Johnny Massaro é o típico galã dos nossos tempos. Longe de ser um selvagem como Marlon Brando nos anos 1950, ou problemático como Robert De Niro nos anos 1970, ou audacioso como Tom Cruise nos anos 1990, ele prefere mostrar seu lado mais sensível, sem nunca deixar de lado sua masculinidade. Com 26 anos recém completados, o jovem que estreou como o filho de Mercedes (Lília Cabral) na comédia romântica feminina Divã (2009), tem demonstrado nos últimos tempos um forte apetite para estrelar seus próprios projetos. Tanto que, em menos de um ano, já está no seu segundo filme como protagonista. Após O Filme da Minha Vida (2017), de Selton Mello, ele volta às telas como Antonio, o jovem que foi recém abandonado pela namorada em Todas as Razões para Esquecer, já em cartaz nos cinemas. E foi sobre esse mais recente trabalho que ele conversou com exclusividade com o Papo de Cinema. Confira!

 

Olá, Johnny. O Antônio, teu personagem em Todas as Razões para Esquecer, durante boa parte do filme está um tanto perdido. Você acha que ele, no final, consegue se encontrar?
Ah, essa é a grande questão, não é mesmo? Sabe, também me pergunto isso. Acho que o que ele consegue talvez não seja se encontrar, exatamente, mas ao menos achar um rumo para seguir. Penso que a conclusão é que não há lugar para chegar. O Antônio fica o tempo inteiro tentando atingir alguma espécie de plenitude, em busca do próprio nirvana, e isso não existe – ou, ao menos, não é tão fácil de ser atingido. A vida é conviver com a dor, aceitar que situações como essa irão acontecer e se repetir, e tentar tirar proveito e lições de cada uma delas.

O que te atraiu no Antônio e o que ele tem de diferente de outros personagens que já interpretaste, como o Tony Terranova, de O Filme da Minha Vida, ou o Alisson, de A Frente Fria que a Chuva Traz?
Cara, essa é uma pergunta interessante. Confesso que não consigo detectar exatamente o que me chamou atenção no Antônio, pra começar. O processo foi muito simples, eu li o roteiro e curti a história. O que percebi, no entanto, é que ali havia uma oportunidade de falar sobre relacionamentos de uma maneira atual, moderna, e mais importante, sob uma ótica masculina. Mas você está certo, ele não se assemelha aos meus personagens anteriores. O Alisson, que fiz em A Frente Fria que a Chuva Traz, era um porra louca, um cara completamente egocêntrico, que só pensava nele e em mais ninguém. Era alguém perverso. Já o Tony, por sua vez era um doce, praticamente um menino ainda. A pegada, com ele, era outra coisa, muito mais sensível, quase ingênua. O Antônio não, ele está num outro momento. Os três são completamente diferentes entre si, algo que nem chegou a ser consciente em cada uma dessas escolhas, mas acho que é o mais bacana de tudo.

 

Enquanto ator, o que te motiva ao assumir cada novo projeto?
Primeiro, tenho que sentir que aquilo faz algum sentido para mim. Ou que vai ser desafiante em algum lugar. O que busco, sobretudo, é uma espécie de leveza (não sei se é essa palavra). É foda ficar colocando consciência nas coisas. Realmente, não busco a diferença entre mim e um personagem. Parto muito das semelhanças, no que me identifico naquela história. Não posso dar nada que já não esteja dentro de mim. Vamos botando uma lupa, aumentando ou diminuindo umas coisas. Sem isso, não teria como fazer. Talvez uma boa história seja algo determinante, fico pensando, mas, mesmo assim, não tenho certeza. Por outro lado, é mais fácil falar de coisas que tenha recusado. Tipo, se o que me oferecem não fizer sentido para mim naquele momento, prefiro ficar de fora. Ou se for algo que se aproxima de uma estética mais violenta, por exemplo. Filmes como Cidade de Deus (2002), Carandiru (2003) ou Tropa de Elite (2007)… por mais bem realizados que seja, e socialmente relevantes, são temáticas que não gostaria de me envolver. Eu, enquanto artista, tento evitar esse tipo de envolvimento. Me conecto muito com as energias de cada trabalho que assumo. Procuro evitar energias negativas. Não sei se exatamente no caso destes projetos que cito, que me tivessem sido oferecidos, eu teria recusado, mas me refiro à produções semelhantes. Seria muito desafiador, principalmente por conta destes sentimentos, destas percepções e como elas caem sobre mim. Não há nada que exclua, enquanto artista, é claro. Precisamos estar abertos a tudo. Mas, nesse momento, prefiro não me conectar a isso. Embora saiba que exista violência, terror, e que há histórias que precisam tratar sobre isso, eu, no entanto, prefiro ficar de fora.

