Sharon Stone é um clássico caso de atriz que teve sua beleza supervalorizada em relação ao talento. E olha que dramaticidade não lhe falta. Porém, muitas vezes relegada aos papeis de sex symbol e femme fatale, a intérprete conseguiu poucos papeis que realmente destacaram sua capacidade de atuar. Por isso, dentre seus 16 prêmios e 23 indicações, há espaço para sete lembranças no Framboesa de Ouro (o qual ela “venceu” duas vezes), em contraponto a sua única indicação ao Oscar e às quatro no Globo de Ouro (que ela ganhou uma vez).

O interessante é que Stone sempre se destaca. Mesmo quando parece não oferecer a melhor de suas performances, parece que está sempre à vontade em qualquer papel. Sumida dos holofotes e com poucos filmes de destaque há quase dez anos, a esperança é que Stone retorne logo com alguma longa que exalte suas qualidades. Enquanto isso, a equipe do Papo de Cinema comemora o aniversário da estrela no dia 10 de março com a escolha de seus cinco melhores trabalhos e mais aquele que merece um destaque. Confira!

 

O Vingador do Futuro (Total Recall, 1990)
Por Rodrigo de Oliveira

Antes de cruzar as pernas e deixar a plateia masculina em êxtase em Instinto Selvagem, Sharon Stone usou seu talento – e dotes físicos – em outro longa-metragem dirigido por Paul Verhoeven, O Vingador do Futuro. No longa, Stone vive Lori, a esposa de Douglas Quaid (Arnold Schwarzenegger) – ou não? Na trama, Quaid sonha com uma vida mais empolgante e resolve implantar memórias em uma empresa especializada. Seu sonho? Ser um agente secreto. Algo dá errado e, quando Quaid volta para casa, descobre que sua mulher não é quem ele pensava ser. Na verdade, é uma espiã infiltrada para seguir os passos de Quaid – que era um agente secreto mesmo. Os dois lutam e… o resto é melhor você mesmo conferir. O mais interessante de O Vingador do Futuro é a dúvida que Verhoeven coloca na cabeça do espectador. Quaid era um espião mesmo ou foram as memórias implantadas que esculhambaram o seu cérebro? De qualquer forma, Sharon Stone tem uma presença imponente na primeira metade do filme, fazendo frente a Arnold Schwarzenegger – inclusive fisicamente. Uma pena que seu personagem não tem grande espaço, mas lhe garantiria o passaporte para papéis maiores no futuro próximo.

 

Instinto Selvagem (Basic Instinct, 1992)
Por Thomás Boeira

Produção que causou polêmica na época de seu lançamento graças a seu forte teor sexual e seu nível de violência, Instinto Selvagem acabou chamando tanta atenção que foi um dos maiores sucessos de bilheteria de 1992. Aqui, Michael Douglas interpreta o detetive Nick Curran, que investiga o assassinato de um ex-astro do rock. Ele então se envolve com a escritora Catherine Trammel (Sharon Stone), “ficante” da vítima e principal suspeita do crime, já que este foi cometido exatamente como ela descreve em uma de suas obras. Instinto Selvagem tem na envolvente direção de Paul Verhoeven um de seus pontos altos, compensando alguns tropeços do roteiro, que por pouco não vira uma grande bagunça. Além disso, se Michael Douglas surge eficiente como Nick Curran, Sharon Stone se destaca na forma como encarna toda a ambiguidade de Catherine Trammel, mulher que tem plena noção de seu poder sob os homens (a famosa cena da cruzada de pernas é o exemplo mais óbvio disso) e sabe usar isso com inteligência. Ao mesmo tempo, ela exibe uma curiosa vulnerabilidade, sendo que não conseguimos distinguir se essa parte é real ou apenas fingimento, o que mostra o quão manipuladora ela pode ser. Talvez seja a personagem que mais marcou a carreira de Stone, que viria a reprisar o papel em Instinto Selvagem 2. Mas, como todos devem saber, isso não deu muito certo.

 

Cassino (Casino, 1995)
Por Conrado Heoli

De todos os muitos méritos de Cassino, apenas um foi percebido e agraciado com uma indicação ao Oscar: Sharon Stone. A atriz, que vivia o auge de sua carreira na metade dos anos 1990, também foi a única laureada com um Globo de Ouro pela produção, que ainda conta com performances memoráveis de Robert De Niro e Joe Pesci, além de uma direção mais que segura e incontestável de Martin Scorsese. Nesta que é constantemente e assertivamente apontada como sua melhor performance, Stone vive a ex-prostituta Ginger McKenna, que ao lado de Ace (De Niro) e Nicky (Pesci) experimenta a ascensão e a queda de um império criado a partir de ganancia, corrupção, mentira, roubo, traição e morte. Com suas três horas de duração, Cassino hoje pode parecer uma obra menor e até esquecida entre tantos trabalhos excepcionais de Scorsese, porém não merece estar tão aquém a títulos unânimes como Os Bons Companheiros (1990). Sharon Stone está melhor do que nunca esteve ou estaria em seus filmes seguintes; sua entrega e compromisso são impecáveis e sua caracterização como uma bela e instável mulher, patética e sem vida interior, evidencia que seu talento pode ser equiparável a sua inegável beleza.

