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O ano de 2016 foi terrível em muitos sentidos, mas nada pior do que perceber todos os grandes artistas que nos deixaram. No entanto, se não podemos mais tê-los ao nosso lado, ao menos resta a consolação de termos as obras em que deixaram registrados seus imensos talentos. É por isso que selecionamos aqui dez dos mais importantes astros, estrelas e cineastas brasileiros que deram adeus durante os últimos doze meses, em uma singela, porém importante, homenagem. Alguns, no entanto, aqui não estarão, ou por terem ido além dos limites da nossa própria cultura – como Hector Babenco, cujo registro está no especial In Memoriam 2016 :: Grande Cineastas – ou por serem, além de figuras do universo cinematográfico, também frequentes em outras áreas, como o diretor, e jornalista, Geneton Moraes Neto. Imprescindível citá-los, porém com a certeza de nunca serem esquecidos. Um pouco da nossa arte ficou mais pobre, mas por tudo que nos ofereceram, merecem o nosso maior respeito e admiração eterna!

 

Antonio Pompeo, em cena da novela Mulheres de Areia
Antonio Pompeo, em cena da novela Mulheres de Areia

ANTÔNIO POMPÊO (23/02/1953 – 05/01/2016)
De olhar sisudo e jeito tímido, Antônio Pompêo era o tipo de artista que qualquer diretor de respeito gostaria de ter ao seu lado, pois havia sempre a certeza de que entregaria o seu melhor. Estreou na tela grande sob o comando de Cacá Diegues no clássico Xica da Silva (1976), ao lado de Zezé Motta. Em um país e profissão que sempre deu pouco espaço aos negros, lutou bravamente contra qualquer tipo de racismo. Assumia, com tranquilidade, os papeis que lhe eram destinados – e invariavelmente estava presente quando a trama era sobre tempos abolicionistas como um dos escravos que, com determinação e bravura, conseguiram impor seus direitos. A parceria com Diegues deu tão certo que anos depois estavam novamente juntos em Quilombo (1984), desta vez não mais como coadjuvante, mas, sim, como o próprio Zumbi, o guerreiro que manteve Palmares longe do domínio português. Este foi seu grande momento na tela grande, mas não o único – títulos como O Xangô de Baker Street (2001) e Quase Dois Irmãos (2004) também contaram com o seu talento privilegiado. Antônio Pompêo foi encontrado morto em sua casa, no Rio de Janeiro, no dia 05 de janeiro, vítima de um infarto fulminante. Ele tinha 62 anos. – por Robledo Milani

 

Tereza Raquel, em cena de Amante Muito Louca
Tereza Rachel, em cena de Amante Muito Louca

TEREZA RACHEL (10/03/1934 – 02/04/2016)
É muito provável que Tereza Rachel esteja eternizada na memória de milhares dos seus admiradores como a Rainha Valentine da novela global Que Rei Sou Eu? (1989). Mas a carioca nascida sob o batismo de Teresinha Malka Brandwain Taiba de La Sierra estreou direto na tela grande, com apenas 22 anos, na comédia Genival é de Morte (1956). O sucesso de público foi grande, mas a crítica só começou a prestar atenção nela alguns anos depois, ao aparecer no clássico Ganga Zumba (1963), de Carlos Diegues. Uma década depois, veio a consagração: com Amante Muito Louca (1973) conquistou o kikito de Melhor Atriz na segunda edição do Festival de Cinema de Gramado. Ao todo esteve em mais de uma dezena de longas. Por A Volta do Filho Pródigo (1978), foi premiada como Melhor Atriz Coadjuvante pela Associação Paulista de Críticos de Arte. Neste filme trabalhou pela primeira vez com o diretor Ipojuca Pontes, que viria a ser seu marido e que a dirigiria também no curioso Pedro Mico (1985), em que fazia par romântico com ninguém menos do que Pelé! Este projeto, aliás, acabou sendo o seu último na tela grande. Um adeus que se confirmou no último mês de abril, quando faleceu, aos 82 anos. – por Robledo Milani

