Nascido em Miami, Florida, em 9 de maio de 1996, Noah Centineo se tornou o rosto de alguns dos maiores sucessos da Netflix, uma das maiores plataformas de streaming de todo o mundo. E se seus projetos não costumam figurar entre as apostas do Oscar, como os recentes O Irlandês (2019) e História de um Casamento (2019), por outro lado despontam como favoritos de um público cada vez maior. Isso tanto é verdade que um dos primeiros longas por ele estrelado, a comédia romântica Para Todos os Garotos que já Amei (2018), acabou de ganhar uma continuação – Para Todos os Garotos: P.S. Ainda Amo Você (2020), já disponível na Netflix desde o dia 12 de fevereiro – e teve uma terceira parte confirmada para o final deste ano. Aproveitando a passagem do galã pelo Brasil, onde foi chamado para participar do Tudum Festival, em São Paulo, no final de janeiro, o Papo de Cinema se encontrou com o ator, durante as conversas que teve com a imprensa local, e falou com ele sobre esse novo filme e sobre seu futuro profissional, momento que aproveitou para revelar algumas novidades de última hora! Confira!
Se no primeiro filme você era a única paixão de Lara Jean, em Para Todos os Garotos: P.S. Ainda Amo Você há um novo garoto competindo por ela. Como foi lidar com essa nova situação?
Antes de mais nada, é importante dizer o quanto foi bom voltar para Vancouver, onde ocorreram as filmagens. Foi como estar mais uma vez em casa. Conheço o Jordan Fisher, que interpreta o John Ambrose, há mais de oito anos, somos muito amigos. Nós dois crescemos em Los Angeles, fazendo testes e tal. Por tudo isso, em nenhum momento houve uma competição, pois somos ambos atores, e temos muito respeito um pelo outro. Na real, foi muito divertido, ainda mais por estar trabalhando ao lado de alguém tão talentoso quanto ele. E quando ele entra em cena, tudo parece se encaixar, não é mesmo? Ele arrebenta! Trouxe tanto amor e carinho para esse personagem – e, preciso dizer, é muito parecido com ele mesmo. John é, de fato, tudo aquilo que você vê em cena. Ele se saiu muito bem, o que foi ótimo para todos nós.
Se antes Lara Jean via o Peter como o namorado perfeito, agora ela começa a perceber que nem tudo é tão certinho assim. Como foi fazer essa transição?
Você está certo. E, enquanto ator, foi uma oportunidade fantástica poder brincar com esse outro lado do personagem. Todos nós, seres humanos, quando estamos apaixonados, costumamos colocar a outra pessoa num pedestal, e isso acaba por tirar a humanidade dela. Nós cometemos erros, isso faz parte da vida. E poder explorar esse outro lado do Peter era necessário, pois assim conseguimos humanizá-lo. Com isso, acredito, será mais fácil se identificar com ele. E toda relação não é a respeito dos problemas, mas, sim, sobre como lidar com eles e aprender a superá-los.
Existe algo, no modo de ser do Peter, que você levou para a sua vida real?
Acho que foi bem o contrário, o Peter é que tem muito de mim (risos). As maneiras dele, ou o modo como se dão as conversas, de não levar tudo tão à sério. Há muito nele que está em mim também. Mas é claro, adoraria dizer que sou tão bom quanto ele em lacrosse, mas isso não seria verdade (risos).
Indo no sentido oposto, quais dos teus personagens anteriores é o mais diferente de você?
Deixa ver… (pensando) Bom, poderia dizer o Langston, de As Panteras (2019), pois definitivamente não sou um cientista (risos). Talvez ele tenha sido a minha primeira oportunidade de me distanciar desse tipo que acabei criando para mim mesmo. Ao mesmo tempo, posso afirmar que o mais próximo de mim foi o Jamey, de Sierra Burgess é uma Loser (2018). Eu sou total aquele cara!
O que há no romance entre Peter e Lara Jean que mexe tanto com as pessoas?
Acho que as pessoas adoram o modo como elas próprias se sentem quando veem Peter e Lara Jean juntos. Os dois representam aquele momento tão especial em que nos apaixonamos e, ao menos no primeiro filme, eles passam uma boa sensação de segurança e proteção. Agora, na sequência, passam essa ideia de perseverança e tenacidade. Diante de um conflito, conseguem superá-lo. Dito isso, são figuras com corações muito puros, que nunca fazem algo aleatório apenas para machucar o outro. Tudo o que mais querem é proteger um ao outro. Por tudo isso, acho que as pessoas olham para eles como um ideal de relacionamento. Mas aí voltamos para a questão do pedestal, que havia comentado antes. Por isso que era tão importante humanizá-los.
Mas você acha que esse é um tipo de relacionamento verossímil, que pode acontecer na vida real?
