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O mar é uma força da natureza. A beleza da calmaria contrasta com a violência das ondas revoltosas. Cruzar as águas pode ser idílico, mas também aterrorizante. No mar, mesmo o mais acostumado e calejado dos marinheiros está sujeito a ser surpreendido por uma agitação sem escapatória. O cinema já se valeu inúmeras vezes do potencial dramático desse espaço onde o homem tem sua segurança sensivelmente reduzida. O naufrágio é, assim, um dos grandes temores de quem se aventura pelo mar (e por isso o famoso filme estrelado por Tom Hanks, cujo título foi mal traduzido, não entra nesta listagem, já que o acidente é aéreo). Nesta semana chega aos cinemas No Coração do Mar (2015), filme do diretor Ron Howard no qual um navio baleeiro passa por graves apuros ao ser acossado por aquela a quem deveria caçar. Aproveitando o gancho, a equipe do Papo de Cinema escolheu dez filmes em que ocorrem naufrágios. Confira.

 

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Um Barco e Nove Destinos (Lifeboat, 1944)
Alfred Hitchcock pode ser conhecido como o mestre do suspense e também por dar vida a tramas de espionagem (007 não seria o que ele é hoje sem clássicos do diretor nas costas), mas neste filme específico sua inspiração se eleva para fazer um drama político que vai muito além do que a trama parece proporcionar. Vejamos: após ser torpedeado por nazistas, um navio é destroçado e afunda, deixando os poucos sobreviventes com a ajuda de um barquinho. Logo, o grupo descobre mais uma pessoa que não morreu: um alemão que pode estar (ou não) relacionado com os nazistas. O que se inicia a partir daí é uma discussão moral e ética sobre paranoia, inimigos de estado e, acima de tudo, a natureza do ser humano e a luta pela sobrevivência. Afinal, o que fazer quando o suposto inimigo está ao seu lado? Longe de ser um longa popular do cineasta, mesmo com as indicações ao Oscar (Direção, Roteiro Original e Fotografia), é sua produção mais distante do gênero que tornou sua fama, mas nem por isso menos rigorosa na qualidade técnica e psicológica. Algo que o mestre sempre entregou com alto nível. – por Matheus Bonez

 

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O Destino de Poseidon (The Poseidon Adventure, 1972)
Baseado no livro de Paul Gallico, lançado três anos antes, este filme dirigido por Ronald Neame conta a história de um transatlântico de luxo, o S.S. Poseidon, insolitamente virado de cabeça para baixo por uma onda gigantesca em plena véspera de Ano Novo. Um grupo de sobreviventes, liderados pelo reverendo interpretado por Gene Hackman, tenta lidar de todas as maneiras com a situação, a fim de escapar com vida, mesmo contra as condições extremamente desfavoráveis que o transcorrer do tempo trata de agravar ainda mais. Vencedor de dois Oscar, um especial, pelos efeitos visuais, e outro, na categoria Melhor Canção Original (The Morning After), além de ter concorrido a mais sete estatuetas, Melhor Atriz Coadjuvante (Shelley Winters), Melhor Fotografia, Melhor Direção de Arte, Melhor Figurino, Melhor Edição, Melhor Som e Melhor Trilha Sonora, a realização de Neame se tornou referência quando o assunto é naufrágio cinematográfico. Contando com a trilha sonora do premiado John Williams, o filme mostra a fragilidade insuspeita da embarcação que ostenta o pomposo (e simbólico) nome da divindade grega reinante nos mares e oceanos quando confrontada pela violência da natureza. – por Marcelo Müller

 

Over the course of three consecutive evenings, the Academy of Motion Picture Arts and Sciences will trace the history and evolution of motion picture formats from the silent era through the current digital age in ÒBehind the Motion Picture Canvas: Film Formats through the 21st Century,Ó beginning on Wednesday, September 9, at 8 p.m. at the Samuel Goldwyn Theater in Beverly Hills. The presentation will continue with screenings of ÒManhattanÓ (1979) on Thursday, September 10 and ÒThe Black StallionÓ (1979) on Friday, September 11. Both screenings will begin at 8 p.m. Academy Science and Technology Council member Rob Hummel will host each evening. Pictured: Kelly Reno rides the title character in a scene from THE BLACK STALLION, 1979.

