11° FOR RAINBOW (9 a 14 de novembro)
A personagem do curta-metragem do cineasta Allan Ribeiro é Sara. Em meio à rotina como doméstica na Zona Sul do Rio de Janeiro, ela vai juntando as peças de sua percepção da homossexualidade da filha. Sara justifica o sentimento de indignação pela revelação da jovem quanto ao relacionamento com outra mulher com uma sinceridade comovente. Aliás, é exatamente a disposição de Sara de abrir-se à câmera que faz este filme ser tão enfático e empático. Isso porque, estamos diante de uma mulher simples, negra, que chega, durante a confissão de seus preconceitos, a dizer que incorre ocasionalmente em ofensas à própria raça. Allan captura a protagonista sempre por partes, dando justamente essa ideia da necessidade de juntar fragmentos para ter o todo, num procedimento que alude à justaposição dos planos à obtenção de um sentido cinematográfico. O carinho com o gato da casa é apenas um dos sintomas da humanidade dessa trabalhadora simples que demonstra, com sua fala convicta, uma incompreensão similar a de muitas pessoas, sobretudo as que recorrem aos dogmas religiosos como guias do viver. Não à toa o cineasta escolhe diversas passagens em que Sara menciona a prevalência da vontade de Deus, inclusive num eventual “perdão” por sua filha ser quem deseja. O filme é um bonito estudo da singularidade alheia. Exibe uma imagem ampla do preconceito a partir de suas frações, sem ímpetos de julgamento.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.