Conhecido como o quinquagésimo estado, o Havaí não só é raramente explorado por grandes produções de Hollywood, como, quando isso acontece, é visto como um lugar exótico e à espera de ser desbravado. A dança hula-hula, os colares de flores e as praias paradisíacas compõem o imaginário de muita gente, mas como deve ser para quem, de fato, vive neste arquipélago de ilhas no meio do Oceano Pacífico? Com a estreia do romântico Sob o Mesmo Céu – cujo título original é Aloha, ou seja, a expressão típica empregada como saudação ou em despedidas – decidimos vasculhar nossas memórias e empreender uma grande pesquisa para encontrar os dez melhores filmes cujas tramas se passam nesse destino. E entre clássicos inesquecíveis e produções bem mais modernas, com certeza o Havaí que aqui encontramos está longe do clichê mais convencional. Confira!

 

A um Passo da Eternidade (From Here to Eternity, 1953)
Melodrama de Fred Zinnemann baseado no romance homônimo de James Jones, narra a turbulenta história de três soldados, interpretados por Burt Lancaster, Montgomery Clift e Frank Sinatra, e seus dilemas pessoais e morais nos meses que antecederam o ataque da marinha japonesa à base militar norte-americana de Pearl Harbor, no Havaí. Mesmo com tal premissa, o filme permanece eternizado pela passional sequência na qual o sargento interpretado por Lancaster consuma o caso que mantém com a mulher de seu comandante – personagem icônica e magistral de Deborah Kerr. O casal de amantes percorre a paradisíaca praia de Halona Cove, em Oahu, numa coreografia romântica repetida por tantos apaixonados, que idealizam as areias e o infinito mar como cenários perfeitos para compartilharem seu amor. Ainda assim, o drama vencedor de oito Oscars (e indicado a outros cinco) tem seu foco principal na base militar que concentra seus protagonistas, com destaque para o desempenho marcante e versátil de Clift e também para o charme de Sinatra. Conduzido sem assinatura de Zimmermann, beira o histerismo em alguns momentos, porém encanta em sua totalidade como um espetáculo fluente entre o emocional e o épico. – por Conrado Heoli

 

Feitiço Havaiano (Blue Hawaii, 1961)
Elvis Presley foi um astro sem comparação. Seu sucesso na música, no entanto, atingiu um nível de excelência que ele nunca encontrou em suas aventuras cinematográficas. Essas, na grande maioria das vezes, se resumiam a apenas veículos que exploravam seu estrelato, buscando um público ainda maior de fãs. Foram poucos os filmes realmente memoráveis que estrelou, e é muito provável que este seja um deles. A história não se arriscava muito, e buscava em elementos da própria trajetória de Presley para aumentar a identificação com os espectadores. Afinal, o protagonista vivido pelo astro é um jovem recém saído do serviço militar – exatamente como ele. Uma vez livre do compromisso com a nação, tudo que quer é voltar para o seu Havaí natal para retomar seus três maiores prazeres: surfar, reencontrar os amigos de praia e se divertir com as garotas. E entre um e outro conflito familiar, tem-se a oportunidade de conferir Elvis no auge de sua fama fazendo o que sabia melhor: cantando e dançando (tanto que a trilha sonora do filme chegou a concorreu ao Grammy, além de ter permanecido 20 semanas consecutivas no topo da Billboard!). – por Robledo Milani

 

Havaí (Hawaii, 1966)
Atualmente um pouco esquecido, essa foi a primeira grande produção de Hollywood a usar o arquipélago havaiano como cenário de sua trama. Dirigido por George Roy Hill – ainda antes de sucessos como Butch Cassidy (1969) e Golpe de Mestre (1973) – este longa reuniu um verdadeiro time de astros– Julie Andrews, Max von Sydow, Gene Hackman e Richard Harris eram os protagonistas – para contar a história de um rígido missionário e sua bela esposa que rumam ao reino do Havaí para converter os nativos à palavra cristã. Claro que nem tudo será tão simples, e a nova cultura logo entrará em conflito com os costumes e tradições locais, gerando uma série de conflitos. Orçado em exorbitantes US$ 15 milhões – um recorde para a época – recebeu sete indicações ao Oscar, entre elas a Efeitos Especiais e Fotografia, e ganhou dois Globos de Ouro, de Melhor Trilha Sonora e Melhor Atriz Coadjuvante, para Jocelyne LaGarde – uma nativa da região que fez este único trabalho no cinema. Um épico com tudo que a expressão tem direito, e que demonstra muito bem, quase meio século após o seu lançamento, como esse destino quase desconhecido pela maioria dos americanos era visto com exotismo e muita fantasia. – por Robledo Milani

