Bond, James Bond. O nome, por si só, já é uma lenda. Mas seria ele tão popular se não fosse igualmente competente em suas tarefas? Ou se não fosse cheio de estilo, charme e carisma? Pois os agentes secretos aqui listados desafiam todos estes pré-requisitos: são atrapalhados, desordenados, bagunceiros, antiquados, inexperientes. Ou seja, tudo que não se espera de um profissional que deve ser capaz de feitos heroicos – afinal, eles são as últimas esperanças para salvar a pátria de vilões inescrupulosos e vingativos. Aproveitando a estreia de A Espiã que Sabia de Menos (2015), fomos investigar quais os dez melhores espiões que investem na comicidade para conquistar o público e, assim, cumprirem suas missões. Confira!

 

Top Secret: Super Confidencial (Top Secret!, 1984)
O trio ZAZ (David Zucker, Jim Abrahams e Jerry Zucker) surgiu na segunda metade da década de 1970 deixando claro o que marcaria sua filmografia: paródias. No início de suas carreiras eles faziam isso admiravelmente, o que rendeu comédias memoráveis como essa aqui. Primeira empreitada dos cineastas após o genial Apertem os Cintos… O Piloto Sumiu (1980), este filme é uma grande brincadeira com produções de espionagem. Val Kilmer (na época um astro em ascensão) interpreta Nick Rivers, uma estrela do rock que vai à Alemanha fazer uma apresentação, mas acaba se envolvendo com a bela Hillary Flammond (Lucy Gutteridge), membro da resistência francesa, o que o coloca em uma missão para resgatar o pai dela, cientista que foi preso pelos alemães. Os diretores não permitem que sua narrativa fique um minuto sem piadas, brincando eficientemente com os clichês de seus “alvos” e, obviamente, não temendo se entregar ao ridículo desde que este seja engraçado. Tem-se, então, uma produção digna da série de gargalhadas que provoca, e é uma pena que atualmente esse tipo de comédia não seja feito com a mesma inteligência vista aqui. – por Thomas Boeira

 

Gotcha! Uma Arma do Barulho (Gotcha!, 1985)
Ah, os anos 1980. Até as bobagens do cinema norte-americano pareciam melhores que as de agora. Neste caso, a trama começa mostrando adolescentes numa brincadeira de espião, com armas de paintball, no campus da universidade. O risco mais sério é ficar com a roupa suja antes de ir para a aula, nada mais. Mas, eis que, numa viagem pela Europa, o protagonista vivido por Anthony Edwards (o mesmo que ficou famoso mais tarde pelo seriado Plantão Médico, 1994-2009) acaba enredado numa trama de espionagem de verdade, na então convulsionada Berlim. E isso acontece porque ele não resistiu (e quem há de culpa-lo?) aos encantos da tchecoslovaca interpretada por Linda Fiorentino. Mesmo que as coisas fiquem realmente sérias, com ameaças às vidas do protagonista e da morena que o acompanha, o enredo não disfarça seu caráter semi-paródico, como se fosse um exemplar da franquia James Bond, só que interpretado por um agente saído das fraldas direto para o campo de trabalho, sem a licença para matar e a expertise que faz de 007 praticamente infalível. Perigo e boas doses de humor garantem a diversão, mesmo após tantas revisões, sobretudo nas sessões da tarde de outrora. – por Marcelo Müller

 

Austin Powers: 000 Um Agente Nada Discreto (Austin Powers: International Man of Mistery, 1997)
Com o passar do tempo, a franquia 007 passou a fazer piada de si mesma, principalmente com os filmes estrelados por Roger Moore, que tinham um teor mais bem humorado. Tomando inspiração neste tom galhofeiro do agente secreto e elevando as piadas à enésima potência, Mike Myers criou um de seus personagens mais divertidos em 1997, no filme dirigido por Jay Roach. Ímã de mulheres, Austin Powers é o espião mais competente e com os dentes mais podres a serviço da Rainha na década de 1960. Ele se oferece para se manter congelado à espera do retorno de seu arquiinimigo, o temível Dr. Evil, que escapou e prometeu vingança. Descongelados em 1997, tanto Evil quanto Powers terão de se acostumar com a estranha realidade que lhes é presente. A trama é um fiapo, na verdade. O mais divertido é ver Myers como o espião que não consegue pensar em nada além de sexo, sempre com uma gíria sessentista na ponta da língua. Talvez ainda mais bacana seja vê-lo como Dr. Evil, mimetizando dois grandes nêmesis de James Bond, Dr. No e Blofeld. Rendeu duas continuações e existe possibilidade de um quarto exemplar da série, prometido há anos. – por Rodrigo de Oliveira

