Há pessoas que torcem o nariz à simples menção da palavra remake. Afinal, para que fazer um filme que já foi feito? Que tipo de egocentrismo (e audácia!) leva uma equipe inteira a achar que a sua versão será melhor ou tão eficiente e importante quanto a original? E a produtora, busca apenas repetir os ganhos comerciais de um sucesso há muito deixado para trás? Pensado bem, remakes são apenas caça-níqueis… É claro que este pensamento é equivocado e, por mais que muitas vezes títulos sejam refeitos apenas para repetir novas – e polpudas – bilheterias, é inegável que, aqui e ali, mesmo estes resultem em obras admiráveis, se não até melhores que os seus originais. E se coubesse a alguém contra-atacar, este diria: Por que não pegar uma história tão boa e refazê-la dentro de um novo contexto? Por que não pintá-la com cores diferentes ou menos desbotadas? Não é isso que fazem com os clássicos contos de fadas, ballets, peças e músicas década após década em quase todo o tipo de mídia e expressão? Claro que em comparação com estas outras artes o cinema é muito novo, e talvez alguns possam pensar que ainda não é preciso investir na renovação de suas obras. Mas tantos ataques – e muitas vezes com razão – a essas revisões cinematográficas que, em função da estreia de Robocop, dirigido pelo brasileiro José Padilha, a equipe do Papo de Cinema se juntou para escolher alguns bons exemplares deste que é hoje em dia quase um gênero do cinema hollywoodiano, na esperança de conseguir provar que um remake não é necessariamente sinônimo de filme ruim. Concorda com as nossas escolhas? Algum ficou de fora? Talvez ache que tem filmes a mais nesta lista? Então contribua com a sua opinião deixando um comentário abaixo do nosso Top 10 de Remakes que Deram Certo.

 

Ben-Hur (1925) x Ben-Hur (1959)
A primeira produção com a história do príncipe da Judeia que acaba como escravo numa Roma pagã, tinha quase duas horas e meia de duração, em preto e branco e sem som. Tratava-se de um épico, sem dúvida, mas atualmente a tarefa mais hercúlea é conseguir assisti-lo do início ao fim com o mesmo interesse. Ainda mais porque hoje temos ao nosso alcance o verdadeiro clássico de 1959, dirigido por William Wyler e estrelado por Charlton Heston e um impressionante elenco. Vencedor de 11 Oscars – um recorde absoluto igualado apenas quarenta anos depois – e um incrível sucesso de bilheteria, este é um filme que mesmo hoje, mais de cinco décadas após o seu lançamento, continua vibrante, enérgico e eletrizante, repleto de cenas inesquecíveis. A base da trama permanece, mas o passar dos anos permitiu um amadurecimento da própria arte cinematográfica, possibilitando este verdadeiro espetáculo da sétima arte. Um tipo de trabalho que raramente se vê hoje em dia. Ao contrário de outros exemplos de refilmagens que são competentes por complementarem o original, este caso é diferente: o remake é tão superior que da primeira versão poucos lembram. E com justiça. – Por Robledo Milani

 

King Kong (1933) x King Kong (2005)
Filme seguinte de Peter Jackson logo após terminar de contabilizar todos os prêmios e bilheteria gerados a partir da trilogia O Senhor dos Anéis, King Kong, no papel, era um projeto tão ousado quanto o seu anterior. Renovar um verdadeiro clássico do cinema apostando alto na então ainda muito nova tecnologia do motion-capture? Se Gollum era uma coisa, um gorila gigante era outra bem diferente. Felizmente, o novo filme repetiu o primor técnico visto na saga do Anel, e Jackson nos entregou uma aventura divertida, hipnotizante e… delicada?! Pois sim, para um longa protagonizado por um monstro lutando contra outros monstros e destruindo tudo pelo caminho, King Kong se revela também um drama sensível (além de ainda ser uma história de amor melhor do que Crepúsculo…). Divido em três arcos muito claros, primeiro somos arrebatados pelo mistério, depois pela ação desenfreada e empolgante, só para enfim concluirmos a jornada de Ann Darrow (Naomi Watts) de forma tocante no alto do Empire State. Um filme feito com tesão, que respeita e homenageia o seu original e se faz tão importante quanto, tendo feito milhões nas bilheterias e levado três Oscars para casa. O que houve com este Peter Jackson depois disso? – Por Yuri Correa

 

