Baseado num espetáculo teatral em cartaz no West End londrino, Cavalo de Guerra (2011) foi o 26° longa-metragem de Steven Spielberg, o mais bem sucedido cineasta – seja de público, seja de crítica – da atualidade. Esta é também a oitava produção dirigida por ele a ser indicada ao Oscar na categoria de Melhor Filme do ano. Recebeu ainda outras cinco indicações, mas saiu da maior festa do cinema mundial de mãos abanando. Na temporada de premiações daquele ano, Cavalo de Guerra foi lembrado em praticamente todas – Oscar, Bafta, Globo de Ouro, Critics Choice Award, National Board of Review – mas não ganhou nenhum deles, a não ser alguns (poucos) técnicos. Nas bilheterias tampouco fez feio – com um custo de US$ 66 milhões, arrecadou mais de US$ 170 milhões em todo o mundo – mas, por outro lado, não chegou a impressionar. Ou seja, é um filme competente, com muitos méritos, mas também alguns deslizes. E é nesse equilíbrio em que se desenvolve o Confronto dessa semana, com Dimas Tadeu apontando suas qualidades, enquanto que Marcelo Müller faz questão de relembrar seus tropeços. Confira!

 

A FAVOR:Espetacular, belo e comove plateias de todo o mundo”, por Dimas Tadeu
Hollywood pode ter muitas vocações, mas nenhuma delas é maior do que a de fazer espetáculos. Sua chamada ‘era de ouro’ se deu justamente numa época em que a produção cinematográfica combinava orçamentos exuberantes e estrelas olimpianas para fazer espetáculos em película. Com o passar do tempo e a chegada da computação gráfica, perdeu-se um pouco a mão e o espetáculo foi substituído por uma pirotecnia desenfreada de efeitos especiais, overdoses de informação, masturbação mental e pseudo-intelectualidade. Por isso, é louvável quando Spielberg (um diretor que tem uma quedinha por este segundo caminho) resolve homenagear a era de ouro do jeito certo em seu Cavalo de Guerra: com um espetáculo. É melodramático? Sim. É apelativo? Talvez. É estranho ver pessoas de diversas nacionalidades falando inglês com sotaque? Com certeza. Mas também é espetacular, belo e comove plateias de todo o mundo, que é o que Hollywood sabe fazer de melhor. E, se parece muito clichê, basta lembrar de um outro: the show must go on!

 

CONTRA:Algo nascido e criado para fazer chorar”, por Marcelo Müller
O início de Cavalo de Guerra remete a alguns bons filmes de John Ford, tanto no que diz respeito à temática quanto à forma de condução. Belas paisagens campesinas, a luta do destemido homem da terra contra seu locador impiedoso, enfim, tudo corre bem, a não ser pela trilha de John Williams que, desde o começo, se impõe quase onipresente e melosa demais. O açúcar sonoro logo contamina o bolo todo, e Cavalo de Guerra fica severamente apoiado numa amizade bonita, porém de contornos melodramáticos em exagero. As vias utilizadas por Spielberg no repasse das mensagens soam quase pueris, algo bastante decepcionante para alguém com seu currículo e envergadura artística. Na busca pelo cavalo, o jovem viverá uma guerra, entre outros contratempos. Aliás, o front é onde o cineasta deixa seu filme mais piegas, na oposição entre horrores bélicos e a obstinação humanista do jovem, esta levada a cabo canhestramente. Alguns o tacharam de anacrônico. Não creio ser esse o problema, e sim adicionar ainda mais glicose em algo nascido e criado para fazer chorar. A essa altura do campeonato, ruim é ver Spielberg fazendo concessões, seja à indústria ou mesmo à sua antiga veia sentimentalóide.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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