 

Alegria de Verão (The Endless Summer, 1966)
Qual amante do surf nunca desejou estar no topo da onda perfeita? Pois foi essa a motivação que levou um grupo de amigos, acompanhados do cineasta – e surfista – Bruce Brown a empreender essa jornada de mais de dez anos visitando verdadeiros paraísos terrestres, praias absolutamente hipnotizantes que, de acordo com os praticantes do esporte, reuniriam todas as condições necessárias para viverem experiências inesquecíveis. O giro começa na África, passa pela Austrália e Nova Zelândia, vai do Taiti à Califórnia, mas é mesmo no Havaí onde encontram as maiores e mais impressionantes ondas. Brown havia realizado vários documentários sobre o mesmo tema antes, e entregou até uma continuação anos mais tarde – The Endless Summer 2 (1994) – mas nenhum destes outros registros chegou perto de captar com a mesma sensibilidade toda a ingenuidade, o otimismo e a verdadeira paixão percebida nestas cenas aqui reunidas. Um filme imprescindível para qualquer fã, e também dono de surpresas cativantes aos aventureiros de primeira viagem. Afinal, o verão sem fim pode estar lá fora, mas antes é preciso estar dentro de cada um. – por Robledo Milani

 

Tora! Tora! Tora! (1970)
Realizado por uma parceria entre o Japão e os Estados Unidos, conta o episódio de Pearl Harbor, quando os japoneses investiram contra a famosa base estadunidense no Havaí. O ataque mudou a história, visto que até então existia uma dúvida quanto a intensidade da participação do país americano no confronto. Com os dois países envolvidos no projeto, existe uma dose de imparcialidade na trama, sem mocinhos ou bandidos. A abordagem se foca mais nas diferenças entre os povos e na evolução do conflito, ao invés de investir em dramas pessoais. Conta ainda com ótimas cenas de ação, excelentes efeitos visuais, que inclusive lhe garantiram um Oscar na categoria, e boa direção de arte, edição e som. Por fim, outro ponto interessante envolve o lendário Akira Kurosawa. O longa tem três diretores: Richard Fleischer, Kinji Fukasaku e Toshio Masuda. A produção japonesa, inicialmente, seria comandada por Kurosawa, convencido ao saber que David Lean seria responsável pela parte estadunidense. Este, no entanto, nunca esteve envolvido e, quando o nipônico descobriu, se demitiu – e acabou tendo razão em sair. Lean provavelmente teria feito um trabalho melhor que Fleischer. Afinal, a parte japonesa é bem superior a ocidental. – por Gabriel Pazini

 

Lilo & Stitch (2002)
A amizade de uma menina orfã e um experimento alienígena que só pensa em destruir tudo que vê pela frente foi uma aposta inusitada da Disney quando o estúdio estava em baixa. Mas a trama maluca com uma boa dose de companheirismo entre personalidades tão diferentes acabou se tornando um sucesso cultuado por fãs de animação. O cenário havaiano não poderia ser mais exótico para Stitch, aquela bizarra criatura que parece um coala misturado com qualquer outro bicho azul que se possa imaginar. Selvagem ao extremo, chega a ser paradoxal que não saiba lidar com a areia, o verde e o mar à sua volta. Quem consegue colocar um pouco de sensatez naquela cabecinha é Lilo, a garota criada pela irmã mais velha. É óbvio que entre os dois vai nascer uma amizade incompreensível e, ao mesmo tempo, verdadeira e sem cobranças, rendendo situações emocionantes e engraçadas para ninguém colocar defeito. Aliás, tem sim: é pouco tempo. Quando o filme acaba, a gente quer mais Lilo, mais Stitch e mais dancinhas de hula hula. Quando os produtores conseguem deixar o público com esse gostinho de mais e mais, pode ter certeza que a receita deu certo. – por Matheus Bonez

 

