Mel Gibson é uma figura importante em Hollywood, ou foi. Depois de alcançar grandes sucessos, sobretudo nas décadas de 80 e 90, ele se tornou, durante um bom tempo, já nos anos 2000, persona non grata por conta de uma série de polêmicas e controvérsias. Declarações preconceituosas, acusações de maus tratos, foram apenas alguns dos eventos responsáveis por seu escanteamento. Mas, eis que em 2016 ele voltou aos holofotes de maneira positiva com Até o Último Homem, drama de guerra baseado em fatos que, vejam só, foi indicado ao Oscar de Melhor Filme. Não bastasse isso, Gibson se viu lembrado entre os melhores diretores. Um feito e tanto, exagerado para alguns, plenamente justo a outros.

Para tirar a teima, ou botar ainda mais lenha na fogueira, resolvemos promover este Confronto acerca de Até o Último Homem. Num lado do campo de batalha, o prata-da-casa Rodrigo de Oliveira, que relativiza as qualidades do filme de Gibson, questionando, inclusive, a justiça de seu reconhecimento pela Academia. No outro, nosso convidado especial, Bruno Giacobbo, crítico do Blah Cultural e do Cinema Beer Club, que defende com unhas e dentes a realização como “um dos melhores filmes de guerra das últimas décadas”. Bom, vamos a este embate sadio de ideias? Confira e não deixe de comentar.

 

A FAVOR :: “Filmadas com esmero, as batalhas explodem de forma catártica”, por Bruno Giacobbo
Um dos melhores filmes de guerra das últimas décadas, embora seja de um reducionismo equivocado classificá-lo somente desta forma. Dividido em três partes, ele constrói, meticulosamente, a personalidade e as motivações de Desmond Doss (Andrew Garfield), um soldado do exército americano que jamais disparou um tiro. As batalhas foram todas reservadas para o final. E que batalhas! Filmadas com o esmero de um cineasta que andava sumido, mas que não desaprendeu seu ofício, elas explodem de forma catártica. Já na primeira cena, somos fisgados por tiros, nuvens de fumaça e imagens de corpos queimados que de tão realistas parecem pular da tela à nossa frente. É a volta por cima de Mel Gibson, autor de filmaços como Coração Valente (1995) e, agora, de um longa-metragem sobre ideais e fé; não só a religiosa, mas também em nossos valores mais caros e pessoais. Notem que, lá pelas tantas e sem demérito algum, ele evoca o clássico Nascido Para Matar (1987), de Stanley Kubrick. As indicações ao Oscar do diretor e de Garfield, a perfeita personificação deste protagonista peculiar, são justíssimas. Seja bem-vindo, Mel!

 

CONTRA :: “Bastante irregular”, por Rodrigo de Oliveira
Este filme tenta, mas não consegue chegar à qualidade de outros títulos de guerra do passado. Algo destoa no resultado final, como se a terceira e violenta parte do longa-metragem não combinasse com a abertura quase idílica mostrada pelo diretor Mel Gibson. É compreensível que o cineasta queira mostrar a mudança de ares pelos quais o protagonista Desmond Doss (Andrew Garfield) passa. Mas acaba parecendo dois filmes diversos. Outro ponto que incomoda é o fato de Gibson não acreditar no potencial da trama que tem em mãos. Ele está contando a história de um homem que vai à guerra sem usar armas de fogo. Perceba, no entanto, que mal vemos Doss em boa parte do confronto inicial no cume da montanha Hacksaw. É como se Gibson não soubesse o que fazer com o personagem. Ele aparece aqui e ali, mas está longe de ser o protagonista daquele segmento. Parece que a ideia do diretor é nos dar um espetáculo violento, não importando se ele faz sentido dentro da trama que vinha sendo contada. Por essas e outras, o longa se mostra bastante irregular. O trabalho sonoro é impecável e as cenas de ação chamam a atenção. Mas talvez tê-lo indicado ao principal Oscar da noite tenha sido um exagero.

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