Nascido há 124 anos, no dia 16 de abril de 1889 em Londres, Inglaterra, Charles Spencer Chaplin foi um dos pioneiros da sétima arte, um gênio imortal que até hoje encontra fãs e curiosos pelo seu trabalho, mesmo que a maior parte dele tenha sido feita há quase um século. Criador da popular figura do vagabundo Carlitos, Chaplin, além de ator, era também diretor, roteirista, editor, produtor e compositor da maioria dos filmes em que apareceu. Durante sua vida foi casado 4 vezes, tendo tido 11 filhos – somente sua última esposa, Oona, lhe deu 8 crianças, mesmo sendo 54 anos mais nova do que ele! Mas sua marca ficou eternizada entre o público, muito mais do que junto à crítica. Nos mais de 80 curtas e longas em que se envolveu, Chaplin recebeu apenas quatro indicações ao Oscar, tendo ganho somente uma vez, pela Trilha Sonora de Luzes da Ribalta (1952) – excluindo os dois prêmios honorários que recebeu, em 1929 pela “versatilidade em atuar, escrever, dirigir e produzir” O Circo, e em 1972, pelo conjunto de sua obra. Mesmo tendo sido premiado também, já na velhice, no Festival de Veneza, no BAFTA e no Directors Guild of America, seu maior sucesso é o fato de permanecer vivo entre tantos admiradores até hoje, mais de 35 anos após sua morte. E para prestarmos a nossa homenagem, no dia do seu aniversário, apontamos agora seus cinco melhores trabalhos – e mais um, é claro, que merece ser (re)descoberto! Confira!

 

O Garoto (The Kid, 1921), por Danilo Fantinel

Esta comédia dramática é, provavelmente, um dos mais conhecidos filmes de Charles Chaplin. Na trama, uma mãe solteira, sem condições de criar o filho recém-nascido, coloca-o dentro de um carro luxuoso para que seu dono tome conta da criança. Porém, o veículo é roubado. Os ladrões deixam o bebê em uma área pobre da cidade. Carlitos o encontra e decide criá-lo, mesmo que para isso tenha que inserir o menino no esquema de pequenos golpes com os quais sobrevive. A obra analisa a fragilidade da condição feminina na época e promove uma crítica ao momento político, econômico e social norte-americano pré-crise de 1929. Além disso, alterna drama e comédia de forma natural, sendo este um dos pontos fortes da cinematografia de Chaplin. Dois momentos alegóricos são emblemáticos. Em um deles, o Vagabundo passeia em uma viela desviando do lixo que é jogado do alto dos prédios e, ao encontrar o bebê no chão, olha para cima procurando descobrir de qual janela aquela criança teria sido arremessada. Em outro, a crítica recai duramente sobre autoridades e orfanatos. Em estética e narrativa, o filme exibe formatos que posteriormente se espalhariam pelo cinema e também por desenhos animados, como perseguições a pé cômicas e arriscadas fugas sobre telhados. Acima de tudo, O Garoto é um libelo humanista e um protesto em favor à proteção das crianças, que tem na cena de Chaplin abraçado ao menino, após seu resgate de tutores sociais insensíveis, seu símbolo maior.

 

O Circo (The Circus, 1928), por Marcelo Müller

Injustamente pouco lembrado, O Circo é da leva dos filmes mais engraçados de Charles Chaplin. Nele, o vagabundo acaba parando sob a lona enquanto foge da polícia que o toma como batedor de carteiras. Involuntariamente, ele arranca risos na plateia durante a escapada, despertando os instintos gananciosos do dono que logo o contrata tal atração principal de seu espetáculo falido. Chaplin se apaixona, então, pela filha acrobata do líder circense e se põe na condição de seu protetor quanto mais ela for maltratada. O Circo guarda em si a essência do humor físico de Chaplin e nele vemos algumas das gags mais inspiradas da carreira deste grande artista. O jogo de gato e rato do protagonista com policiais numa sala de espelhos; ele andando sobre a corda bamba; a implicância do burro perseguidor; ele preso na jaula com o leão, são todas sequências hilariantes do longa responsável pelo primeiro Oscar de Chaplin (contemplado, simbolicamente, por sua originalidade na atuação, produção e direção), quando o prêmio da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood nem se chamava assim. O amor, por sua vez, serve de linha para costurar a trama que, mais uma vez, leva Chaplin a fazer graça com a pobreza humana sem descuidar do caminho otimista.

