16 fev

Oscar 2013: Melhor Filme em Língua-estrangeira

INDICADOS

 

Três anos após ter perdido a estatueta nesta mesma categoria pelo excelente A Fita Branca (2009), Michael Haneke não poderia estar mais feliz. Além de Amor ter sido indicado a Melhor Filme Estrangeiro, o longa austríaco concorre ainda a Filme do Ano, Direção, Roteiro Original e Atriz. Se só isso não bastasse para confirmar seu favoritismo, recebeu ainda os prêmios do European Film Awars, Globo de Ouro, Bafta, National Board of Review e Broadcast Film Critics Awards, sem contar os dez prêmios de críticas de diferentes estados norte-americanos e do Canadá, além da Palma de Ouro, em Cannes.

Os outros indicados estão ali apenas para preencher espaço, por melhores que sejam. Se não houvesse Amor na disputa, quem levaria a melhor certamente seria o chileno No, estrelado por Gael García Bernal, que em Cannes ganhou o prêmio da Confédération Internationales des Cinémas d’Art et d’Essai (CICAE), além de ter ganho como Melhor Filme Estrangeiro na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Outro que poderia se dar bem é o canadense A Feiticeira da Guerra, que no Festival de Berlim de 2012 concorreu ao Urso de Ouro e recebeu o prêmio de Melhor Atriz para a estreante Rachel Mwanza, além da Menção Especial do Júri.

Por outro lado, por mais divertido e bem feito que seja, Expedição Kon-Tiki, representante norueguês na categoria, foi indicado apenas ao Globo de Ouro e lembrado mais como uma homenagem ao documentário vencedor do Oscar em 1951, que tratava da mesma viagem, recriada no longa do ano passado. Ao seu lado, mas por outro motivo, está o fraco dinamarquês O Amante da Rainha, que parece só ter sido incluído por ter recebido os prêmios de Melhor Ator, para Mikkel Boe Følsgaard, e de Roteiro na Berlinale do ano passado. Teria mais chances caso fosse indicado nas categorias de Figurino e Direção de Arte, nas quais sequer foi mencionado.

 

Favorito: Amor

Tanto já foi falado do filme de Michael Haneke nos últimos meses que qualquer coisa além parece simples redundância. Um roteiro que é um legítimo soco no estômago, escrito de uma forma sensível, com um diretor que sabe conduzir um tema tão bonito e pesado sem nunca ser leviano, além de performances incríveis do casal protagonista que nos faz chorar, mas não por maneirismos. Mesmo que merecido, ganhar o Oscar não vai mudar nada na carreira de seus realizadores, pois o principal já foi alcançado. Amor (não só o filme, mas também o sentimento) é assim mesmo: por mais seco que seja, nos toca lá no fundo. E esse prêmio nem a Academia pode dar.

 

Torcida: Amor, por tudo que já foi dito antes.

 

Azarão: Expedição Kon-Tiki

Qualquer um dos outros indicados poderia ter esta alcunha, mas o principal parece ser Expedição Kon-Tiki (por mais problemático que seja O Amante da Rainha). O fato do filme não ter recebido nenhuma estatueta dentro dos EUA e só ter sido lembrado pelo Globo de Ouro (que há muito tempo deixou de ser considerado termômetro do Oscar) resulta apenas em pontos negativos – falando em prêmios, é claro. Porém, caso conseguisse roubar a cena, seria uma bela forma de premiar este belo trabalho que reconta de forma detalhada a navegação liderada pelo aventureiro norueguês Thor Heyerdahl, que apenas queria provar que a Polinésia havia sido povoada pelos peruanos, e não pelos asiáticos, como era a teoria na década de 1940. Mas não tem problema. Se em seus próximos trabalhos os realizadores deste filme conseguirem criar outra produção tão impressionante, logo devem voltar à cerimônia e abocanhar o cobiçado prêmio.

 

Esquecido: Intocáveis

Não sabemos se a Academia se encheu dos franceses após ter dado cinco estatuetas para O Artista no ano passado, mas o fato de Intocáveis não ter sido indicado foi uma das maiores surpresas (e decepções) deste ano. A “dramédia” que conta a história de um aristocrata tetraplégico que contrata um excêntrico imigrante argelino como acompanhante é pura sensibilidade e bom humor, sem nunca cair na pieguice. Não só o filme roteirizado e dirigido por Olivier Nakache e Eric Toledano merecia a indicação como também o ator Omar Sy (primeiro negro a ganhar o César, o Oscar francês) também deveria figurar entre as melhores atuações do ano. É ainda mais inacreditável esta exclusão da lista final da Academia quando tomamos conhecimento que Intocáveis foi lembrado em praticamente todos os prêmios da crítica norte-americana, além do Globo de Ouro e do BAFTA. Sem contar que o longa é a maior arrecadação de um filme francês em todo o mundo. Shame on you, Oscar!

 

As análises dos indicados nas demais categorias você confere no Especial Oscar 2013!

Matheus Bonez

é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.

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