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Depois de 20 anos, muitas acusações públicas, processos administrativos e outros perrengues, finalmente Chatô: O Rei do Brasil (2015) foi lançado nos cinemas. Para surpresa de muitos, as opiniões a respeito desta estreia de Guilherme Fontes como diretor têm sido majoritariamente favoráveis. Cinebiografia do magnata brasileiro das comunicações Assis Chateaubriand –semelhante em algumas medidas ao protagonista de Cidadão Kane (1941), de Orson Welles –, a realização de Fontes tem também seus detratores, uma parcela do público e da crítica que não vê motivos para tanto oba oba. No Confronto desta semana, nosso convidado Aílton Monteiro, do Diário de um Cinéfilo, ataca, enquanto o prata-da-casa Marcelo Müller defende Chatô: O Rei do Brasil. E você, achou que a espera valeu a pena? Confira e não deixe de opinar.

 

 

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A FAVOR :: Chateaubriand ganhou uma cinebiografia à altura do folclore que o cercava”, por Marcelo Müller
A realização de Guilherme Fontes é extravagante (no bom sentido), possui interpretações e encenação guiadas por uma brasilidade hiper-estilizada que ri dos estereótipos do nosso subdesenvolvimento ao mesmo tempo em que os reverencia. Interpretado por Marco Ricca, Assis Chateaubriand é visto como uma figura hiperbólica, de ímpeto desmedido, um magnata das comunicações que passa sua vida a limpo quando à beira da morte. Ao contrário das cinebiografias comportadas às quais estamos infelizmente acostumados, este filme toma caminhos arriscados, como, de certa forma, carnavalizar a trajetória de Chatô, fazendo assim jus, por meio da linguagem, aos seus ideais nacionalistas e megalomaníacos. O julgamento do protagonista ocorre num programa de televisão, em meio à preocupação com audiência. Ex-mulheres, colaboradores, aliados e inimigos falam de Chatô, expondo as idiossincrasias de uma personalidade efervescente. Dono do Diários Associados, portanto à frente de jornais, rádios e emissoras de televisão, Chateaubriand ganhou uma cinebiografia à altura do folclore que o cercava, de criatividade tão expressiva quanto era sua sanha de poder. No banquete antropofágico ao qual o diretor Guilherme Fontes nos convida, mesmo as gorduras e sobras são importantes, pois arestas que evidenciam a organicidade de algo regido beneficamente pelo signo da imperfeição, da esculhambação que nos é inerente.

 

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CONTRA :: Uma obra que vê a luz do dia já velha e moribunda”, por Ailton Monteiro
Chatô: O Rei do Brasil é filme irmão de Carlota Joaquina: Princesa do Brasil (1995), embora Carla Camurati tenha sido bem mais feliz em sua empreitada. Ambos, principalmente Chatô, adotam o tom de farsa, procurando se desviar da dificuldade que é tratar o tema com seriedade e maior competência. Aqui, o aspecto fragmentário da narrativa também tenta disfarçar suas deficiências, que se escondem na edição picotada. Se o corte final tivesse mesmo de mais de três horas de duração (como se chegou a especular) seria uma obra insuportável, mas do jeito que ficou dá pra assistir principalmente como curiosidade, como um filme que veio do túnel do tempo, com todo mundo envelhecido 20 anos, e até atores que já morreram, como José Lewgoy e Walmor Chagas, embora suas participações tenham sido apenas como pontas. Há toda uma tentativa de Guilherme Fontes de se aproximar de grandes cineastas: Orson Welles, Glauber Rocha, Francis Ford Coppola, Luis Buñuel, Federico Fellini, mas os experimentos resultam em uma obra que só vale mesmo a conferida pelo aspecto de curiosidade, que vê a luz do dia já velha e moribunda, como o protagonista. Aliás, o filme vale pelo final também, sobretudo, graças à participação de Andrea Beltrão.

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