 

Umberto Magnani no especial O Juramento
Umberto Magnani no especial O Juramento

UMBERTO MAGNANI (25/04/1941 – 27/04/2016)
Além de ator, Umberto Magnani foi também um consagrado produtor de espetáculos teatrais, tendo ainda atuação destacada à frente de importantes associações de classe. Embora tenha ficado mais conhecido do grande público por seus papeis secundários, porém sempre marcantes, na televisão, Umberto construiu uma carreira cinematográfica, senão extensa e condizente com seu talento maiúsculo, pontuada por êxitos suficientes para ser lembrado carinhosamente no meio. Estreou nas telonas em 1976, com o longa-metragem Chão Bruto, de Dionísio Azevedo. Nos difíceis anos 80, viveu Seu Raimundo, na adaptação cinematográfica do livro A Hora da Estrela, levado a cabo pela diretora Suzana Amaral. A versatilidade de Umberto o permitia transitar com desenvoltura por registros bastante distintos, indo do pacato cidadão acima de qualquer suspeita aos tipos explosivos. A expressividade do olhar e a maneira como empostava a voz vigorosamente serviram tão bem a Sérgio Bianchi em Cronicamente Inviável (2000) que o diretor lhe escalou novamente, dez anos depois, para integrar o elenco de Os Inquilinos (2010). Seu último papel do cinema foi o de Vovô Mário, em A Grande Viagem (2011), de Caroline Okoshi Fioratti. Umberto se foi devido a complicações decorrentes de uma pneumonia, deixando lacunas em diversos setores e segmentos. – por Marcelo Müller

 

Cauby Peixoto em cena do documentário Começaria Tudo Outra Vez
Cauby Peixoto em cena do documentário Começaria Tudo Outra Vez

CAUBY PEIXOTO (10/02/1931 – 15/05/2016)
Cauby Peixoto pode ser mais conhecido por sua intensa carreira musical e por sucessos como “Conceição”, mas sua participação no cinema também foi marcante. Carioca nascido em Niterói, Cauby Peixoto Barros começou a carreira no início da década de 1950 até se mudar para São Paulo, onde começou a estourar por conta dos shows em boates e na Rádio Excelsior. Nisto, uma de suas passagens mais emblemáticas foi lá no final daquela década, quando, após ter sido eleito o homem mais bonito do Brasil por uma publicação estrangeira, fez uma participação no filme Chico Fumaça (1957), produção assinada por Mazzaropi, onde interpreta a canção “Onde Ela Mora”. No mesmo ano atuou em Canjerê, mais um musical que realçou sua fama. Entre várias participações esparsas ao longo das décadas seguintes, seu último registro cinematográfico foi na comédia policial Ed Mort (1997) cantando “Bastidores“. Infelizmente, o cantor faleceu em casa no dia 15 de maio deste ano por conta de uma pneumonia, deixando como legado sua aparência marcante, o timbre de sua voz e o documentário Cauby: Começaria Tudo Outra Vez (2015), que retrata alguns dos momentos mais importantes da vida pessoal e profissional. – por Matheus Bonez

 

Guilherme Karam em cena de Super Xuxa contra o Baixo Astral
Guilherme Karam em cena de Super Xuxa contra o Baixo Astral

GUILHERME KARAM (08/10/1957 – 07/07/2016)
Ator cômico de talento ímpar, falecido aos 58 anos, Guilherme Karam será para sempre lembrado como um dos mais talentosos humoristas do clássico programa TV Pirata (1988-1990), no qual dava vida ao cafajeste Zeca Bordoada, apresentador do TV Macho, entre vários outros personagens. Embora tenha sido muito popular na televisão, dando vida a tipos memoráveis em novelas como Meu Bem, Meu Mal (1990) e Explode Coração (1995), no cinema também teve seus sucessos, tendo participado de longas como O Rei do Rio (1985) e O Homem da Capa Preta (1986). Seu maior êxito na telona foi como o vilão de um dos grandes sucessos de Xuxa Meneghel, Super Xuxa contra o Baixo Astral (1988), no qual ele vivia o malvado personagem do título. Com a apresentadora de televisão, participou de outros dois longas: Xuxa e os Duendes (2001) e sua continuação, lançada no ano seguinte.  A partir de 2005, as participações de Karam foram rareando, tanto na TV quanto no cinema. Notícias de uma doença degenerativa surgiram na mídia, com o artista se afastando dos holofotes. Uma lástima, dado o talento único de Guilherme Karam em fazer a audiência rir e se emocionar com suas performances inesquecíveis. – por Rodrigo de Oliveira