 

As Panteras (Charlie’s Angels, 2000)
O seriado homônimo foi um sucesso nos anos 1970 pelo seu tom leve e a sensualidade do trio de protagonistas. Quase três décadas depois, o remake para os cinemas trazia Cameron Diaz, Drew Barrymore e Lucy Liu para repetir nas telonas o feito da TV. E não é que deu certo? Com o timing cômico perfeito, as diferentes personalidades das garotas (a dócil e divertida, a bad girl e a nerd de Q.I. elevado) foram o maior destaque. A história? Nem importava muito. O interessante era ver os disfarces mais engraçados e as investigações mais malucas tirando sarro de outros espiões, inclusive do eterno 007. Ainda com um inspirado Bill Murray como o subchefe do trio e a trilha que remontava à época da série original, conquistou o público em todas as frentes. Uma pena que sua sequência (inferior, mas ainda divertida) não tenha feito o mesmo sucesso. – por Matheus Bonez

 

O Terno de Dois Bilhões de Dólares (The Tuxedo, 2002)
Pegue uma boa porção de James Bond, adicione uma pitada da série O Homem de Seis Bilhões de Dólares (1974-1978), mexendo no ritmo das piruetas características de Jackie Chan, e você terá essa paródia dos filmes de espião. Nele, Chan, alçado anos antes à categoria de astro hollywoodiano por conta do sucesso de seus filmes junto ao público, interpreta o chofer de um figurão. Numa dessas confusões protagonizadas pelo homem errado na hora certa, ou vice-versa, ele experimenta o terno de seu patrão, uma peça ajustável que confere habilidades sobre-humanas a quem o usa. Quando se dá conta, o personagem de Chan está envolvido com o pessoal que tentou matar seu empregador, de cabeça no centro da ação, tomando partido de uma missão de espionagem na qual terá como parceira Del Blaine (Jennifer Love Hewitt), alusão clara às Bond girls. E ainda tem tudo de um filme típico de Jackie Chan, ou seja, muita correria, humor e, sobretudo, as coreografias de luta que viraram marca registrada do chinês. – por Marcelo Müller

 

Johnny English (2003)
Com a propriedade de já ter feito parte da série James Bond – sua estreia no cinema foi em 007: Nunca Mais Outra Vez (1983), o filme bastardo da franquia – Rowan Atkinson conseguiu, enfim, deixar um pouco de lado a absurda popularidade do seu personagem mais famoso – Mr. Bean, que está no ar na televisão desde 1990, além de ter gerado uma série animada e dois longas para o cinema – com este agente secreto que, como o próprio cartaz anuncia, “não conhece o medo, não conhece o perigo e não conhece absolutamente nada!”. A trama é similar a de muitos outros títulos dessa lista: após seus colegas serem colocados fora de combate, Johnny English é a única opção restante para salvar a Inglaterra e impedir que um déspota tome conta da nação. As patetadas do protagonista e o senso de humor um pouco ingênuo podem acabar com os nervos mais exigentes, mas o impressionante sucesso mundial – mais de US$ 160 milhões, quantia que foi duplicada com a continuação O Retorno de Johnny English (2011) – comprovam que o público abraçou com gosto este espião atrapalhado por natureza, mas que, como manda as diretrizes do gênero, no final consegue fazer seu serviço. – por Robledo Milani

 

Agente 86 (Get Smart, 2008)
O diretor Peter Segal não “errou por tantinho algum” ao escolher levar aos cinemas sua versão do clássico estrelado por Don Adams na década de 1960. Graças a um acerto gigantesco no casting, com Steve Carell entregando uma das performances mais hilárias de sua carreira, e com um elenco de apoio cheio de bons nomes como Dwayne Johnson, Alan Arkin e uma estonteante Anne Hathaway, o longa-metragem é garantia de boas risadas e diversão leve e descompromissada. Na trama, Maxwell Smart (Carell) é um analista muito bem sucedido, mas que nunca teve experiência de campo como espião. Quando sua organização CONTROL é invadida e a identidade dos melhores agentes é revelada, ele se vê obrigado a entrar em ação junto da Agente 99 (Hathaway), para acabar com os planos malévolos da KAOS, capitaneados pelo ardiloso Siegfried (Terence Stamp). Como no seriado, tem-se uma sátira aos filmes de espionagem de James Bond – o que significa Smart ter em suas mãos as mais variadas traquitanas para cumprir seu trabalho. Prestando uma bela homenagem ao seu material de origem, e conseguindo fazer rir plateias contemporâneas, o longa foi uma bela surpresa e é difícil entender a ausência de uma continuação. – por Rodrigo de Oliveira

 

RED: Aposentados e Perigosos (RED, 2010)
Juntar um time de grande escalão como Bruce Willis, Helen Mirren, Morgan Freeman, John Malkovich, Brian Cox e tantos outros da ala mais experiente de Hollywood já seria um acerto por si só. Agora, fazer estes grandes nomes se unirem como espiões aposentados que começam a ser perseguidos por segredos do passado… Bom, filmaço de ação é pouco para dizer. Inspirado nos quadrinhos (em que o humor nem é tão grande assim), a adaptação para os cinemas é inteligente em sua trama, mas ganha ainda mais pontos pelo clima de diversão que toma conta do elenco. Tiros, diálogos ácidos e muita correria, além de uma Helen Mirren belíssima, sensual e dona das melhores falas com seu sotaque inglês sarcástico, fazem parte do menu. Já a sequência, como de praxe, não conseguiu alcançar as notas de seu antecessor, mesmo com o elenco reprisado e a leveza que estes atores tem em tela. Diversão, no entanto, é o que não falta. – por Matheus Bonez

 

A Entrevista (The Interview, 2014)
De início, extrapola-se o que podemos chamar de irreverente com muitas piadas politicamente incorretas. O bom é que, embora tenha gerado ameaças terroristas e muita tensão entre EUA e a Coréia do Norte, na verdade o alvo de suas piadas não são realmente os países, raças, etnias e outros grupos, mas sim os próprios emissores delas. Isso fica evidente ao fazerem de si mesmos a fonte do riso. É uma diferença sutil, mas essencial, que separa um Danilo Gentili ou um Rafinha Bastos, por exemplo, de um Sacha Baron Cohen e de um Louis C.K.. Aqui, então, temos James Franco e Seth Rogen (que dirige também) como dois responsáveis por um programa de sucesso que consegue uma entrevista exclusiva com o Presidente Kim Jong-Um (Randall Park). Interessados na proximidade que a dupla terá com o líder de um dos maiores adversários dos Estados Unidos, a CIA arma um plano para que os dois assassinem o líder supremo do país inimigo. O que, é claro, é terreno fértil para muitas piadas controversas e situações que desafiam os limites do bom senso e justificam toda a polêmica. – por Yuri Correa

 

Kingsman: Serviço Secreto (Kingsman, 2015)
Plagiar James Bond comicamente não é lá uma ideia muito nova – basta lembrar de Woody Allen em Cassino Royale (1967) ou da trilogia Austin Powers. Ainda assim, o cineasta Matthew Vaughn não resistiu e produziu uma reimaginação jovial, contemporânea e politicamente incorreta do agente inglês. O resultado é uma comédia ácida cheia de ação e alguma contraespionagem, vilões tão caricatos quanto carismáticos e um protagonista que merece uma saga tão extensa quanto a do próprio Bond. Colin Firth interpreta Harry Hart, membro de uma elite de elegantes agentes filiados a uma sociedade secreta e aristocrática. Quando um de seus colegas é assassinado, Harry deve encontrar um substituto para o posto enquanto investiga o caso, e sua intenção é que o improvável Eggsy (Taron Egerton, promissor talento britânico) ocupe o cargo depois de uma série de treinamentos insanos. Como em Kick-Ass (2010), Vaughn se vale de um material prévio advindo dos quadrinhos de Dave Gibbons e Mark Millar numa fórmula que não reinventa clichês, mas os reproduz com estilo, ritmo alucinado, frases de efeito e ação ininterrupta. Entretenimento de primeira para quem aprecia a conexão entre adrenalina e comicidade. – por Conrado Heoli

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