No meio de tantos filmes com temática semelhante – os recentes Amores Imaginários (2010), de Xavier Dolan, e Triângulo Amoroso (2010), de Tom Tykwer, ou o cult Três Formas de Amar (1994), de Andrew Fleming, por exemplo – o que mais chama atenção no novo Os 3 é justamente a tranquilidade com o que o tema da liberdade sexual entre gêneros é encarado. Assim como nos demais citados, aqui temos dois rapazes e uma moça vivendo juntos, se apaixonando, se desejando. A única regra que estabelecem entre eles logo é quebrada, e a partir desse momento tudo irá valer – mesmo que as consequências sejam altas.
Trabalho que marca a volta à direção de longas-metragens de Nando Olival após 10 anos, que em 2001 realizou Domésticas ao lado de Fernando Meirelles, Os 3 tem muito de sua força no carisma e entrosamento do elenco principal, formado pelos novatos Juliana Schalch, Victor Mendes e Gabriel Godoy. O trio é praticamente estreante no cinema – apenas Juliana fez antes uma pequena participação em Tropa de Elite 2 – e respondeu à altura o desafio de conduzir essa história bastante moderna e atual. E foi com os rapazes que conversei para saber um pouco mais sobre as filmagens e o que eles esperam agora que o filme está entrando em cartaz por todo o Brasil.
Como vocês foram parar em Os 3?
Gabriel Godoy: Nós todos somos atores, mas tudo o que havíamos feito até então era teatro, um pouco de televisão, e só. Até o dia em que uma amiga da USP me avisou que tinha um teste para cinema sendo feito, e que eu deveria ir lá. Nossa, teste para cinema é muito raro, então fui atrás na hora. De cara me disseram que eu era muito velho para o papel – tenho 27 anos, e o Cazé, meu personagem, no começo da história tem 18, 19 anos – e que seria complicado. Eu não tinha muitas esperanças, mas quando vi fui convidado e deu tudo certo!
Victor Mendes: Comigo foi um pouco diferente. Eu estava no páreo por um dos dois papéis masculinos desde o princípio. Fui o que mais fez testes de nós três. Acho que fiz uns sete testes, a Ju uns 5 e o Gabriel fez apenas 2! No começo era eu, a Ju e um outro ator, até o dia em que nos avisaram que o Nando (Olival, o diretor) não havia aprovado esse cara e que viria um outro. Fiquei um pouco nervoso, achando que iria cair fora também (risos). Mas daí o Gabriel apareceu e as coisas realmente fluíram melhor entre nós três. A gente já se conhecia de vista, então havia uma simpatia.
A química entre vocês três realmente impressiona. Isso foi natural ou precisaram ensaiar muito para chegar a esse nível de entendimento?
GG: Tudo é muito orgânico no filme, e isso se deve principalmente aos ensaios que fizemos antes. Desde o princípio tínhamos em mente que deveria ser muito simples, que éramos todos iguais. Afinal, os três estavam estreando juntos no cinema. Humildade era o nosso lema.
VM: Eu tava muito empolgado, com muita vontade, bem estimulado mesmo. A gente ensaiou bastante. E o Nando estava sempre ao nosso lado, tivemos muito apoio.
Quando o roteiro chegou às mãos de vocês, quais as expectativas que tiveram com o texto?
VM: Eu já era fã do Nando, o Domésticas é um dos meus filmes favoritos! Então, só a oportunidade de poder trabalhar com ele já era o máximo. E tinha ainda o Ricardo Della Rosa, o Daniel Rezende… só fera! Agora, ao ler o roteiro pela primeira vez percebi que seria algo especial. O que também me preocupou um pouco, pois estavam apostando muito em mim, e sabia que teria que dar o meu melhor para não desapontar ninguém.
GG: Esse é um filme muito jovem, muito dinâmico, que fala de assuntos do momento, como reality shows, internet, sexualidade. O que vi foi que estaríamos em algo moderno, atual, e que a comunicação com o público seria o forte do projeto.
Enquanto estavam nas filmagens já imaginavam como o filme seria?