Johnny Massaro e o diretor Pedro Coutinho na pré-estreia de Todas as Razões para Esquecer

Todas as Razões para Esquecer fala muito sobre uma etapa das nossas vidas – o fim de um relacionamento – que todo mundo já passou em algum momento ou outro. Com toda essa identificação, você acha que é mais difícil dar ou levar o fora de alguém?
Acho que as duas coisas são bem difíceis. Falar para alguém que não dá mais é muito complicado. Mas ouvir isso, ainda mais de alguém que você ama – ou acredita amar – é ainda pior. Se tivesse que escolher entre uma e outra, sabe o que faria? Iria para Marte (risos).

 

O quanto o Antônio tem do Johnny Massaro na sua composição? Você se identifica com ele ou faria tudo diferente?
Na real, o filme me ensinou a ser um pouco como o Antônio. Por exemplo, eu tinha um preconceito louco contra remédios, em usar medicamentos mais pesados, tipo tarja preta. Mas ter passado por esse filme me ensinou a importância destes tratamentos. Não seria um caminho que recorreria, ainda penso assim, mas agora já entendo quem deles precisa. Talvez, assim como o Antônio, não recorreria à aplicativos em smartphones ou na internet para superar uma decepção. Nesse ponto somos bem parecidos. O Antônio tem uma espécie de dificuldade, na lida social, que às vezes tenho bastante. É algo que me esforço e tento superar. Acho que falar é um processo muito difícil. Um milhão de coisas passando pela cabeça, como organizar tudo isso e colocar no mundo? Às vezes frequento esse lugar.

 

Tem acompanhado as pré-estreias ou passagens do filme por festivais? Como tem percebido a recepção do público?
Vi no Festival do Rio e na Mostra de São Paulo, no ano passado. Em ambas as ocasiões, fiquei contentíssimo com a recepção que tivemos. É um filme leve, bem embalado, que penso que funciona dentro do que se propõe. Acho uma graça, me deixei levar completamente. Foi quase como se eu não tivesse feito ele, sabe? Entrei na história de cabeça, enquanto espectador, mesmo. Estive também em Cuba, e me pareceu que o filme se comunicou bem no exterior. Agora tá mais difícil, com a estreia ao mesmo tempo da novela. Já recebi alguns retornos, mensagens de pessoas que viram e gostaram. É tão legal quando isso acontece, principalmente com um filme desses, pequeno, feito no amor e na parceria, sem dinheiro algum, e ver que eventualmente alguém gosta de verdade. Vale à pena todo o esforço que depositamos, é o que nos dá sentido.

Johnny Massaro e o diretor Pedro Coutinho nos bastidores de Todas as Razões para Esquecer

Você está na novela Deus Salve o Rei (2018) e entrando em cartaz agora nos cinemas. Dá tempo para pensar em futuros projetos? Tem como adiantar alguma novidade?
Tenho um outro filme pronto, que fiz também já há algum tempo, que se chama Partiu Paraguai. Esse eu já filmei, minha participação nele acabou, agora estou esperando ficar pronto. Foi um pouco antes do Todas as Razões para Esquecer… ou teria sido depois? Enfim, foi há uns dois anos que filmei os dois, um logo após o outro. No Partiu Paraguai o meu personagem é o Sócrates, ele é um adolescente. Mais novo do que eu, aliás, deve ter uns 18, 17 anos. E ele sonha em ser músico. Quem tá comigo no elenco é a Bruna Linzmeyer, que vive a melhor amiga dele. Eles querem, juntos, viver da música. Quando ficam sabendo de um festival no Paraguai, decidem fazer de tudo para participar. E acabam pegando carona com um ex-rock star, um cara que já foi famoso, e que agora tá tentando voltar, que é o papel do Felipe Camargo. E os três vão juntos nessa viagem, unidos pela música. É um road movie bem clássico, e o bacana é que o roteiro é do Matheus Souza, que já fez filmes como Apenas o Fim (2008), Tamo Junto (2016) e o Confissões de Adolescente (2013). Tem tudo para ficar incrível, to bem curioso para ver pronto.

(Entrevista feita por telefone na conexão Porto Alegre / Rio de Janeiro em março de 2018)

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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