Truque de Mestre (2013)

Mágicos, ilusionistas, prestidigitadores, farsantes, enganadores. Todos, no final das contas, aplicam dos mais enigmáticos aos mais simplistas truques, iludindo seus espectadores com muita destreza e habilidade. E se o cinema é a arte da fantasia, como não aproveitá-lo para narrar impressionantes histórias destes que vivem de criar magia e encantamento na frente de muitos – seja ou não para o seu bem próprio. De desenhos animados à grandes produções, de astros milionários aos primórdios da sétima arte, tramas envolvendo mistérios aparentemente insolúveis – mas sempre donos de uma explicação bastante lógica – são tema recorrente, volta e meia dominando as atenções de espectadores fiéis e até mesmo dos mais curiosos.

Aproveitando a estreia de Truque de Mestre, de Louis Leterrier, que chega aos cinemas brasileiros após ter alcançado resultados bastante satisfatórios nas bilheterias americanas, a Equipe Papo de Cinema se reuniu para recordar alguns dos melhores truques já aplicados nas telas de cinema. E se títulos badalados, como O Ilusionista (2006), com Edward Norton, e Atos que Desafiam a Morte (2007), com Catherine Zeta-Jones, dentre tantos outros, acabaram ficando de fora da nossa lista final, acreditamos que esse Top 5 servirá como um bom guia para quem quer ser ludibriado com qualidade. Confira!

 

O Mágico (Le Magicien, França, 1898)
Por Rodrigo de Oliveira
Quem melhor que um ilusionista para trazer fantasia para o cinema? Os irmãos Lumière podem ser os pais da sétima arte, mas Georges Méliès trouxe a magia. Responsável por filmes cheios de trucagens e sendo responsável pelos primeiros efeitos visuais no cinema, Méliès, mágico de profissão, trouxe toda sua expertise na hora de brincar com a câmera. Ele entendia que os cortes na montagem davam efeitos impressionantes e resolveu trabalhar com isso criando deliciosas aventuras. A mais famosa? Viagem à Lua, de 1902. Mas não foi só nesse filme, primórdio da ficção científica, que o cineasta utilizou sua verve mágica. Já em 1898, em O Mágico, Méliès mostrava como era possível utilizar da imaginação para criar uma pequena história. Nela, um mágico e uma caixa podem criar situações inusitadas. Em 1901, em Excelsior!, mais uma vez um ilusionista é o protagonista, e seus poderes são mostrados utilizando um impressionado ajudante. Na lista de filmes com a mágica como assunto central, ainda se destacam O Mágico e o Palhaço (La clownesse fantôme, 1902) e Alcofribas, o Mestre Mágico (L’enchanteur Alcofribas, 1903). O mais bacana? Todos podem ser encontrados no You Tube.

 

 

Scoop: O Grande Furo (Scoop, Inglaterra/EUA, 2006)
Por Pedro Henrique Gomes
A desmaterialização que Sidney Waterman, personagem de Woody Allen, realiza em seus espetáculos de magia é o mote de Scoop. É através desse processo, pelo qual o mágico mexe com as moléculas do corpo das pessoas que aceitam o desafio de entrar numa caixa, que o mistério do filme vai ser possível. Lá, a jornalista Sondra Pransky (Scarlett Johansson) recebe as dicas de um repórter recém falecido sobre a identidade de um assassino. Entre rodadas de truques e festas com a elite inglesa, Sidney e Sondra passam a investigar Peter Lyman (Hugh Jackman), o tal suspeito, filho de um Lorde. Neste filme de Woody Allen, entre um humor escrachado (herança de Groucho Marx) e um suspense hitchcockiano, a narrativa retoma a relação do diretor com a morte, questão que não poderia ser resolvida sem uma dose de magia: o cinema coloca os mortos na companhia dos vivos, seja ressuscitando quem já se foi ou matando aqueles que ainda habitam o “real”.

 

 

O Grande Truque (The Prestige, Inglaterra/EUA, 2006)
Por Marcelo Müller
O Grande Truque é o “pequeno” filme que Christopher Nolan fez logo após o sucesso estrondoso de Batman Begins (2005), antes de embarcar na construção da sequência, Batman: O Cavaleiro das Trevas (2008). Sabe-se lá os motivos, mas ele é quase negligenciado quando se fala da carreira do diretor, muito menos festejado, por exemplo, que A Origem (2010), outra criação situada entre duas aventuras por Gotham City. Mas não nos enganemos: O Grande Truque deve pouco (ou nada) aos filmes mais conhecidos do inglês. O enredo é calcado na rivalidade entre Robert Angier (Hugh Jackman) e Alfred Borden (Christian Bale), prestidigitadores familiares um ao outro desde o início de suas carreiras. Os dois competem entre si de maneira natural até Alfred apresentar uma mágica revolucionária, cujo desvendamento passa a ser a obsessão de Robert. A história se passa na Londres do século XIX, reconstruída em detalhes para possibilitar retorno visual e atmosférico ao passado onde shows de ilusão ainda enchiam os olhos da massa estupefata. O roteiro engenhoso revela, aos poucos, fatos insuspeitos, maquinações e segredos que mudam os rumos dentro de uma lógica onde as aparências ganham o status de verdade, enquanto não passam de truques baratos.

 

 

Presto (Presto, EUA, 2008)
Por Conrado Heoli
Um dos maiores atrativos das animações da Pixar, além da infindável lista de qualidades ímpares de suas criações, são os curtas-metragens que antecedem cada filme. Antes de levar os espectadores para o futuro de Wall-E (2008), a produtora propõe um retorno ao vaudeville com Presto DiGiotagione, mágico que guarda todos os seus truques numa cartola e que tem como assistente o simpático – e faminto – coelho Alec Azam. Homenagem aos desenhos que marcaram a infância de muitos, inclusive a dos criativos da Pixar, Presto faz referência em situações, personagens e música aos clássicos Tom & Jerry, Coiote e Papa-Léguas e outras séries do gênero. As gags hilariantes do curta se iniciam a partir da recusa de Alec em contribuir com o show de mágica, uma vez que seu companheiro ilusionista se esqueceu de alimentá-lo. Doug Sweetland, animador veterano de filmes como Toy Story (1995) e Procurando Nemo (2003), fez sua estreia na direção de um filme com Presto, que recebeu indicações ao Oscar e ao Annie. O curta encantador pode não ter vencido tais prêmios, porém seu prestígio é recompensado por figurar como introdução para uma das mais belas animações já realizadas, Wall-E.

 

O Mágico (L’Illusionniste, França/Inglaterra, 2010)
Por Dimas Tadeu
A ideia de transformar Jacques Tati em desenho animado é tão boa e coerente que fica difícil imaginar que não tenha sido feita com mais frequência. E no estilo de Sylvain Chomet, com seus traços de esboço, cheio de sutilezas e ar retrô, a ideia ganha ainda mais força. Só por isso, seu O Mágico já merecia a indicação ao Oscar de melhor animação. No entanto, tem muito mais: sem diálogos, o filme conta uma história surpreendente e melancólica, sobre um ilusionista que, por amar uma garotinha (e num sentido bem mais amplo do que o termo sugere, algo quase paternal), obedece a todos os seus caprichos, o que começa a consumi-lo, material e espiritualmente. Mais do que uma animação divertida, o longa se transforma numa fábula moral pintada em belos tons pastéis, cujo maior truque é fazer pensar sobre a tragédia do amor e das relações humanas, sem perder o bom humor.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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