VM: Eu nunca havia feito cinema, portanto não tinha a menor ideia! Claro, a gente sempre imagina que está fazendo o melhor, mas se filma tudo fora de ordem, é estranho. Quando fica pronto e vamos ver finalmente o filme pronto, é como se fossemos um espectador qualquer, porque não temos muita ideia do que irá aparecer.
GG: Muito foi construído durante a edição. O Daniel Rezende, que fez filmes incríveis como o Cidade de Deus, é um gênio. Ele tem o crédito pelo filme ser tão ágil, legal de se assistir. Eu me surpreendi com o que vi, mesmo tendo estado lá filmando. O resultado é incrível.
Qual é o público de Os 3?
GG: Esse é um filme que fala com o público de hoje. Qualquer pessoa de qualquer idade, pode ver e curtir. O ser humano gosta de caos, conflitos, sexo, traição. Estão em cena três pessoas que não entendem o que está acontecendo, são muito ingênuos. Mas aos poucos vão se ligando e mudando as regras do jogo. É um suspense também.
VM: Quem for ver o filme irá perceber que ele dialoga bem com o público. E esse é o nosso maior orgulho.
O que vocês pensam sobre o tema de reality shows?
GG: Eu adoro reality shows, vejo todos. Tenho até um dvd com a primeira edição do Casa dos Artistas, me divirto muito com aquilo. Mas tudo tem seus limites, e acho que Os 3 mostra bem isso.
VM: Reality shows, internet, sexo… são assuntos do momento. Penso que a visão do filme é bastante libertária nesse sentido, sem julgamentos. Cada um faz o que quiser da sua vida. Mas é preciso saber respeitar a dos outros
Gabriel, o teu personagem é o mais perdido em cena. Seria uma crítica à juventude atual, que não sabe muito bem o que quer?
GG: Não creio, não. Talvez seja, mas se for é coisa do Nando, o diretor. Eu não interpretei dessa forma. A história é só um recorte na vida destes três jovens. Sou contra tu ter que decidir todo o teu futuro aos 17 anos, quando vai fazer o vestibular. É muito cedo, tem mesmo muito adolescente que não sabe o que quer e que precisa de mais tempo para se decidir. Mas o filme não está aí para pregar nada. Tudo é muito sutil, sem exageros.
Victor, o teu personagem é meio que o fio condutor da história. Tudo é visto sob a ótica dele. Isso foi uma responsabilidade a mais pra ti?
VM: A responsabilidade foi normal, o Nando Olival foi muito inteligente em não deixar que eu me sentisse sobrecarregado. É claro que havia percebido, pela quantidade de narrações em off que tive que fazer, que o Rafael, o personagem que interpreto, iria meio que conduzir a ação. Não se sabe o que a Camila ou o que o Cazé estão achando daquilo, é sempre o Rafael que pensa, que divide o que sente com o espectador. Mas pra mim foi tranquilo.
Com o filme pronto, qual a avaliação de vocês?
VM: Esse é um filme que retrata muito bem essa questão da transição, da juventude, que se permite experimentar, ir atrás de coisas novas. Um rapaz pode beijar outro rapaz, mas no final querer ficar com a menina. E o oposto também pode acontecer, dela querer ir embora porque vai ficar com outra menina. Tudo é muito livre, só se sabe o que quer após experimentar.
GG: Uma das nossas inspirações foi o filme Jules e Jim (1962). Tem até uma cena no Os 3 da gente correndo que é uma referência. E nesse filme do Truffaut já estava isso de querer ser livre, de ir atrás do que se gosta, sem se preocupar com os outros. Havia muito pouco espaço para o improviso, o roteiro era muito redondo, e o que se vê é bem o que a gente imaginava.
VM: Cada personagem só existe por estar interagindo com os outros dois. É bem um retrato desse trio. Houve muito respeito, aproximação durante os ensaios, as filmagens. O filme mostra um flagra da intimidade destes amigos. E é tudo muito simples. Somos apenas nós três. E isso é tudo!
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