 

Elke Maravilha, no início da carreira como modelo
Elke Maravilha, no início da carreira como modelo

ELKE MARAVILHA (22/02/1045 – 16/08/2016)
Talvez a russa mais brasileira que já passou pelo nosso país, Elke Georgievna Grunnupp – ou apenas Elke Maravilha – nasceu em Leningrado, em 1945, e trouxe um brilho e intensidade ao Brasil que permanecerá na memória de seu público eternamente. Reconhecida pelas gerações mais novas como jurada de programas de auditório, iniciou sua carreira como modelo e manequim, para logo em seguida já desbravar novos horizontes também como atriz, sem deixar de lado seu lado ativista e contrário a qualquer ditadura. Sua figura loura, de pele clara e riso fácil, encantou plateias em mais de 30 filmes. Vale lembrar de momentos como em Xica da Silva (1976), sua Daniela em A Noiva da Cidade (1979), o tipo marcante visto em Pixote: A Lei do Mais Fraco (1981) ou a vilã Macedão em Xuxa Requebra (1999). Outro trabalho de destaque foi na biografia Zuzu Angel (2006), em que, além de aparecer de forma carinhosa na tela, pode também conferir Luana Piovani lhe homenageando como uma figura fictícia. Faleceu no Rio de Janeiro, em agosto de 2016, mas sua multifacetada personalidade deixou um legado irretocável de uma energia ímpar e presença em diversos filmes lançados recentemente, como Lua em Sagitário (2016) e o sucesso Carrossel 2 (2016). – por Renato Cabral

 

Duda Ribeiro e Rodrigo Santoro em cena de Heleno
Duda Ribeiro e Rodrigo Santoro em cena de Heleno

DUDA RIBEIRO (05/06/1962 – 14/09/2016)
O nome talvez não chame atenção num primeiro momento, mas Duda Ribeiro marcou presença em alguns dos maiores campeões de bilheterias do cinema brasileiro recente. Ator competente, era um coadjuvante por excelência, que emprestava credibilidade e talento até mesmo aos papeis mais discretos. Após estrear em novelas da Rede Globo no início dos anos 1990, descobriu o cinema apenas no final da década seguinte, para em seguida engatar um sucesso atrás do outro. Ao todo, de Meu Nome Não é Johnny (2008) até O Duelo (2015), foram cinco longas distintos. Esteve ao lado de Selton Mello como um dos internos do manicômio onde o protagonista é internado, e também foi um dos ouvintes que se encantaram com as histórias de José Wilker. Além desses, integrou o bando que planejou o Assalto ao Banco Central (2011), foi irmão do Heleno (2011) de Rodrigo Santoro e também se preparou para O Concurso (2013) ao lado de Fábio Porchat e Danton Mello. Na televisão, foram outras dezenas de personagens, que ajudaram a contar algumas das obras ficcionais mais marcantes das últimas décadas. Um intérprete versátil, que deixou o cenário artístico nacional mais pobre ao falecer, vítima de câncer, aos 54 anos. – por Robledo Milani

 

