Todo mundo já comentou a respeito das diversas transformações de Madonna. E se hoje a vemos nos palcos, nos videoclipes e nas mais variadas polêmicas, o meio que mais marcou suas mudanças visuais foi o cinema. É por isso, aproveitando a passagem da diva pelo Brasil, organizamos um Top 10 com os melhores momentos dela na tela grande durante estes mais de vinte e cinco anos de carreira. E enquanto não a vemos ao vivo, que tal desvendar um pouco melhor esta faceta cinematográfica?

 

10. Sobrou Pra Você (The Next Best Thing, 2000)
Tinha tudo para dar certo: um diretor vencedor do Oscar (John Schlesinger, de Perdidos na Noite, 1969), o melhor amigo como co-protagonista (Rupert Everett, vindo do sucesso de O Casamento do Meu Melhor Amigo, 1997) e uma temática atual – os novos relacionamentos que surgem das aproximações entre heteros e homossexuais. Mas o resultado foi constrangedor para todos, desde os fãs mais ardorosos até os meros curiosos. Salva-se a primeira metade da trama, com momento divertidos e mais leves, além das duas canções que Madonna gravou para a trilha sonora: American Pie, de Don McLean (ele chegou a afirmar na época que “já recebi em minha carreira muitos presentes dos deuses, mas este é o primeiro que ganho de uma deusa!”) e Time Stood Still.

 

09. Destino Insólito (Swept Away, 2002)
A terceira parceria entre Madonna e o seu ex-marido, o diretor Guy Ritchie (antes os dois haviam trabalhado juntos no videoclipe da canção “What it Feels Like for a Girl” e no curta-metragem Star, ambos em 2001), teve os resultados mais controversos também. Tremendo fracasso de bilheteria, custou US$ 10 milhões e permaneceu por menos de um mês em cartaz nos Estados Unidos, com uma arrecadação de pouco mais de meio milhão de dólares. Consequência direta é que foi lançado no resto do mundo diretamente em DVD. Outras conquistas foram as 5 Framboesas recebidas: Pior Filme, Pior Refilmagem, Pior Diretor, Pior Atriz e Pior Dupla (ao lado de Adriano Giannini). Mas, apesar de tudo isso, o longa tem seus momentos, principalmente por Madonna estar muito confortável como uma ricaça mimada que acaba numa ilha perdida ao lado de um dos ajudantes do navio. Diversão despreocupada, apesar de nos remeter mais à persona dela do que a um personagem original.

 

08. Olhos de Serpente (Snake Eyes/Dangerous Game, 1993)
Típico projeto que só virou realidade porque Madonna acreditou, em algum momento, que poderia ser um desafio estimulante que iria ajudá-la no caminho de se tornar uma atriz completa. E ela até está convincente como uma atriz problemática num set de filmagens bastante conturbado. O grande problema é que praticamente ninguém viu o filme, que teve lançamento limitado e foi um imenso fracasso de público, mesmo tendo sido premiado no Festival de Veneza. Mas as oportunidades de ser dirigida por Abel Ferrara e de contracenar com Harvey Keitel devem ter recompensado o esforço. E apesar do resultado ser irregular, é, sem sombra de dúvidas, uma das atuações mais esforçadas de toda a carreira cinematográfica da cantora.

 

 

07. Corpo em Evidência (Body of Evidence, 1993)
Corpo em Evidência fez parte do pacote “vou chocar o mundo”, ao lado do disco Erotica e do livro de fotos Sex – estes lançados um ano antes, em 1992. É, no entanto, a parte mais fraca do trio. A direção do alemão Uli Edel (que depois seria indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro por O Grupo Baader Meinhof, de 2008) é maniqueísta e esquemática, o argumento beira o constrangedor (mulher é suspeita de ter assassinado intencionalmente o amante mais velho de tanto transar com ele) e nem nomes de talento reconhecidos, como Willem Dafoe e Julianne Moore, escapam de maiores embaraços. Mas Madonna está ótima, com diálogos antológicos (“Sim, nós somos animais!”), muita nudez e provocação. Para os fãs mais radicais.

 

06. Quem é esta Garota? (Who’s that Girl?, 1987)
Outro filme essencial no histórico dela. É uma comédia bobinha, cujo maior erro é ser um remake de um filme de Katharine Hepburn (Levada da Breca, 1938). Como as expectativas eram altas, as cobranças estavam no mesmo patamar, e evidentemente não foram alcançadas. Aqui Madonna marca presença como uma ex-presidiária que precisa limpar seu nome, ao mesmo tempo em que se envolve com o advogado almofadinha vivido por Griffin Dunne, o mesmo de Depois de Horas (1985). Os dois até possuem uma química interessante, ela está à vontade em cena, e o projeto rendeu ainda uma turnê de mesmo nome e quatro canções ótimas, com destaque para a agitada Causing a Commotion e para a que deu título ao filme, que chegou a ser indicada ao Globo de Ouro.