O Corcel Negro (The Black Stallion, 1979)
O menino Alec Ramsey (Kelly Reno) fica imediatamente fascinado pelo cavalo árabe também a bordo do navio que margeia a costa africana. Após o trágico afundamento da embarcação, ele se vê numa ilha deserta, sem o pai com quem viajava, na companhia apenas do animal por quem rapidamente se afeiçoa. Entre eles surge uma amizade instantânea, baseada na ajuda mútua e no apoio que um dá para o outro. O filme de Carroll Ballard foi exibido à exaustão na Sessão da Tarde nos anos 1990, é um típico exemplar “para toda a família”, que aposta suas fichas na construção da amizade entre o protagonista e seu coadjuvante equino. Eles não ficam ilhados por muito tempo, já que são logo resgatados, inclusive passando a morar juntos. De qualquer maneira, o naufrágio se apresenta como o evento calamitoso responsável pela criação e a posterior solidificação dos laços entre o menino e o corcel. A força desse vínculo amplifica o desespero do personagem mirim quando seu amigo foge assustado, sendo reencontrado mais tarde, são e salvo, sob os cuidados do treinador que volta à ativa para lapidar um talento por ele considerado raro entre os nascidos para correr. – por Marcelo Müller

 

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Titanic (Titanic, 1997)
Esta é, sem sombra de dúvidas, a história de naufrágio mais famosa do cinema. Os números estão aí para provar. Maior bilheteria de todos os tempos – até a chegada dos azulões do Avatar, em 2012 – com impressionantes US$ 2,1 bilhões, o longa-metragem da tragédia do navio “inaufragável” comandado por James Cameron se mostrou um chamariz consistente de público. Claro que o drama daquelas pessoas que viajavam no Titanic naquele fatídico episódio chamava a atenção dos espectadores. Mas existem dois motivos principais para a busca tão intensa deste filme à época. Primeiro, os efeitos especiais de primeira, que trouxeram de volta o magnífico navio em toda sua glória e que fizeram das cenas do naufrágio um verdadeiro show de horrores. Em segundo, a história de amor de Jack (Leonardo Di Caprio) e Rose (Kate Winslet). Clássico conto da dama e do vagabundo, temos no filme um amor impossível que nasce, floresce e (não) morre durante aquele curto período a bordo do Titanic. Esta mistura coesa de cinema catástrofe com romance decretou o sucesso desta empreitada de James Cameron, que recebeu seu primeiro (e até agora) único Oscar de Melhor Diretor. Um dos onze vencidos pelo filme na cerimônia da Academia naquele ano de 1998. – por Rodrigo de Oliveira

 

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Seis Dias, Sete Noites (Six Days Seven Nights, 1998)
Uma jovem jornalista da cidade grande decide passar uma semana em uma ilha tropical com o namorado. Ambiciosa, durante sua estadia ela aceita cobrir uma história em uma ilha vizinha, mas, para isso, precisa achar quem a leve até lá. É quando conhece Quinn (Harrison Ford), piloto beberrão e mal humorado que, apesar de tudo, não pode recusar a oferta da moça. Entretanto, todo o acordo entre eles vai pelo ralo quando o avião cai em uma ilha menor, completamente deserta, e os dois são obrigados a sobreviver juntos. Dirigido por Ivan Reitman, conquista facilmente pelo choque de personalidades de suas duas figuras centrais, trazendo Ford apropriadamente carrancudo e sarcástico contra a personagem histérica de Anne Heche. Os dois acabam, é claro, vivendo uma aventura/romance enquanto tentam descobrir, com alguma diversão, maneiras de saírem dali. – por Yuri Correa

 

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Mar Aberto (Open Water, 2003)
Não é bem um naufrágio o que acontece no filme escrito e dirigido por Chris Kentis. Porém, a sensação vivida pelos personagens e experimentada pelos espectadores é quase a mesma. Afinal, os protagonistas Susan e Daniel são simplesmente abandonados em alto mar – e, pior, sem bote de salva-vidas nenhum para ajudá-los. Ao participarem de um grupo de mergulhadores profissionais, após um dia de exercícios e explorações, os dois são os últimos a subir à superfície – e, quando tomam tal atitude, descobrem que o resto da turma foi embora, deixando-os para trás. Não se trata de uma maldade ou de algo mais polêmico: eles simplesmente foram esquecidos! Baseado na história real de Tom e Eileen Lonergan, o filme é ainda mais eficiente por ter sido inteiramente filmado sem o uso de qualquer tipo de efeitos especiais – ou seja, os atores Blanchard Ryan e Daniel Travis estavam, de fato, em pelo oceano, e pior: cercados por tubarões reais! Claro que os animais eram alimentados constantemente para não representassem um perigo real… mas e se algo inusitado acontecesse? É justamente o que o espectador ficar o tempo todo se perguntando, na torcida por um final feliz que dificilmente irá acontecer… – por Robledo Milani

 