 

Sempre Amigos (The Mighty, 1998)
Por Matheus Bonez

Este longa dirigido por Peter Chelsom poderia cair no melodrama fácil apenas pela história: Kevin (Kieran Culkin) é um garoto que sofre de uma doença degenerativa, tem o Q.I. altíssimo, e é rejeitado pelos colegas, especialmente pela sua utilização de muletas. Ele vira o melhor amigo de Max (Elden Henson), um grandão de 13 anos que tem problemas de aprendizado e sofre do mesmo problema de convívio social. Extremamente diferentes por um lado, mas com a rejeição em comum, os rapazes se tornam inseparáveis. No meio disso tudo, está Sharon Stone como a mãe de Kevin. Discreta, atenciosa e cativante na medida, sem nunca cair no choro fácil, a atriz personifica aquela figura que auxilia em todas as dificuldades que aqueles rapazes, especialmente seu filho, tem no dia-a-dia, mas nunca complacente. É daqueles personagens que, se não há alguém de talento por trás, se tornam apenas um peso morto no roteiro. Stone é o contrário. Ela dá luz a um filme já carregado pelo talento de seus dois protagonistas mirins. Não à toa, foi indicada ao Globo de Ouro de Melhor Atriz Coadjuvante na época. Um belo trabalho que merece o lugar de destaque que tem em sua filmografia.

 

A Musa (The Muse, 1999)
Por Robledo Milani

No final do século passado, ninguém representava melhor uma Deusa motivadora de inspirações e criatividade do que Sharon Stone. Após estourar junto ao grande público no thriller Instinto Selvagem e de conseguir uma indicação ao Oscar pelo intenso Cassino, ela engatou uma série de projetos que apenas tentavam repetir o mesmo impacto destes dois sucessos. Mas foi ao se associar ao ator e diretor Albert Brooks nessa simpática comédia romântica sobre um autor em crise que ela entregou um dos seus melhores trabalhos. Inacreditavelmente bela e construindo uma personagem tão leve quanto carismática, Stone faz de sua Sarah Little um tipo inesquecível, uma musa moderna que ao mesmo tempo em que atende os pedidos do escritor – que trabalha como roteirista em Hollywood, em uma divertida crítica ao sistema norte-americano de fazer cinema – também transforma sua vida de pernas pro ar, colocando-o em situações para as quais ele não estava preparado, e das quais terá que dar o melhor de si para lidar com elas. Um exemplo, aliás, que pode ser muito bem empregado em ambos os lados da tela, em nossa vida cotidiana e na carreira da própria atriz, que desde então, infelizmente, não tem acertado mais.

 

+1

As Minas do Rei Salomão (King Solomon’s Mines, 1985)
Por Marcelo Müller 

Baseado no livro de Henry Rider Haggard, As Minas do Rei Salomão chegou aos cinemas surfando na onda de Indiana Jones. Certamente a ideia dos produtores era lucrar ao menos uns tostões na carona da franquia encabeçada por Steven Spielberg e George Lucas. No filme, Richard Chamberlain interpreta um caçador de tesouros que é convencido pela personagem de Sharon Stone a se embrenhar na África, à procura do pai perdido em meio à expedição que tentava achar as famosas Minas do Rei Salomão. Reprisada à exaustão nos tempos áureos da Sessão da Tarde, a aventura de Allan Quatermain é mais que uma cópia vagabunda de um sucesso estrondoso, pois bastante divertido. Quanto à Sharon Stone, que ainda não tinha cruzado as pernas em Instinto Selvagem, sejamos francos. Embora muita gente ache que a única razão de seu sucesso é a beleza, ela aqui faz exatamente o que o papel pede, ou seja, exibe suas curvas e um semblante vulnerável como maneira de seduzir o protagonista (e também a gente) para que ele embarque na missão e depois atua convincentemente como a parte frágil dessa dupla que sofre poucas e boas durante a missão. É um trabalho memorável? Depende do ponto de vista. Para mim, o carisma de Stone em As Minas do Rei Salomão se sobressai.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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