Crítica
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Sinopse
Uma série de experiências em torno de olhar e ser olhado. Um caleidoscópio de vivências e deslumbramentos dos alunos do ensino secundário.
Crítica
O olhar é essencial ao cinema, em vários sentidos. Quem enxerga? Que elementos são vistos? Quantos deles são profundamente percebidos e de que modo o são? Quais as características das perspectiva significantes dos objetos/seres/manifestações? Em 13 Ways of Looking at a Blackbird tudo começa com a leitura do poema homônimo de Wallace Stevens, em inglês, no original. Isso deixa aos ignorantes quanto à língua anglo-saxã apenas o ritmo das palavras se sucedendo. Gradativamente, o texto é desmembrado em versos – devidamente traduzidos para o nosso português –, num processo revelado aos poucos como uma experimentação exatamente sobre o olhar. A cineasta Ana Vaz se encontra com dois adolescentes e lhes propõe um jogo cinematográfico. Essa premissa retirada da sinopse do projeto, pois em nenhum momento do curta isso é explicado ou minimamente contextualizado. É uma jornada longa e cansativa pelo exercício das percepções.
13 Ways of Looking at a Blackbird é uma sucessão de sons e imagens aparentemente aleatórios que exteriorizam as noções de cada envolvido com o poema, mas não estritamente com ele. O cinema frequentemente vira também uma possibilidade retórica a ser escrutinada, vide a forma como a câmera assume uma postura investigativa daquilo que ela pode fazer nascer. No mais das vezes, é bastante cansativo o vislumbre de paisagens recortadas, de circunstâncias com distâncias focais diversas, isso tudo com vozes tentando tensionar a relação entre a imagem e o som. Ana Vaz está mergulhada numa apuração pedagógica do olhar, materializando as elucubrações de seus colaboradores de ocasião, mas refuta curiosamente o didatismo. Ela poderia muito bem esclarecer o método no qual se baseia essa prática audiovisual, mas procura diluir qualquer entendimento mais frontal em prol da dimensão menos cartesiana, mais filosófica e porosa.
São 30 minutos em que o poema de Wallace Stevens serve como de gatilho lírico a recortes aparentemente independentes, sem que exista predisposição pela geração de comunicação. Diferentemente de boa parte dos filmes aos quais assistimos, aqui os planos tentam expressar valores individuais, como quando ilustram a visão da jovem que conta um sonho. 13 Ways of Looking at a Blackbird está longe de ser um experimento instigante, daqueles que fornece chaves insuspeitas para aprofundarmos a reflexão acerca de elementos que nos pareciam consolidados. Para muitos, a pergunta “mas o que é um olhar?” pode parecer um subterfúgio para criar uma falsa sensação de erudição, mas ela é absolutamente legítima. Pensar sobre como, porquê e de que jeitos enxergamos é ainda mais urgente na nossa contemporaneidade turvada pelo glaucoma do ódio.
Entretanto, 13 Ways of Looking at a Blackbird não apresenta uma concatenação cinematográfica suficientemente potente para instigar essa imersão meditativa. Não sabemos nada sobre o perfil dos criadores, tampouco, minimamente, quais são as suas bases e diretrizes primárias. Desse modo, Ana Vaz pretende investigar olhares distintos, a possibilidade de sermos tocados diferentemente por um mesmo impulso, mas sem para isso revelar as subjetividades. Talvez se soubéssemos um pouco sobre Mário Neto e Paula Nascimento, a proposição fosse menos angustiante de maneira contraproducente. O curta-metragem é um exercício moderadamente provocador, cuja potência arrefece rapidamente por força da frouxidão das articulações do enunciado. Lança perguntas importantes, convida a semiótica para dentro desse sistema indagatório, mas não oferece subsídios satisfatórios ao espectador fazer parte e tampouco conhecer quem faz.
Filme assistido online no 14º Cine Esquema Novo, em abril de 2021.
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