Como se fosse a Primeira Vez (50 First Dates, 2004)
A maioria das comédias estreladas por Adam Sandler constrange e irrita, principalmente aquelas que ele tem feito nos últimos anos, que não se importam de cuspir na cara do espectador. Mas se há um filme que podemos considerar adorável e divertido em sua filmografia, aqui o temos. Segunda parceria entre Sandler e Drew Barrymore, coloca o ator no papel de Henry Roth, um veterinário mulherengo do Havaí que se apaixona pela bela Lucy Whitmore (Barrymore). As coisas correm perfeitamente entre eles logo de cara, e provavelmente continuariam assim caso ela não tivesse Síndrome de Goldfield, que a faz perder a memória recente ao final do dia, obrigando Henry a reconquistá-la a cada nova manhã. A dupla principal mostra grande carisma em seus respectivos papeis, desenvolvendo uma bela dinâmica, enquanto o roteiro cria gags eficientes na maior parte do tempo. Claro que ocasionalmente vemos os sinais típicos das comédias de Sandler (um leão-marinho vomitando e a presença de Rob Schneider interpretando o melhor amigo de Henry são alguns exemplos), mas estes surpreendentemente não incomodam muito diante da simpatia do longa. – por Thomas Boeira

 

Soul Surfer: Coragem de Viver (Soul Surfer, 2011)
Um dos destinos mais procurados do mundo para os amantes do surf, o Havaí é cenário deste drama baseado em fatos reais. Bethany Hamilton tinha apenas 13 anos de idade e já era uma esportista campeã, responsável por manobras surpreendentes em cima de uma prancha. Nascida e criada na beira da praia, fez da liberdade do ambiente e da criação que recebeu dos pais – interpretados por Dennis Quaid e Helen Hunt – o seu meio de vida. Por isso, quando a tragédia lhe abateu, ela não deixou se derrubar. O que lhe aconteceu foi um ataque de tubarão, que acabou lhe tirando o braço esquerdo. Sua dedicação e entrega ao esporte e ao mar eram maiores do que essa adversidade, e foram fundamentais para que ela vencesse o trauma e voltasse para a água. A jovem AnnaSophia Robb (A Fantástica Fábrica de Chocolate, 2005) defende com dedicação o papel da protagonista, mostrando como somos, de fato, frutos do meio onde vivemos – no caso dela, o Havaí estava não apenas em uma paixão de lazer, mas, acima de tudo, em sua própria filosofia de vida. – por Robledo Milani

 

Os Descendentes (The Descendants, 2011)
Estrelado por George Clooney, este longa-metragem é exatamente o que podemos esperar de Alexander Payne. O diretor de tem se especializado em dramas de tons cômicos, sempre com um protagonista perdido em si mesmo. O roteiro é baseado no livro homônimo escrito pela havaiana Kaui Hart Hemmings e é ambientado no paradisíaco Havaí. Matt King (Clooney) vê sua vida mudar quando sua mulher sofre um acidente de barco e, em coma, o deixa responsável pelas suas duas filhas. Ele nunca foi um homem de família, sempre colocando o trabalho à frente de tudo. O momento não poderia ser pior. Além de ter de resolver o que fazer com terras deixadas de herança, ele ainda descobre que sua mulher possuía um amante. O que fazer? Quem já conhece o trabalho de Payne pode prever que pouca coisa acontecerá de fato. As ações são mais internas do que externas, com uma notável preocupação com o desenvolvimento de personagens. Aproveitando bem as paisagens do Havaí e a cultura local (note que a trilha é toda composta por músicos havaianos legítimos), este é o típico pequeno grande filme. Pequeno no escopo, grande nas temáticas filosóficas. – por Rodrigo de Oliveira

 

Grandes Olhos (Big Eyes, 2014)
A protagonista do mais recente filme de Tim Burton é uma artista recém-separada, ainda fragilizada pela dureza de sustentar sozinha a filha (financeira e emocionalmente), que acaba caindo na lábia de um malandro, pois seduzida pela possibilidade de construir com ele uma nova família. Os dias de felicidade não duram muito, uma vez que Walter (Christoph Waltz), o novo companheiro, “rouba” a autoria de suas famosas pinturas de crianças com grandes olhos, fazendo fortuna e se estabelecendo no mercado como nome proeminente. Depois de muitos anos produzindo no anonimato, ela resolve se armar da mesma coragem que a impulsionou para fora do primeiro relacionamento, a fim de escapar novamente de uma furada. É, então, que ela foge para o Havaí, local onde inicia não apenas decide recomeçar, mas dá início à batalha judicial que vai lhe devolver a propriedade intelectual sobre suas criações que corriam o mundo, estampando desde cartões postais até murais na ONU. Embora aqui o Havaí não seja um cenário muito significativo, interessante notar o uso da cor, que torna ainda mais luminoso o solar arquipélago, destino turístico cobiçado entre muitos que visitam os EUA, local onde Margaret (Amy Adams), de fato, finalmente pode começar vida nova. – por Marcelo Müller

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