O Homem que Sabia Demais (1934) x O Homem que Sabia Demais (1956)
O próprio Alfred Hitchcock afirmou: o primeiro O Homem que Sabia Demais (grande sucesso realizado em sua fase inglesa, em 1934) é trabalho de um amador de talento, enquanto seu remake americano, de 1956, é obra de um profissional. Não poderia haver verdade maior. O longa da década de 1930 é divertido, ousado em diversos aspectos, mas também falho no roteiro e, pasmem, na própria direção. Ora, Hitchcock já tinha bons anos de experiência, mas ainda não era “o mestre do suspense”. A trama é básica: um casal está de férias na Suíça com a filha pequena e encontra um espião britânico que revela um segredo a ambos. Criminosos sequestram a garota e marido e esposa devem decidir se impedem o assassinato de um político ou salvam a vida da filha. No remake, troque Suíça por Marrocos, aprofunde mais os personagens principais e acrescente um diferencial à trama e à trilha (inexistente na primeira versão): Whatever Will Be, Will Be. A música, cantarolada por Doris Day (intérprete de Josephine, a esposa do Dr. Benjamin, na pele de James Stewart) pode até parecer não ter importância em vários momentos que aparece no filme. Mas quando se chega ao clímax no Royal Albert Hall, o jogo muda, o mcguffin de Hitchcock se revela e esta nova versão de O Homem que Sabia Demais mostra toda sua genialidade. – Por Matheus Bonez

 

Infâmia (1936) x Infâmia (1961)
Pouco tempo antes de sua primeira indicação ao Oscar pelo filme Fogo de Outono (1936), William Wyler sofreu com a opinião pública ao tentar levar aos cinemas a peça teatral The Children’s Hour, escrita por Lillian Hellman em 1934. Por conta do conteúdo do enredo, que abordava superficialmente a suposta relação amorosa entre duas mulheres, Wyler e Hellman alteraram juntos o argumento principal do roteiro para apresentar como protagonistas três professores acusados injustamente de formarem um triângulo amoroso (heterossexual, obviamente), que resultou no drama Infâmia (These Three, 1936). Evidentemente insatisfeito por sua omissão, quase 30 anos mais tarde Wyler retomou o material numa versão mais fiel para o texto de Hellman, desta vez aliado ao talento de Audrey Hepburn, Shirley MacLaine e James Garner, no excepcional Infâmia (The Children’s Hour, 1961). Indicado à cinco Oscars, a delicada adaptação de Wyler sublinha todas as nuances e complexidades de uma história em que o preconceito e a intolerância, somados à maleficência de falsos rumores, atingem consequências desoladoras. No ano em que Hepburn foi indicada ao Oscar por Bonequinha de Luxo (1961), as protagonistas de Infâmia acabaram esquecidas pela premiação, porém suas performances são inesquecíveis em suas filmografias, assim como este belíssimo trabalho de Wyler. – Por Conrado Heoli

 

Onze Homens e um Segredo (1960) x Onze Homens e um Segredo (2001)
Na década de 60, Rat Pack era o sinônimo de cool. Os amigos Frank Sinatra, Dean Martin, Sammy Davis Jr., Joey Bishop e Peter Lawford eram membros deste grupo, estrelando filmes populares como Onze Homens e um Segredo e Os Três Sargentos (1963). Quarenta anos depois, uma outra cambada de amigos, que também tinham o charme e o ar cool como principal arma, entregavam uma regravação melhor que o original, intitulada igualmente Onze Homens e um Segredo (2001) – no original, Ocean’s Eleven. No lugar de Sinatra, George Clooney interpreta Danny Ocean, o cabeça do bando que pretende roubar três grandes cassinos de Las Vegas em apenas uma noite, em um plano intrincado, que contará com a ajuda de outros dez homens. No elenco, Brad Pitt, Matt Damon, Bernie Mac, Elliot Gould são alguns destes amigos, que capitaneados pelo cineasta Steven Soderbergh, divertem com seus diálogos rápidos, artimanhas estapafúrdias e cinismo pontual. Como bônus, Julia Roberts faz a mulher que serve de estopim para toda a ação – mesmo que os amigos de Ocean não saibam disso de antemão. Foram produzidas duas continuações, mantendo basicamente o mesmo elenco, mas nenhuma com o mesmo brilho deste remake. – Por Rodrigo de Oliveira

 

Bravura Indômita (1969) x Bravura Indômita (2010)
O livro Bravura Indômita, de Charles Portis, foi adaptado para o cinema pela primeira vez em 1969, em um filme dirigido por Henry Hathaway e com um elenco liderado pelo grande John Wayne no papel de Rooster Cogburn. A produção é até famosa por ter rendido a Wayne seu único Oscar de Melhor Ator, numa maneira que a Academia encontrou para coroar sua belíssima carreira. Em 2010, os excepcionais irmãos Joel e Ethan Coen lançaram uma refilmagem da história de Portis. E que brilhante trabalho fizeram. Trazendo um grande elenco encabeçado por Jeff Bridges como Rooster Cogburn, o filme é um faroeste que faz jus aos melhores do gênero, desenvolvendo seus personagens de forma exemplar, tornando sua história arrebatadora do início ao fim e tendo alguns toques de humor típicos da filmografia dos Coen que funcionam muito bem dentro da narrativa. Sem falar na maravilhosa fotografia de Roger Deakins, que ajuda a fazer com que várias cenas sejam emblemáticas, como a tensa cavalgada à noite no terceiro ato. Bravura Indômita foi indicado em dez categorias no Oscar 2011, mas é uma pena que tenha saído de mãos abanando. – Por Thomas Boeira

