26 nov

5+1 :: Ridley Scott

Não se engane com a carranca de brabo. Ridley Scott pode ter uma faceta séria, mas boa parte de seus astros afirma que ele é uma das pessoas mais bem humoradas que se conhece. Verdade ou não, o fato é que sua estreia nos cinemas em 1977, Os Duelistas, venceu o prêmio de Melhor Primeiro Trabalho em Cannes e ainda concorreu à Palma de Ouro, levando o diretor a assumir dois anos depois o comando de Alien: O Oitavo Passageiro (1979), que logo se tornou um dos clássicos da ficção científica e, também, do terror nas telonas. O cineasta não pararia por aí. Ainda no início dos anos 1980 conseguiria mais um marco em sua carreira com Blade Runner: O Caçador de Andróides (1982). Desde então, Scott passou por altos (os oscarizados Thelma & Louise, 1991, e Gladiador, 2000) e baixos (o pavoroso Até o Limite da Honra, 1997, e o duvidoso Hannibal, de 2001), porém sempre mantendo uma certa coerência em sua filmografia, mesmo que muitas vezes possa não ser visto como um autor com estilo marcante como Stanley Kubrick ou Alfred Hitchcock, por exemplo. Ainda assim, é um dos mais confiáveis por saber navegar por diversos gêneros e entregar um resultado acima da média. Para comemorar seu aniversário neste dia 30 de novembro, a equipe do Papo de Cinema resolveu eleger seus cinco melhores filmes – e aquele que poucos viram, mas merece uma segunda chance. Confira!

 

Alien: O Oitavo Passageiro (Alien, 1979)
O espaço ainda é um território de enigmas bastante inexplorados, assim pertencentes à seara do desconhecido. Em 1979, ou seja, dez anos após o homem pisar pela primeira vez na Lua, e em pleno auge da Guerra Fria, onde os programas espaciais acirravam ainda mais a disputa entre os mundos socialista e capitalista, Ridley Scott apresentava aqui o que de mais impressionante se tinha na mistura entre ficção científica e terror até então. Pensando bem, está para surgir algo próximo da sensação de claustrofobia e inevitabilidade sugeridos pelo filme protagonizado pela subtenente Ripley (Sigourney Weaver), servidora da nave Nostromo, cuja missão é interrompida por uma transmissão de origem desconhecida. Entre conspirações de cunho político, motivadas pela velha ganância, e o próprio desamparo inerente a um ambiente onde se é completamente dependente da máquina (até mesmo para respirar), a tripulação se depara com um planeta estranho, um ser fossilizado (apelidado de Space Joker) e embriões que dão origem ao antagonista alienígena mais famoso do cinema. A tensão é permanente e a violência psicológica só encontra alguma equivalência em seu próprio viés gráfico. Na luta pela sobrevivência ante o desconhecido, surge este verdadeiro clássico. – por Marcelo Müller

 

Blade Runner: O Caçador de Andróides (Blade Runner, 1982)
Presente nas listas dos melhores filmes e citado como uma das mais influentes obras de ficção científica cinematográfica, este filme ultrapassa limites de gênero para instaurar questões existenciais acerca da porção humana em androides. Em 1982, quando o público começava a saborear efeitos especiais, o filme baseado no clássico Do Androids Dream of Electric Sheep?, de Philip K. Dick, assombrou plateias ao unir noir, ação, policial, violência, drama, romance, retrofuturismo e filosofia de forma a debater conceitos abstratos como personalidade, memória, sentimentos e autodeterminação. Em 2019, em uma Los Angeles caótica, escura e pouco amigável, onde prédios cospem fogo sob uma chuva incessante, Rick Deckard (Harrison Ford) é recrutado para exterminar uma super-raça de replicantes que, subjugada ao trabalho escravo extraplanetário, promove uma rebelião. Após o motim, o grupo declarado ilegal segue à Terra para questionar seu criador – e assim finalmente se entender como criatura. Ao fim de um tenso embate, o líder sintético Roy Batty (Rutger Hauer) salva Deckard e, em um discurso modificado em cena pelo ator, traça um distanciamento poético entre suas experiências e memórias vividas e a vida ordinária da maioria das pessoas. Ridley Scott em uma de suas melhores fases. – por Danilo Fantinel

 

