Destaque do 13º Festival Varilux de Cinema FrancêsOs Jovens Amantes (2021) é protagonizado por Shauna (Fanny Ardant) e Pierre (Melvil Poupaud). Eles se conheceram há 15 anos nos corredores de um hospital. Quando os dois se reencontram, ela tem 70 anos e ele 45. No entanto, a diferença de idade não será impeditiva para que ambos caiam de amores pelo outro. Portanto, temos a abordagem de um relacionamento pouco visto no cinema: o de uma mulher bem mais velha do que seu pretendente romântico. A cineasta francesa Carine Tardieu veio ao Brasil apresentar o longa-metragem dentro do evento mais relevante como porta de entrada à produção audiovisual francesa em nosso país. E, claro, que o Papo de Cinema teve dois dedinhos de prosa com a realizadora para saber como foi escolher o elenco, de onde surgiu essa premissa aqui encarada com evidentes toques melodramáticos e saber como foi dirigir uma das mais importantes atrizes da história do cinema europeu. O resultado você confere agora nesta entrevista exclusiva com Carine Tardieu sobre Os Jovens Amantes, exibido no 13º Festival Varilux de Cinema Francês.

O relacionamento entre uma mulher madura e um homem mais jovem infelizmente ainda é um tabu social. Era a sua intenção principal afrontar esse tabu?
Não tinha a intenção de fazer um filme com mensagens. Não era o meu objetivo abordar especificamente do ponto de vista desse tabu social. Minha vontade inicial era contar uma história de amor, muito singular, claro, mas, antes de qualquer outra coisa, uma história de amor. Herdei essa premissa da Sólveig Anspach (nota da edição: uma das roteiristas do filme). A mãe dela tinha vivido essa história. Sólveig acabou ficando doente, teve câncer, e me fez prometer, dois dias antes de morrer, que o filme seria feito. Sólveig era muito comovida por essa história da mãe que, a certa altura da vida, anunciou que estava apaixonada por um homem com a sua idade. O que me importava, para além do tabu, era contar que tudo é possível até que a morte chegue, tudo é possível.

E como se deu a escolha da Fanny Ardant como protagonista?
Ela é uma mulher que assume a idade. Para mim era importante isso, não ter alguém que ficasse preocupada, por exemplo, com a luz que poderia revelar as marcas do tempo. Quando a personagem está feliz, Fanny parece 20 anos mais jovem. E o contrário também é verdadeiro, ou seja, quando ela fica triste parece ter 80 anos. Afinal, temos a idade das emoções que cultivamos.

Levando em consideração que a Fanny Ardant é um ícone do cinema, como foi dirigi-la? Você sentia uma responsabilidade adicional por dirigir alguém como ela?
Tudo o que espero é que haja harmonia nesse encontro com os intérpretes. Vejo o set de filmagem como um canteiro de obras, onde os atores são operários. Sei exatamente o que quero e uma dessas coisas é que todos estejam no mesmo nível. Então, quando encontrei a Fanny, nós duas queríamos muito que as coisas funcionassem. Não disse a ela algo do tipo “por favor, faça meu filme” (risos). Exigi que assumisse a idade, algo que para mim era fundamental. Então, não houve pressão extra por conta da escalação da Fanny. O que me impressionou ao encontra-la foi ver o quanto esse ícone é uma mulher tímida, bem diferente da imagem de autoconfiança inabalável que pressupomos ao vê-la em cena. Essa timidez dela me interessou muito, até porque não é a imagem pública que Fanny passa.

Foto/Vittorio Zunino Celotto

O romance é um gênero muito frequente no cinema e por isso mesmo carrega uma série de clichês e recorrências. Qual era a sua preocupação nesse sentido? Afastar-se dos lugares-comuns desse tipo de filme ou aproveita-los para contar a sua história?
Como você disse antes, essa é uma história de amor que quebra o frequentemente visto por ter uma mulher mais velha e um homem mais jovem como amantes. Não estamos muito acostumados a ver esse tipo de envolvimento no cinema. Acho muito importante os papeis coadjuvantes, por exemplo, o da esposa traída que tem uma reação inesperada, pelo menos é isso que tenho sentido nas sessões com público. Esse é outro aspecto que contrapõe as expectativas desse tipo de filme. Assumi plenamente que iria fazer um melodrama à moda antiga, com direito a corrida na rua para os amantes se reencontrarem. Isso é um clichê totalmente assumido. O desafio era encontrar dentro de uma história clássica uma forma de narrar que seja moderna para, aí sim, chegar a alguma originalidade.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *