Ah, o amor! Tema tão caro na vida de qualquer ser humano e, é claro, no cinema também. Na data em que se comemora o Dia dos Namorados, cada um dos dez integrantes da equipe do Papo de Cinema escolheu seu filme preferido para o nosso Top 10 Dia dos Namorados, com os amantes mais fervorosos do cinema. Assim como na vida real, aqui estão listados topo tipo de produção que se possa imaginar sobre o assunto: de clássicos a comédias românticas, de amores impossíveis a desgastados, de sexualidade diferenciada aos mais chamados comuns possíveis, de diversas nacionalidades. Sem mais delongas, confira as nossas escolhas para celebrar este Dia dos Namorados!

 

Aurora (Sunrise: A Song of Two Humans, 1927)
Dizer que este é o filme mais belo do mundo não deve soar exagerado, ainda mais quando se considera o autor do elogio: François Truffaut. São incontáveis os admiradores da obra de F.W. Murnau, primeira produção norte-americana do cineasta alemão, que recebeu três Oscar na festa de estreia da Academia, em 1929. Motivos não faltam, uma vez que o filme quebrou paradigmas em forma e conteúdo ao discutir questões ainda hoje pertinentes, como o êxodo rural e as frágeis relações amorosas, a partir de uma estética composta por signos do expressionismo alemão. No tocante enredo, um fazendeiro tenta afogar sua esposa para ficar com outra, mas desiste ao compreender seus verdadeiros sentimentos por ela ao mesmo tempo em que perde sua confiança. Os tons melancólicos da obra não fazem referência apenas ao tema predominantemente triste, mas também marcam a despedida dos filmes mudos e o nascer do cinema falado. Com esse filme, Murnau ainda demostrou que o cinema poderia ser mais do que planos fixos e câmeras estáticas. O amor aqui apresentado se distancia da idealização e se transforma numa delicada canção de dois humanos, composta para o filme mais belo do mundo. – por Conrado Heoli

 

Harry e Sally: Feitos um para o Outro (When Harry Met Sally… , 1989)
Com roteiro de Nora Ephron e direção de Rob Reiner, esta é uma das mais inspiradas comédias românticas já lançadas. Bebendo bastante na fonte de Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977), de Woody Allen, o longa-metragem apresenta algumas máximas antológicas sobre relacionamentos, como o fato de que algumas mulheres fingem o orgasmo (retratada na clássica cena em que Meg Ryan chega ao falso clímax em uma mesa de bar) e trabalha a eterna dúvida da possibilidade da amizade entre um homem e uma mulher. Billy Crystal e Meg Ryan – o Harry e a Sally do título – começam se detestando, anos depois se reencontram e começam uma amizade sincera até descobrirem que o amor, inevitavelmente, aparece. Exemplo de romance com pitadas generosas de humor, com uma dupla de atores afiadíssima e com a patronesse das comédias românticas dos anos 80 e 90 à frente do roteiro, é aquele tipo de filme perfeito para assistir ao lado da sua metade da laranja no dia dos namorados. – por Rodrigo de Oliveira

 

As Pontes de Madison (The Bridges of Madison County, 1995)
Neste drama dirigido pelo próprio Clint Eastwood, um amor improvável aproxima a dona de casa Francesca Johnson (Meryl Streep) e o fotógrafo errante Robert Kincaid (Eastwood). Ele chega para registrar as famosas pontes de Iwoa e acaba enredado pela mulher campesina, infeliz à sua medida. Entre os dois, então, nasce um sentimento já ameaçado pelo iminente retorno ao cotidiano. Os quatro dias que abrigam essa torrente passional são suficientes para marcar a ferro em ambos a lembrança do outro. Tudo é visto em retrospectiva pelos filhos de Francesca, que descobrem em cartas a renuncia da mãe em prol da família. Clint Eastwood, mais lembrado por seus tipos taciturnos e durões, não só encarna com ternura um personagem cuja carapaça é quebrada por sentimento avassalador, mas imprime na direção alta voltagem de romantismo e drama. Perdoem-me os insensíveis, mas difícil conter as lágrimas quando Robert, em meio à chuva, parte sem olhar para trás, enquanto a relutante Francesca, de maçaneta em punho, faz a escolha mais dolorosa de sua vida. – por Marcelo Müller

 

Sexta-feira à Noite (Vendredi Soir, 2002)
Claire Denis sempre fez um cinema de sutilezas. Suas histórias e seus personagens estão categoricamente envolvidos em um pano de fundo perigoso e violento, no sexo, na guerra, na sociedade, no campo. Assim é este filme, forte e intenso, e também sobre a casualidade da vida, sobre o gozo extremo de todos os momentos que passam e desaparecem – para aí viverem na memória. Gira em torno do encontro furtivo no meio da noite que, sem pesar muito a consciência de dois amantes desconhecidos, resulta no sexo arrasador, porque filmado sem a ingenuidade dos puristas e sem gratuidade dos que se pensam transgressores. A câmera invade o íntimo da relação sexual filmando qualquer coisa que emanar dali, da paixão carnal, onde palavras são pouco necessárias diante dessa noção de um cinema físico e dançante. Entre motéis e restaurantes, Laure (que estava indo morar com o namorado quando encontrou Jean no caos do trânsito de Paris) e Jean se amam muito além do amor. A música é o choque da carne, a pele tocando o outro. Mas se o amor não tem trilha sonora, os sons que ouvimos são aqueles que criamos nós mesmos. – por Pedro Henrique Gomes

 

Simplesmente Amor (Love Actually, 2003)
Escrito e dirigido pelo talentoso Richard Curtis (roteirista de sucessos como Quatro Casamentos e um Funeral, 1994), este filme chegou aos cinemas com a promessa de ser “a comédia romântica definitiva”. Quase 10 anos depois, é possível dizer que, se não é verdade, chegou muito perto disso. Reunindo mais de dez histórias numa malha perfeitamente tramada, o filme faz brilhar os olhos de diversos casais apaixonados, sem deixar de ser inteligente ou divertido. Rodado em belos pontos de Londres, o longa ainda pega carona no espírito natalino, criando um mosaico que coloca o amor sob as mais diversas perspectivas. A meia hora final dá início a um crescendo emocional que arranca lágrimas (e amor!) até dos corações mais pétreos. Uma boa escolha para o dia 12. – por Dimas Tadeu

 

Antes do Pôr-do-Sol (Before Sunset, 2004)
O amor de Jesse (Ethan Hawke) e Celine (Julie Delpy) não é aquele romance idealizado que todos buscam. Afinal, como ficar nove anos com a lembrança de um dia perfeito de cumplicidade encerrado com uma tórrida noite de paixão, mas sem nunca mais ter tido a chance de repetir este feito? O reencontro tanto depois poderia ter sido um mero cumprimento de conhecidos de outrora, mas não aqui. O que Jesse e Celine sentem quando se encontram novamente são faíscas de algo que estava adormecido há quase uma década. Logo o barril de pólvora explode, libertando tudo que estava guardado, encarcerado, mas louco para se entregar. E quando o dia está chegando ao fim e o que o espectador mais quer ver é outra noite de amor, nos resta Celine cantando para um Jesse que rejuvenesceu. O casal voltou àquela viagem de trem de Antes do Amanhecer (1995), porém muito mais maduro e consciente do que está fazendo. Para o bem deles mesmos e de nós, que nos apaixonamos novamente. Como se fosse a primeira vez. – por Matheus Bonez

 

9 Canções (9 Songs, 2004)
O filme de Michael Winterbottom é um bom retrato de boa parte dos relacionamentos atuais. Matt e Lisa não poderiam ter tido um primeiro encontro mais contemporâneo. Partiram de um show da banda Black Rebel Motorcycle Club, na Brixton Academy, em Londres, direto para a cama, sem escalas. Baseado em sexo, amizade e paixão, o que há entre os dois não chega a se desenvolver em amor – nem poderia, devido às circunstâncias. A caminho da Antártida, Matt relembra a relação efervescente e vertical, mas não necessariamente profunda, que ocorreu entre eles. Há parceria e uma forte ligação entre os amantes, porém a afetividade está primeiramente voltada ao contato físico. As cenas explícitas de sexo, intercaladas por shows de rock de bandas como Primal Scream, Dandy Warhols, Super Furry Animals, Franz Ferdinand e Elbow, aos poucos dão lugar a discussões e algum mal-estar. Nada de novo no front, é verdade, mas nem por isso é um longa trivial. A mistura de sentimentos entre pessoas que estão se conhecendo é algo natural, pelo qual todos passam. A força do filme é justamente essa: um experimento sem pudores e o mais realista possível sobre paixão, sexo e rock’n’roll, três fortes catalisadores da juventude. – por Danilo Fantinel

 

Elvis & Madona (2010)
Elvis Presley morreu no exato dia em que Madonna nasceu – com a diferença de 19 anos. Mas não é apenas essa coincidência que liga os dois ídolos. Ao menos não na mente criativa do diretor carioca Marcelo Laffitte, responsável por essa curiosa história de amor, narrando como surgiu o romance entre Elvis, uma garota lésbica que trabalha como entregadora de pizza, e Madona (assim mesmo, com apenas um “n”), uma travesti que sonha, é claro, em ser uma estrela dos palcos. Bonito e bem acabado longa nacional que, infelizmente, foi muito pouco visto – e, justamente por isso, merece ser descoberto. Além da temática que levanta importantes questões sobre a diversidade sexual e como esse tipo de assunto ainda é encarado no Brasil, o forte elenco – liderado por Simone Spoladore, Igor Cotrim, Maitê Proença e José Wilker – contribui para justificar qualquer atenção mais apurada. Bonito, libertário e dono de um inusitado final feliz, é daqueles filmes que alegra o coração, ao mesmo tempo em que serve para mostrar que, para ser feliz, não é preciso muito – basta aceitar a si e ao próximo exatamente como cada um é. – por Robledo Milani

 

Namorados para Sempre (Blue Valentine, 2010)
O amor é tudo isso que você espera que ele seja – e os seus contrários. Frankie chama pela cachorra Megan. Antes de todas essas informações, apenas o grito exasperado na tela escura. Nunca estamos prontos para a perda. Chamar no vazio é aqui uma constante, ainda que este seja um título duvidoso para Blue Valentine, um dos mais simples, completos e complexos filmes americanos dos últimos anos. Simples porque não é pretensioso; completo porque trabalha com densidades estética e narrativa; complexo porque preserva os personagens de serem conhecidos pelo espectador. O relacionamento de Dean (Ryan Gosling) e Cindy (Michelle Williams) passa por um momento delicado. Os sentimentos são resistentes em suas fragilidades. Estão aí, sempre presentes, até o momento em que não estão mais.  Talvez seja um mistério, talvez um ensinamento sobre a natureza das coisas. O passado e o presente se confundem. Quando Dean escolhe o quarto do motel, avisa: vamos para o futuro. O futuro é hoje, é um desejo, uma prece. A câmera gostaria de enquadrar o casal, mas, constrangida por presenciar aquilo que se tornaram, não o faz. As pessoas dissimulam, a câmera não. – por Willian Silveira

 

Medianeras: Buenos Aires na Era do Amor Virtual (Medianeras, 2011)
Relações que acontecem através dos meios virtuais são bem comuns atualmente. Tema já explorado pela diretora Norah Ephron na comédia romântica Mensagem para Você (1998). Nesta produção argentina do diretor Gustavo Taretto, a mesma trama é apresentada, porém com uma nova abordagem: estariam os computadores e a internet nos afastando uns dos outros, quando deveriam aproximar e “conectar”? Na história, Martín e Mariana vivem na capital argentina em meio as neuroses modernas. Decepcionados com o amor, vivem na esperança de um dia, quem sabe, encontrar seus respectivos parceiros. Acompanhamos a vida de ambos em paralelo. Eles são vizinhos, não se conhecem e, como notamos, parecem perfeitos um para o outro. Aguardamos durante o filme todo esse encontro e, ao longo deste percurso, Taretto nos mergulha em um mar de referências do mundo virtual, ao cinema de Woody Allen até o personagem Wally (de Onde Está Wally?). – por Renato Cabral

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