Thelma & Louise (idem, 1991)
Depois de Alien: O Oitavo Passageiro (1979) e Blade Runner:  O Caçador de Andróides (1982), muitos podem afirmar que Ridley Scott não apresentou uma produção tão relevante ou de importância cinematográfica como ambas. No entanto, talvez pela capacidade de se despir do exagero, tecnologias e apresentar uma história simples, clássica e de amizade entre duas mulheres que este filme tenha se tornado uma produção tão excepcional e, mais do que isso, essencial de ser assistida. Momento de extrema importância na carreira de Scott, o filme é considerado um dos mais marcantes e premiados da história do cinema, tendo angariado mais de 20 prêmios, apesar de ter levado apenas um Oscar, o de Melhor Roteiro. Trazendo a história das duas personagens-título, interpretadas por Geena Davis e Susan Sarandon, o road movie narra a fuga desenfreada da dupla de amigas que pega a estrada depois de atirar em um estuprador. Repleto de cenas memoráveis, principalmente a última, é um marco do cinema americano e obra indispensável de Scott. – por Renato Cabral

 

Gladiador (Gladiator, 2000)
Faça um épico. Este deve ter sido o conselho de Steven Spielberg para Ridley Scott, quando o diretor inglês comentou não emplacar um sucesso há 20 anos, desde Alien: O Oitavo Passageiro (1979) e Blade Runner: O Caçador de Andróides (1982) – além, é claro, de Thelma & Louise (1991) neste meio tempo. Ao “sim” de Scott, Spielberg já tinha em mente a sugestão. O então dono da Dreamworkds havia recebido de David Franzoni, roteirista de Amistad (1997), a ideia de um filme sobre gladiadores. Quarenta anos depois do sucesso de Spartacus (1960), de Stanley Kubrick, era de Scott o desafio de retomar o tema. Para isso, nada mais seguro do que apostar na estrutura clássica da tragédia. Maximus (Russell Crowe) é o general do exército romano escolhido pelo imperador Marco Aurélio (Richard Harris) para assumir o seu posto. Colocado em segundo plano, o ambicioso Comodus (Joaquin Phoenix), filho do imperador, assassina o pai e entrega Maximus como escravo. Direto do auge para o declínio, lutando por comida no Coliseu, o personagem de Crowe é o herói perfeito, símbolo da força e honra intocadas pela corrupção de um Roma cheia de vícios. Exceto pelo pecado de querer impressionar com diálogos sapienciais e pela emoção exacerbada, tem-se aqui um thriller esquemático, muito bem produzido e competente: fórmula inevitável para o sucesso. – por Willian Silveira

 

O Gângster (American Gangster, 2007)
O diretor Ridley Scott e o ator Russell Crowe têm uma parceria longa e bem sucedida no cinema. Ainda que Gladiador (2000) tenha levado o Oscar de melhor filme em 2001, é este filme aqui que merece o topo na escala de qualidade dos trabalhos assinados pelo cineasta e protagonizados pelo astro. Na trama, vemos a ascensão ao poder do criminoso Frank Lucas (Denzel Washington) e as investigações minuciosas feitas por Richie Roberts (Crowe) para encontrar o principal responsável pelo caos da cidade. Crowe surpreende por estar mais contido que de costume. Richie Roberts é um homem que engasga ao falar na frente de um público maior que cinco pessoas – e a inteligente cena em que ele dá as primeiras instruções a sua nova equipe deixa isso muito claro. Desta forma, o Russell Crowe que é um líder nato em filmes como Gladiador e Mestre dos Mares (2003) poderia não servir para este papel. Com a direção precisa de Ridley Scott, o ator consegue se reinventar, convencendo no personagem. Mesmo com uma narrativa lenta, tem boas atuações e tensão o suficiente para manter o espectador atento a todo o momento – culminando em um terceiro ato com um interessante desfecho. Ótimo filme, infelizmente pouco lembrado. – por Rodrigo de Oliveira

 

+1

Um Bom Ano (A Good Year, 2006)
Um implacável investidor da bolsa de valores recebe a notícia de que seu tio faleceu e lhe deixou de herança uma vinícola na França. Ao tentar vender o negócio familiar, ele descobre que o mesmo precisa ser restaurado e, ao mesmo tempo, vai descobrindo que também precisa de uma reforma em si. Clichê ao extremo, melodramático até demais. A premissa poderia ser facilmente descrita desta maneira. Porém, ao cair nas mãos de Ridley Scott, diretor tão acostumado a lidar com o ser humano em filmes de ficção e aventura, esta “dramédia” ganha ares de uma pequena jóia em sua filmografia por tratar da forma mais simples possível (e, consequentemente, convencional) esta história que parece ser tão batida. Para reforçar, o retorno à parceria com um Russell Crowe totalmente descontraído (algo que não se via desde a comédia romântica Amor em Chamas, de 1997), a presença das estonteantes Marion Cotillard e Abbie Cornish e a belíssima fotografia  de Philippe Le Sourd, que registra as plantações de uva e a área provençal da França da forma mais delicada possível. Um filme que pode não mudar a vida de ninguém e nem a do próprio diretor, mas mostra que Ridley Scott sabe pilotar em terrenos mais leves e descompromissados – algo que todo cineasta parece precisar fazer volta e meia. – por Matheus Bonez

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