Com certeza. Acho que se duas pessoas estiverem abertas o suficiente para se encontrar no outro, qualquer um pode viver uma experiência como essa.
Os fãs ficam completamente loucos com vocês. O que motiva tanta paixão?
É essa questão de se sentir bem, entende? O mundo está tão cheio de assuntos mais sérios, tantas tragédias acontecendo – que sempre ocorreram, mas agora, com as redes sociais, parecem estar por todos os lados! Falamos sobre o coronavírus, sobre o Trump… sentimos medo a todo instante. Então, o escapismo sempre foi uma parte muito importante no sentido de cuidarmos de nós mesmos. Quando a Grande Depressão aconteceu nos Estados Unidos, nunca se vendeu tantos ingressos nos cinemas! Estamos vivendo uma época complicada, e por isso o público quer, mais do que nunca, se entreter e se sentir bem com alguma coisa.
Você fazia ideia que essa série de filmes fazia tanto sucesso no Brasil?
Não. Nem imaginávamos que seria um sucesso nos Estados Unidos! Começou como um projeto independente, nem distribuidora nós tínhamos. Acabou indo parar na Netflix muito antes da Netflix se tornar essa gigante que é hoje. Mas entrou no catálogo da plataforma de streaming bem no momento em que ela começava a despertar a atenção de tanta gente. Ou seja, o timing foi perfeito. Se você me dissesse, lá na época em que estávamos filmando o Para Todos os Garotos que Já Amei, que se tornaria um sucesso de proporções globais, nunca teria acreditado. Sabe, este é um dos maiores fenômenos de toda a história da Netflix! Fizemos parte do zeitgeist deste momento!
O terceiro filme já está confirmado?
Sim. E já foi filmado. As filmagens ocorreram de forma simultânea, o segundo e o terceiro. Está pronto, ou sendo finalizado. Deve estrear ainda nesse ano, acredito. Mas não foi confirmado. Tudo o que posso dizer, com certeza, é que o terceiro capítulo dessa história vai, definitivamente, acontecer.
Nesse novo filme, quem tenta escrever uma carta é o Peter, mas acaba se inspirando em Edgar Allan Poe…
Pois é! (risos) Muito interessante essa escolha dele, não acha?
Você acredita que, se ele realmente se dedicasse, conseguiria ter escrito essa carta?
Num terceiro filme? Olha… O que posso dizer é que não penso no Peter como um escritor. Essa é a área da Lara Jean.
Peter vem de um lar desfeito, os pais deles são separados, mas mesmo assim ele se esforça para não repetir esse comportamento e que a relação dele com Lara Jean funcione.
É no primeiro filme em que descobrimos que ele vem de uma família cujos pais se separaram. O pai dele foi embora, construiu uma nova família e envia para ele apenas um cartão-postal no final do ano. Essa é uma ótima pergunta, e penso que é por tudo isso que Peter leva tão a sério a monogamia, por assim dizer. Ele é completamente fiel. Foi assim com a Gen, e é também com a Lara Jean. Quando você é muito jovem, é comum olhar para os pais como se fossem deuses, incapazes de fazer qualquer coisa errada. Mas à medida em que vamos crescendo, as falhas vão se tornando visíveis. É quando você tem que tomar uma decisão: ou irá fazer exatamente como eles, assumindo os mesmos erros, ou aprender com os tropeços deles e fazer exatamente o oposto. Ou, como acontece na maioria das vezes, fazer um pouco de cada (risos). No melhor dos cenários, pegue o que funciona, e deixe de lado o que não presta.
Quais foram as tuas referências nesse contexto?
É por isso que Peter é tão comprometido em fazer com que a relação com Lara Jean funcione, justamente por ter vindo de um lar desfeito. Ele quer que dê certo. Se temos uma boa ideia sobre isso nos dois primeiros filmes, será no terceiro que as coisas ficarão mais profundas. Sabe, até agora, a protagonista tem sido a Lara Jean, e você gosta do Peter por ele ser constante, estar sempre por perto, afinal, é o namorado, ele é romântico, é querido com ela. Luta por ela, a protege, está presente. Mas não há um arco narrativo só sobre ele, e estou muito entusiasmado com a possibilidade das pessoas descobrirem mais a respeito dele.
Qual a sua cena favorita em Para Todos os Garotos: P.S. Ainda Amo Você?
Adoro a discussão entre Peter e Lara Jean, após a sequência na casa da árvore. Foi muito divertido filmá-la. Adoro quando temos conflitos pela frente, é isso que me desafia como ator. É muito bom poder se soltar em cena (risos). E, claro, a própria cena na casa da árvore foi muito especial, pois pela primeira vez foi possível estarmos todos reunidos num só lugar. Tive a oportunidade de estar ao lado do Ross Butler, que faz o meu melhor amigo, e também do Jordan Fisher, que é um dos meus melhores amigos (risos). Todo mundo estava ali, nós seis, num mesmo cenário, filmando por dois dias. Foi muito divertido.
