragão e afins); e a segunda é que o sucesso de Cazuza: O Tempo Não Para (2004) teria tido um lado negativo, pois iria gerar inevitavelmente uma seqüência de outras produções baseadas em ídolos musicais nacionais. Felizmente, quem apostou nestes “pré-conceitos” esteve inteiramente errado: 2 Filhos de Francisco é um filme e tanto!

2 Filhos de Francisco não poderia estar mais distante das obras estreladas por grandes personalidades do cenário artístico brasileiro. Pra começar, Zezé Di Camargo e Luciano mal aparecem no filme – só no final, já no epílogo. Depois – e aqui está toda a diferença – este longa existe não por causa dos artistas, e sim em função de uma história, e é ela que tem importância. A trajetória de Francisco Camargo, um agricultor pobre do interior de Goiás cheio de filhos que desde o nascimento do primeiro tinha certeza que dois deles formariam uma dupla caipira, é mais do que especial, é uma odisséia única e completamente singular.

Esta originalidade está presente também nos quesitos técnicos e artísticos do filme. Desde a cuidada pesquisa da trilha sonora (que tem direção de Caetano Veloso), com clássicos do cancioneiro popular, até a bem estudada fotografia de André Horta, passando pelo engenhoso roteiro escrito por Patrícia Andrade e Carolina Kotscho até a mão segura de Breno Silveira, que estreava com esse projeto na direção de longas-metragens. Isto, é claro, sem falar do desempenho do elenco, todos em performances acima da média. Ângelo Antônio (que voltou a trabalhar com Breno em À Beira do Caminho, 2012), como seu Francisco, tem a oportunidade de uma vida, oferecendo um desempenho difícil de ser esquecido. Dira Paes confere emoção e dramaticidade numa composição intensa e comovente. O gaúcho Márcio Kieling está a cara de Zezé Di Camargo, assim como Thiago Mendonça ficou também igual a Luciano. Entre coadjuvantes como Paloma Duarte e seu avô, Lima Duarte, o destaque vai para José Dumont, que nos entrega mais um tipo muito próprio e totalmente envolvente.

2 Filhos de Francisco conta a história de como uma família humilde conseguiu gerar dois dos mais populares músicos do nosso país. A infância cheia de carências, a mudança para a cidade grande, os primeiros contatos com o mundo artístico, a tragédia, o começar de novo, a esperança, a desilusão, os romances, os sucessos. Está tudo lá, todos os elementos clássicos de uma trama completa, e o melhor – foi tudo (ou a maior parte) verdade! O que aconteceu na vida real dos dois são eventos dignos de ficção da melhor qualidade, com a vantagem que não precisaram ser imaginados por ninguém.

Não é preciso ser fã da música de Zezé Di Camargo e Luciano para apreciar este filme. Na pré-estreia nacional, numa sessão hors concours durante o Festival de Cinema de Gramado, a maior parte do público ali reunido não era de fãs, mas de cinéfilos. Estavam mais curiosas do que verdadeiramente interessadas, aliás. Mas, quando a projeção se encaminhava para o final, o que se presenciou dentro do Palácio dos Festivais foi um fato inédito: milhares de pessoas cantando junto com a trilha, chorando emocionadas e inteiramente entregues a um enredo simples e ao mesmo tempo muito bem elaborado, construído com dignidade e competência. Alguns afirmam que o filme poderia ser um pouco menor, que o encerramento se estende um pouco além da conta. Não deixam de ter razão. Mas nada que tire o brilho de um dos filmes mais bonitos de 2005, que permanece na memória de muita gente como mais do que um belo entretenimento – o que não deixa de ser – mas também como uma lição de vida. Quem diria?

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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