 

O Grande Gatsby (1974) x O Grande Gatsby (2013)
Admito: o remake de O Grande Gatsby lançado em 2013 não é superior ao seu original, de 1974. Porém – é importante ressaltar – também não é inferior. Apesar de que o filme dirigido por Jack Clayton seja extremamente fidedigno a obra de F. Scott Fitzgerald, ao apresentar assertivamente a superficialidade das relações afetivas e a obscuridade dos desejos e anseios da aristocracia nova-iorquina da década de 1920, ele peca – se comparado a nova produção comandada por Baz Luhrmann (ao qual eu sou fã, não importa o que digam!) – em um dos pontos fundamentais do livro: o protagonista. Robert Redford é Robert Redford – não é necessário falar muito a seu respeito. Entretanto Leonardo DiCaprio consegue ser mais efetivo ao transpor toda a complexidade do personagem. Principalmente por um detalhe: Leo cria no expectador um gigantesco interesse por quem é esse tal Gatsby. Assistindo ao filme, o pensamento que surge é: “eu gostaria de ser amigo desse sujeito“. E quem conhece o livro sabe que isso é o estopim que move o herói e tudo que ele representa através da trama: o anseio por aceitação. No caso, o de ser aceito pelo círculo social ao qual sua amada Daisy faz parte. – Por Eduardo Dorneles

 

Violência Gratuita (1997) x Violência Gratuita (2007)
Em geral, não parece haver uma necessidade além da comercial para se fazer um remake. Se a obra original teve êxito em transmitir sua mensagem, então ela ali se esgota. Se não teve, refazê-la é repetir um erro. Sem contar que o cinema não vive uma crise criativa. De qualquer forma, há exceções curiosas, como é o caso de Violência Gratuita, de Michael Haneke. Originalmente produzido em alemão, o filme é uma brilhante obra sobre a violência e o entretenimento que jamais havia saído dos circuitos alternativos. Ciente da barreira cultural que o público americano tem com legendas, Naomi Watts apadrinhou como produtora o projeto maluco de refazer o filme em inglês em 2007. O elenco foi trocado, mas a imensa maioria dos planos e até alguns objetos de cena (tacos de golfe, figurinos e papeis de parede) foram aproveitados. Trata-se de um remake, no sentido de refação, literal. Graças a ele, no entanto, o público americano conheceu a obra, mesmo que ela não tenha sido um esmagador sucesso, e ainda a exportou para diversos países, que puderam não apenas assistir ao filme, mas ter seu primeiro contato com Haneke. Algo que, sem dúvida, valeu a pena. – Por Dimas Tadeu

 

Conflitos Internos (2002) x Os Infiltrados (2006)
Os Infiltrados é um filmaço de Martin Scorsese, aliás, dos melhores que o ítalo-americano fez nos últimos 10 anos, isso segundo minha opinião. O jogo arriscado de ambos os lados, o do bandido fazendo-se parecer policial e o do homem da lei disfarçado de marginal, é pontuado por uma ferocidade anabolizada pela sensação de perigo imediato, características, aliás, que nos acostumamos a ver associadas às tramas de Scorsese. O filme é uma exceção ao quase princípio de qualquer remake: ser inferior ao original. Conflitos Internos, longa no qual se baseia, ganha em agilidade (tem aproximadamente 50 minutos a menos), possui atmosfera mais seca, dá menos importância aos envolvimentos amorosos tão imprescindíveis na refilmagem, e acaba de maneira ligeiramente diferente. Mas a despeito da novidade, o original fica aquém de sua versão americana, justo por que ela é dirigida por alguém como Scorsese, cineasta que sabe conferir uma dimensão essencialmente trágica aos personagens, por mais inatingíveis que eles possam parecer num primeiro momento. Os Infiltrados é mais violento, tem uma encenação mais forte, em suma, é mais cinematográfico. – Por Marcelo Müller

 

Crime de Amor (2010) x Passion (2012)
Não que Crime de Amor seja um péssimo filme, muito pelo contrário. Com belas atuações e ritmo, o filme francês é um bom título. Mas nas mãos de Brian DePalma, virou Passion e o cineasta, que não dá ponto sem nó, trouxe em sua adaptação uma série de abordagens a respeito de poder, sexo e voyeurismo, já muito bem explorados em seus filmes anteriores e aqui, levando a produção francesa a um novo patamar. Com as atuações das exuberantes Rachel McAdams e Noomi Rapace, DePalma constrói uma produção com uma plasticidade fria, que se difere muito da versão francesa, que é muito mais naturalista, mas que aqui se coloca a favor de mostrar como, entre uma arquitetura bela e moderna, comandada por pessoas ricas e muito bem vestidas, podem esconder uma monstruosidade que desperta o pior. – Por Renato Cabral

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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