 

Luzes da Cidade (City Lights, 1931), por Conrado Heoli

Nosso adorável vagabundo se apaixona por uma florista cega. Encantado pela delicadeza e ingenuidade da moça, tenta se aproximar dela e, por uma casualidade, acaba confundido com um milionário. Um dos mais bonitos e profundos filmes de Charlie Chaplin também é, provavelmente, sua obra mais melancólica. Em Luzes da Cidade o icônico personagem enfrenta um dilema entre a riqueza de espírito e a material, num retrato que traduz as verdadeiras cores da Grande Depressão americana. O preto e o branco saltam aos olhos e sublimam a ausência de diálogos numa época em que a fala era a maior novidade do cinema. Chaplin experimenta o contraste da vida de um milionário vazio e superficial, que gasta seu dinheiro para escapar da realidade, e da pobre florista, que se vale de bons sentimentos, como a esperança de uma vida melhor, para suportar seus difíceis dias. A cena final de Luzes da Cidade traduz toda a poesia implícita pela comédia do cinema de Charlie Chaplin, e a escolha do filme pela American Film Institute como melhor comédia romântica norte-americana indica a importância desta pérola do querido Carlitos.

 

Tempos Modernos (Modern Times, 1936), por Rodrigo de Oliveira

Tempos Modernos é o exemplo perfeito da genialidade de Charlie Chaplin. Mesmo realizado nos longínquos anos 30 do século passado (1936, para ser mais exato), continua fazendo o espectador rir e pensar em iguais proporções. As gags do vagabundo vivido por Chaplin simplesmente não envelheceram. Assistir ao atrapalhado Carlitos trabalhar no sistema Fordista – e se mostrar completamente perdido devido à velocidade das máquinas do capitalismo – serve ainda como crítica ao modo nada humanista de se fazer dinheiro às custas do operariado. Observar um personagem tentando voltar à prisão por ter uma melhor situação dentro da cadeia do que fora parece algo fora da realidade nos dias de hoje? Talvez no Brasil, por causa da situação do nosso sistema prisional. Mas não difícil de imaginar em outras paragens. E o que dizer da bandeira em riste que faz a polícia confundir nosso herói com um comunista? São estas e outras cenas meticulosamente pensadas que fazem de Tempos Modernos um filme deliciosamente atemporal, uma comédia pensante como poucas.

 

O Grande Ditador (The Great Dictator, 1940), por Pedro Henrique Gomes

O Grande Ditador é uma porrada. Muito além da ideia de uma comédia despolitizada e interessada no humor por ele mesmo. Chaplin desdobra a grande questão da Europa no calor e nas tensões do momento. História de humor que é atravessada pelas contradições da história e que dialoga fortemente com toda uma ideia de resistência, através da arte, contra o totalitarismo e a opressão de ordem imperialista, contra todos os que se dizem salvadores e protetores do mundo. Diferentemente do que fazem os comediantes contemporâneos, Chaplin usa sua câmera e suas ideias para fazer uma crítica dos sistemas por dentro, não para rir a partir deles. No final, a redenção: o nazi-fascismo hitlerista sendo desarmado por um barbeiro judeu em um discurso efetivamente “realista” que jamais será esquecido. A história se faz assim.

 

+1

 

A Condessa de Hong Kong (A Countess from Hong Kong, 1967), por Matheus Bonez

Charles Chaplin escreveu, dirigiu, produziu, compôs a trilha sonora e ainda apareceu em uma ponta neste que é seu último trabalho. Criticado por muitos na época, talvez por trazer Marlon Brando e Sophia Loren, grandes e marcantes astros de seu tempo, em papéis “menores” (no sentido de serem mais leves, em contraponto à profundidade dos personagens que ambos costumavam interpretar) e também porque a trama seja datada demais (para se ter uma ideia, o roteiro foi escrito originalmente em 1938), A Condessa de Hong Kong é, na verdade, uma divertida e descompromissada comédia romântica. Loren faz o papel de uma prostituta russa refugiada em Hong Kong. Quando um navio aporta na região, ela acaba se escondendo na cabine de um empresário americano (Brando) e, assim, fugir para os EUA. Apesar de beirar à ingenuidade em muitas cenas e resoluções, o estilo de Chaplin toma conta do longa e das interpretações (de forma branda neste quesito), deixando o público leve com boas risadas. Ainda mais em uma época densa como os anos 1960. Sem falar que sempre é bom ver astros do porte da dupla principal parecendo bem à vontade e se divertindo. Chaplin pode ter não feito um último trabalho à altura de filmes como O Grande Ditador e Tempos Modernos, mas com certeza deixou sua marca. Saudade do eterno Carlitos.

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