 

05. Procura-se Susan Desesperadamente (Desperately Seeking Susan, 1985)
O primeiro grande papel de Madonna no cinema é também até hoje uma das suas aparições mais marcantes na tela grande. Antes disso, havia feito apenas uma pequena participação no romântico Em Busca da Vitória (1985), como uma cantora de bar, e no independente Um Certo Sacrifício (1983), feito antes da fama. Aqui, por outro lado, ela é a estrela absoluta, roubando toda a atenção da protagonista Rosanna Arquette. Colaborou muito o fato da Madonna de 1985 e da Susan deste filme serem praticamente a mesma pessoa, provocando apenas a primeira das tantas confusões entre intérprete e personagem que virou rotina no currículo da estrela. E a canção-tema Into the Groove, feita especialmente para este filme, é um dos maiores clássicos de sua carreira e dos anos 80!

 

04. Uma Equipe Muito Especial (A League of Their Own, 1992)
Este é simplesmente o maior sucesso comercial de toda a carreira cinematográfica de Madonna – isso se deixarmos de fora 007: Um Novo Dia Para Morrer (2002), em que ela fez apenas uma participação especial. Foram mais de US$ 107 milhões de dólares arrecadados somente nas bilheterias norte-americanas! Claro que ajudou o fato dela ser somente uma coadjuvante, e dos protagonistas serem os astros Tom Hanks e Geena Davis (em alta na época, logo após Thelma & Louise, 1991). E a história do time feminino de baseball é comovente e divertida na medida certa, atingindo todo tipo de espectador. De quebra, mais um sucesso na trilha sonora: a balada “This Used to be my Playground”, indicada ao Globo de Ouro!

 

03. Dick Tracy (Dick Tracy, 1990)
Chegamos aos três melhores momentos de Madonna na tela grande. E começamos a escalada com muito brilho: Dick Tracy , adaptação estilosa de um popular personagem das histórias em quadrinhos, conquistou o Oscar de Melhor Canção, por “Sooner or Later”, interpretada por ela e escrita por Stephen Sondheim. A história de amor entre Breathless Mahoney, uma cantora de cabaré, e o herói-título, interpretado por Warren Beatty, saiu da ficção e invadiu a vida real, pontuando mais um momento de grande popularidade da estrela. Aclamada pelo público, pela crítica e apaixonada. Que mais ela poderia querer?

 

02. Na Cama Com Madonna (Truth or Dare: In Bed With Madonna, 1991)
Sim, ela queria mais. E que tal o mundo? Foi isso que conquistou logo em seguida, com o controverso Na Cama com Madonna, longa semiautobiográfico feito durante a turnê Blond Ambition, que reunia os maiores sucessos dela na época. A trama também provocava, alternando sequências coloridas, tiradas diretamente das apresentações musicais, com outras em preto e branco, que revelavam a intimidade da cantora. Polêmica, muito estilo, espetáculos grandiosos, convidados especiais – quem esquece como ela tratou Kevin Costner, Antonio Banderas e Pedro Almodóvar? – e muita música fez desse um dos mais bem sucedidos documentários musicais de toda a história – o faturamento nas bilheterias de todo o mundo foi cerca de seis vezes superior ao seu orçamento! E o memorável lançamento no Festival de Cannes daquele ano já anunciava que ela não estava para brincadeira!

 

01. Evita (Evita, 1996)
E Madonna finalmente chegou ao seu máximo. O sonho de viver a mítica primeira-dama argentina na ópera-rock de Andrew Lloyd Webber a acompanhava há anos, e para conseguir este papel teve que superar uma concorrência fortíssima, batendo nomes como Meryl Streep e Michelle Pfeiffer. E como valeu a pena! Madonna é Evita! Sua performance – tanto interpretando quanto cantando – é irretocável, e até o crítico mais ferrenho é forçado a admitir que não havia escolha mais apropriada. Com direção de Alan Parker e aparecendo ao lado do galã Antonio Banderas, Madonna não poderia estar mais à vontade. Mais um Oscar na estante – pela canção “You Must Love Me” – e os maiores reconhecimentos da carreira dela enquanto intérprete: os Globos de Ouro de Melhor Atriz e de Melhor Filme, ambos na categoria Musical ou Comédia! Parabéns!

Poucos imaginam que o impacto de Madonna na sétima arte possa ser tão forte. Deixando de lado outros títulos importantes, como Surpresa de Shanghai (1986), em que apareceu ao lado do então marido, o oscarizado Sean Penn, Neblina e Sombras (1992), de Woody Allen, Sem Fôlego (1995), de Wayne Wang, Grande Hotel (1995), trabalho coletivo que a aproximou de nomes como Quentin Tarantino e Robert Rodriguez, Garota 6 (1996), de Spike Lee, e a animação Arthur e os Minimoys (2006), de Luc Besson, em que dá a voz da Princesa Selenia, temos uma amplitude do seu potencial e do preparo que teve para sua estreia também atrás das câmeras. Estas grandes parcerias, desempenhos diversificados e muito empenho mostraram que, assim como no mundo da música, Madonna sempre se esforçou ao máximo para obter um justo reconhecimento da tela grande. Algo que está ainda mais próximo após os elogios recebidos por Sujos e Sábios (2008) e, principalmente, W.E.: O Romance do Século, suas duas experiências como diretora.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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