Domingos Montagner no set de filmagens
Domingos Montagner no set de filmagens

DOMINGOS MONTAGNER (26/02/1962 – 15/09/2016)
Um palhaço. Era assim que o ator gostava de ser reconhecido, ainda mais depois de anos dedicados aos palcos e ao picadeiro do Circo Zanni, do qual foi sócio e diretor artístico. No curta-metragem dirigido por Juliano Luccas, A Noite dos Palhaços Mudos (2012), Domingos levou para o cinema seu personagem mais amado. Com o sucesso obtido por suas participações em novelas, os convites para cinema aumentaram e ele pode se fazer presente na telona nos mais diversos gêneros, chegando a roubar a cena na comédia romântica Um Namorado para Minha Mulher (2016), na pele de um mágico.  Sensível e estudioso, Domingos também esteve presente nos dramas Vidas Partidas (2016) e De Onde Eu Te Vejo (2016), além do suspense Através da Sombra (2015), de Walter Lima Jr. Domingos Montagner deixou a arte e a vida aos 52 anos com uma trajetória invejável, em nenhum momento abalada pelo rótulo de galã que a mídia lhe concedeu. Em suas últimas entrevistas, afirmou querer se dedicar mais à Sétima Arte por tratar-se de um veículo que traz uma certa imortalidade aos seus participantes. Um acidente, no entanto, durante um intervalo das gravações da novela Velho Chico (2016), abreviou essa caminhada que ainda prometia muitos frutos. – por Bianca Zasso

 

Orival Pessini, como o boneco Fofão, ao lado de Simony
Orival Pessini, como o boneco Fofão, ao lado de Simony

ORIVAL PESSINI (06/08/1944 – 14/10/2016)
Talvez o verdadeiro rosto de Orival Pessini não seja imediatamente reconhecível pela maioria dos brasileiros, mas seu nome e, especialmente, suas criações, permanecerão eternamente no imaginário cultural do país. Nascido em Pompeia, SP, foi um artista multifacetado, iniciando sua trajetória no teatro e desenvolvendo diversas outras habilidades ao longo dos anos, como as de cantor, compositor, humorista e artista plástico. Essa última se tornaria o grande diferencial de seu trabalho, pois foi através da maestria na confecção de máscaras de látex que pôde dar vida aos personagens mais marcantes de sua carreira. Primeiro com os macacos Sócrates e Charles, do humorístico Planeta dos Homens, exibido pela Rede Globo nos anos 1970. Na década seguinte vieram o hippie Patropi, integrante da Escolinha do Professor Raimundo, e sua mais icônica criação: Fofão. O alienígena de bochechas avantajadas marcou toda uma geração, primeiro no programa Balão Mágico e posteriormente em produções próprias. O sucesso levou o personagem a todas as mídias, como discos, quadrinhos e também a tela grande, com o longa Fofão: A Nave Sem Rumo (1989), de Adriano Stuart. Ainda no cinema, Pessini voltaria recentemente ao universo infantil em Carrossel: O Filme (2014) e Carrossel 2 (2016). – por Leonardo Ribeiro

 

Andrea Tonacci nos bastidores de Bang Bang
Andrea Tonacci nos bastidores de Bang Bang

ANDREA TONACCI (1944 – 16/12/2016)
Apesar de não ser tão lembrado quanto seus colegas mais famosos de movimento e de geração (sobretudo Rogério Sganzerla e Julio Bressane), o italiano (de nascimento) Andrea Tonacci foi um dos principais nomes do cinema marginal brasileiro. Realizador de filmes profundamente políticos e esteticamente arrojados, Tonacci dirigiu dois emblemáticos exemplares desse cinema, na virada dos anos 60 para os 70: o ainda hoje impressionante curta Blá Blá Blá (1968), com Paulo Gracindo, e seu primeiro longa, o inovador Bang Bang (1970). Mais de três décadas depois, Tonacci voltou aos holofotes críticos com Serras da Desordem (2006), multipremiado no Festival de Gramado e um dos grandes filmes brasileiros dos anos 2000. Nele, também está presente a verve política do diretor, dessa vez direcionada ao debate sobre a questão indígena no Brasil, bem como seu contumaz arrojo narrativo, na maneira como trafega com fluidez pelos terrenos da ficção e do documentário. – por Wallace Andrioli

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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