Não era pequena a tentação de retornar ao universo visto pela primeira vez em O Mágico de Oz (1939). Já na década de 70, a banda Pink Floyd fez história com “The Dark Side of the Moon”, álbum que, se tocado junto com o filme clássico de 1939, se torna uma trilha sonora perfeitamente encaixada às imagens. Mais recentemente, a peça musical “Wicked” (que tem a “Bruxa Má” do filme como protagonista), já tradicional na Broadway, vem crescendo em público e ganhando projeção internacional por meio de séries como Glee e citações de cantores pop, como Mika. Isso sem contar os especiais na televisão americana e os frequentes relançamentos da primeira versão cinematográfica da história, primeiro em DVD, depois em Blu-Ray. Portanto, uma sensação de alegria nostálgica tomou conta do público quando, finalmente, ele viu sua volta a Oz virar realidade no anúncio de Oz: Mágico e Poderoso (2013), há quase um ano.

A ideia é contar a história de Oscar (James Franco, deliciosamente canastrão), um mágico de circo que, transportado a Oz, se tornará o lendário mágico que, um dia, receberá Dorothy e seus amigos. Mulherengo, ilusionista por profissão e larápio por natureza, o protagonista será confrontado consigo mesmo e terá de aprender o verdadeiro valor da lealdade e da verdade. Um enredo bem aos moldes da Disney, produtora do longa. Mas com um “algo a mais”, para tornar o filme mais interessante do que um simples prólogo à história original.

E não estamos falando dos efeitos visuais. Embora bem cuidados e tecnologicamente avançados, é tanta cor, tanta animação, tanto chroma key, que algumas cenas parecem um grande jogo de videogame, no mau sentido. Uma responsabilidade partilhada com Sam Raimi, diretor do longa, que resolve filmar algumas sequências de ação com planos muito abertos. Embora distrativos, no entanto, esses efeitos não conseguem eclipsar o design de produção inspirado de Robert Stromberg, que bebe na fonte do filme clássico e a renova para os tempos dos efeitos digitais.

O “algo a mais” está no roteiro, de Mitchell Kapner e David Lindsay-Abaire, baseado no livro de L. Frank Baum, e na sua compreensão da real mágica que vive em Oz. Um gancho que Raimi soube aproveitar e transformar no que há de mais belo em todo o filme. Já nas primeiras cenas (em preto e branco e janela menor, como os filmes antigos, mas com efeitos 3D escapando da moldura), aparece a primeira pista: um praxinoscópio projeta nas paredes do trailer de Oscar uma animação de um elefantinho. Um primórdio de cinema, numa cena que é chave para a apresentação do personagem. No caso, ele contracena com Michelle Williams (Annie), que, do “outro lado do espelho”, em Oz, será Glinda, uma das bruxas. As outras duas, são Mila Kunis (Theodora) e Rachel Weisz (Evanora, com um inexplicável sotaque londrino), todas ambíguas e excelentes, criando um leve suspense sobre quem poderia ser, afinal, a “bruxa má”.

Nestas primeiras cenas, é curioso notar como a direção de arte faz lembrar O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus (2009), um filme que dialoga mais com Oz: Mágico e Poderoso, do que as referências mais óbvias, como a recente versão de Tim Burton para Alice no País das Maravilhas (2010). Porém, na medida em que a história caminha para seu clímax – já em cores e computação gráfica – aquela primeira referência à “imagem em movimento” vai ganhando vida e explode como uma grande metalinguagem, notada por poucos até por ser o segredo do “maior truque da vida” de Oz: a verdadeira mágica trata-se do próprio cinema. E sim, é possível vislumbrar um pouco de A Invenção de Hugo Cabret (2011) nisso tudo.

A insistência do roteiro em mostrar o técnico por trás do encantamento, a imensa plateia que assiste ao “truque final” e o seu resultado sobre estas pessoas, parece querer dizer a quem ficou “aqui”, no Kansas, que existe um mundo onde tudo pode ser verdade quando se acredita. E não se trata de Oz, nem do Kansas. Esse mundo é o próprio cinema, que, há mais de 70 anos, nos apresentou a Dorothy e seus amigos.

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é jornalista, mestre em Estética, Redes e Tecnocultura e otaku de cinema. Deu um jeito de levar o audiovisual para a Comunicação Interna, sua ocupação principal, e se diverte enquanto apresenta a linguagem das telonas para o mundo corporativo. Adora tudo quanto é tipo de filme, mas nem todo tipo de diretor.
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