O primeiro filme foi dirigido por uma mulher, e esse, agora, tem um homem na direção. Quais as diferenças entre eles?
A diferença básica, posso afirmar, veio da forma como se comunicavam conosco do elenco. Isso se deve ao fato de que Michael Fimognari, que dirigiu o segundo e também o terceiro filme, foi diretor de fotografia do anterior (e de todos da trilogia, aliás). Ou seja, estava completamente envolvido com o projeto. Susan Johnson, nossa primeira diretora, foi incrível, mas Michael também. Talvez seja possível notar um toque mais masculino nesse segundo episódio, mas, no final do dia, era ele, também, que estava no controle da maioria das tomadas do longa inicial. E ele estava na sala de edição, colaborando o tempo todo. Ou seja, estava familiarizado. Não vai acontecer de você ir assistir ao segundo e ficar se perguntando “onde aquele filme foi parar?”, pois a narrativa continua a mesma.
O que guia as suas escolhas profissionais? Afinal, você é um dos rostos da Netflix, um serviço que, apesar de oferecer filmes, se tornou conhecido em grande parte pelas séries que produz. E você não faz parte desses seriados, ao menos não mais, como fazia no início da carreira.
Veja bem, adoro o tempo em que passei na série Os Fosters (2015-2018). Tive muita sorte de ter participado, o elenco era incrível, como estar em família. Mas aquele show durou cinco anos, e estive nele por dois, quase três desses anos. Interpretar o mesmo personagem por tanto tempo pode ser bom por um lado, pois você tem a oportunidade de realmente mergulhar nele, mas, pessoalmente, não sei se quero passar por isso de novo. Ficar anos e anos fazendo a mesma coisa não me desafia mais. Acho que esse formato do Para Todos os Garotos, apenas três filmes, é o ideal para mim.
Você prefere participar de filmes?
Você passa de seis a oito semanas filmando para cada filme, e é perfeito. Prefiro assim. Não quero dizer que nunca mais irei participar de uma série novamente, mas quem sabe de minisséries? Adoro como foi feito The Witcher (2019), apenas oito episódios em uma temporada. Você não precisa trabalhar por um período muito longo de tempo na mesma coisa. Passa, no máximo, umas dez semanas, e daí já está pronto para algo novo.
O que lhe desafia como artista?
Tanto como ator, mas também como empresário, gosto de olhar para a minha carreira e projetar como serão os próximos anos. Para onde quero ir. Nunca disse “sim” para algo apenas pelo dinheiro que me ofereceram. Mesmo nesse segundo e no terceiro filme, era importante para nós que a história fosse contada da forma apropriada. Só assinamos contrato para o primeiro, renegociamos tudo para as continuações. Quando nos convidaram a voltar para esses personagens, tudo precisava estar certo: queria ver o roteiro, qual seria a equipe envolvida? Tudo precisava estar no seu devido lugar. Já disse “não” para muitos convites que me fizeram. O que é bizarro, pois no começo você vai de teste em teste torcendo para ser aprovado, rezando para que lhe deem alguma oportunidade, basicamente porque você precisa de dinheiro e tem que sobreviver, mas, de uma hora para outra, o jogo se inverte, e são as produtoras que começam a vir até você com ideias de roteiros.
Hoje você pode escolher o que quer fazer?
As ofertas começam a surgir, e muitas delas, talvez 80%, eu diria “sim” cinco anos atrás. Mas agora a situação é diferente, e se não acredito de verdade no roteiro, ou se o roteiro é bom, mas não é o cineasta certo para realizá-lo, talvez seja melhor deixar passar. Estou em um lugar completamente diferente. Por tudo isso, acredito que o próximo passo que darei será o mais crítico de todos. Ainda tenho que me provar. Não é porque tive sorte com um filme, que acabou gerando outros dois, que todos os que fizer a partir de agora causarão o mesmo impacto. Ou mesmo que façam o mesmo sucesso, isso também não quer dizer que serão respeitados. São decisões muito importantes que terei que tomar nos próximos anos.
O que podemos esperar de você nos próximos anos? Pode nos adiantar algo sobre He-Man?
(risos) Infelizmente, não posso falar nada a respeito desse filme. Mas o que posso dizer é que estou dando início a uma companhia, que se chama Favored Nations. Não quero adiantar muito a respeito, mas é algo ao qual tenho me dedicado nos últimos dois anos. Foi um processo bem longo. Sou um dos fundadores, ao lado de dois outros sócios. Tenho centrado todos os meus esforços nessa iniciativa, e estou muito entusiasmado. Vai ser incrível!
(Entrevista feita ao vivo em São Paulo em janeiro de 2020)
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