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Madagascar (Madagascar, 2005)
Eles se remexem muito. E estão com tudo em cima, como cantam animadamente os personagens desta frenética animação dos estúdios Dreamworks. São três filmes na franquia e um spin off estrelado pelos Pinguins. Tudo começou em 2005, com o primeiro longa, dirigido por Eric Darnell e Tom McGrath, que colocava os animais do zoológico de Nova York em viagem de retorno à África, sua terra natal. O problema é que o trajeto não é dos mais seguros e o leão Alex (com voz de Ben Stiller), a zebra Marty (Chris Rock), a hipopótamo Glória (Jada Pinkett Smith) e o girafa Melman (David Schwimmer) acabam náufragos em Madagascar. Lá, eles entrarão em contato com o endiabrado rei Julien (Sacha Baron Cohen) e, passo a passo, deixarão seu passado urbano para trás, abraçando suas raízes. Com bom elenco de vozes e piadas que servem tanto para a criançada quanto para os adultos, o longa-metragem é um exemplar clássico do que de melhor a Dreamworks faz em matéria de animações. O sucesso do primeiro deu origem aos demais filmes – e pode render uma quarta parte em um futuro próximo. – por Rodrigo de Oliveira

 

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Sobrevivente (Djúpið, 2012)
Durante o inverno de 1984, um pequeno barco pesqueiro naufraga próximo à costa da Islândia. De todos os tripulantes, apenas Gulli (o ótimo Ólafur Darri Ólafsson) consegue sobreviver, nadando por mais de seis horas nas gélidas águas do Atlântico. De volta ao lar, Gulli irá enfrentar a dor da perda de seus companheiros, enquanto se torna objeto de estudo para cientistas locais, que buscam respostas para o feito inacreditável realizado pelo pescador. O cineasta islandês Baltasar Kormákur, de carreira dividida entre Hollywood e sua terra natal, realiza aqui o seu melhor trabalho, conseguindo balancear com eficácia a urgência da trama de luta pela sobrevivência e a sensibilidade de um drama mais intimista. A primeira parte do longa se dedica a narrar o naufrágio, empregando um tom bastante realista, sem fazer uso de grandes pirotecnias, e que contribui para transmitir o impacto da tragédia. Já na segunda parte, o foco é direcionado para os sentimentos de culpa e inadequação de Gulli, que não compreende como uma pessoa tão comum – solteiro, acima do peso, pouco instruído – pode ter sobrevivido, enquanto seus amigos morreram deixando esposas e filhos. Um filme envolvente e que faz jus à intrigante história real na qual é baseado. – por Leonardo Ribeiro

 

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As Aventuras de Pi (Life of Pi, 2012)
Richard Parker é um nome difícil de esquecer após a projeção deste filme. O tigre de bengala não é apenas o coração da história, mas toda a representação do que Pi sente e de como ele vê o mundo. Após perder toda a família depois do naufrágio de um navio, o protagonista é o único sobrevivente com o animal. Será mesmo? A bordo de uma pequena canoa, ele tem que aprender a conviver com a fome, a natureza bestial da criatura, as dores físicas e emocionais, além, é claro, de como chegar vivo a um destino incerto. Muito se discute se Richard Parker realmente está com Pi em alto mar ou é tudo delírio ou bloqueio psicológico para o personagem não se sentir sozinho. Metafórico ou não, o certo é que o longa conquista pela sensibilidade com que Ang Lee conta esta história de reestruturação pessoal através de belas imagens e o uso espetacular do 3D, um dos poucos que realmente valem a pena serem assistidos no formato. Esqueça a polêmica envolvendo um possível plágio da história original. O que importa é a alma que o diretor imprime em cada tomada desta obra que revela um amor à vida bem além dos clichês aos quais estamos acostumados. – por Matheus Bonez

 

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Até o Fim (All is Lost, 2013)
No mesmo ano em que Sandra Bullock se viu tendo de lutar pela vida após perder-se no espaço em Gravidade, Robert Redford precisou fazer o mesmo em pleno alto mar neste filme, o segundo trabalho do excelente diretor J.C. Chandor. No longa, Redford interpreta um homem cujo iate colide com um contêiner no Oceano Índico, o que dá início a uma série de problemas que ele precisa resolver para sobreviver. Focando exclusivamente nesse sujeito (seu nome nunca é revelado ao longo da projeção) e utilizando o mínimo de diálogos possível, Chandor cria um filme que pode ser simples em conceito, mas que se mostra narrativamente instigante e poderoso na forma como encara a luta do protagonista pela vida, sendo que ficamos sem saber muita coisa a respeito dele. Somado a isso, Robert Redford, um cara que dispensa apresentações, ainda tem uma atuação que pode ser considerada das melhores de sua já riquíssima carreira, provando sua capacidade de segurar sozinho o peso da narrativa e retratando com propriedade a exaustão e os esforços de seu personagem para se salvar. Um trabalho que merecia ter sido mais reconhecido nas premiações. – por Thomas Boeira

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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