Nascido em 1979 no Rio de Janeiro, Babu Santana é um dos atores mais presentes do cinema brasileiro da última década. Presente em sucessos como Cidade de Deus (2002), Os Normais 2 (2009) e Os Penetras (2012), já foi premiado no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro e no Festival do Rio (em ambos por sua atuação em Estômago, 2007) e atuou sob o comando de cineastas como Lucia Murat, Helvécio Ratton e José Joffily. Mesmo assim, é o tipo de ator que todo mundo conhece, porém é difícil dizer de onde. Bom, essa realidade deve mudar com a estreia de Tim Maia, cinebiografia que chega agora aos cinemas com Babu Santana como protagonista, responsabilidade que dividiu com o jovem Robson Nunes. Cada um interpretou o ‘Síndico’ em momentos diferentes de sua vida, e foi sobre esse trabalho que o ator conversou com exclusividade com o Papo de Cinema. Confira!
Um dos nomes mais frequentes do atual cinema nacional, com mais de 20 títulos no currículo. Porém Tim Maia é o seu primeiro projeto como protagonista. Por que toda essa demora?
Olha, quem tem que responder isso são os produtores, os cineastas… eu estou aí todo esse tempo, sempre trabalhando, dando a cara à tapa. Só aconteceu agora de ser o protagonista, e mesmo assim foi mágico! Foi maravilhoso poder interpretar o Tim Maia, que foi – e é – o ídolo de tanta gente, um artista super querido do grande público. Quando surgiu a possibilidade fiquei tomado pela empolgação, uma emoção muito forte se apoderou de mim que nem sabia ao certo o que fazer. Daí vem o medo, né, pois sabia que seria uma grande responsabilidade. Mas acho que deu tudo certo, afinal conseguimos conceber um filme muito bacana.
Como surgiu o convite para interpretar Tim Maia?
Não pensa que foi fácil, não. Até hoje sigo ralando, correndo atrás. Com o Tim Maia não foi diferente. Fiquei sabendo do teste, e quando vi que era um projeto do Mauro Lima, com quem já havia trabalhado no Meu Nome Não é Johnny (2008), fiquei um pouco mais confiante. E claro, hoje tenho algo a apresentar, uma filmografia mais consistente, então foi menos complexo. Mas mesmo assim fui lá, fiz um primeiro teste, depois me chamaram para um segundo, foi todo um processo. Quando soube que o Mauro havia visto em mim uma semelhança física que batia com o perfil do personagem que ele queria, as coisas começaram a se encaminhar. Mas daí ele estava dividido entre eu e o Robson Nunes, e foi um alívio quando se decidiu por nós dois, cada um responsável por um momento específico da vida dele.
Como foi dividir com outro ator a construção de um mesmo personagem?
Pois então, é um negócio muito louco! No começo achei meio estranho, mas quando soube que seria com o Robson, tudo ficou mais fácil. Afinal já o conhecia, é um cara muito bacana que admiro muito. Então, me pareceu a pessoa certa para dividir esse tipo de responsabilidade. Era o parceiro certo para um desafio como esse. Tanto que o resultado está na tela, nenhum dos dois é melhor do que o outro, conseguimos uma unidade na participação que reforça bem o nosso conjunto. Estávamos o tempo todo de braços dados, com um entrosamento muito forte. Acho que essa foi a tônica e é o que levo desse filme. Nos preparamos por cerca de dois meses sozinhos, depois é que fomos nos encontrar com o elenco, com o diretor, a equipe técnica. Tudo foi acontecendo aos poucos, com calma e tranquilidade, e foi esse o segredo para ter dado certo.
Você começou com Cidade de Deus, esteve em comédias, dramas, produções internacionais, sucessos de público e outros pouco vistos, porém elogiados pela crítica. Qual o segredo para se fazer tanto cinema no Brasil?
Olha, acho que muito trabalho, muita preparação. É preciso ter fé, não desistir nunca, mas também saber contar com a sorte. Acho que na vida, sem sorte, não adianta ter muita competência. Você tem que estudar sempre, estar ligado no que está acontecendo e pronto para qualquer coisa que possa acontecer. Meu esforço é estar trabalhando, sempre afiado. É fundamental estar preparado para os desafios, e é desse tipo de sorte que estou falando. Por frequentar muitos festivais, acabo conhecendo as pessoas, que aos poucos foram se familiarizando com meu trabalho, e estou sempre preocupado em dar o meu melhor. Como disse antes, nem com o Tim Maia foi de cara, tive que fazer testes, saber esperar… Havia muita fila, já teve casos em que enfrentei mais de 300 pessoas. No Uma Onda no Ar (2002) foram mais de mil pessoas… A sorte está ali, em ser o escolhido dentre tantos, e ter capacidade para entregar o que esperam de você!
Como foi recriar uma personalidade como o Tim Maia, ainda tão presente na memória coletiva nacional?
Eu me entreguei nas mãos do diretor. O grande segredo do ator é seguir ao máximo as instruções de quem está na direção. E para isso é fundamental estar ao lado de um cara competente, que sabe o que quer. E foi isso que o Mauro me disse: ele não queria uma réplica, e sim que a gente buscasse a essência do Tim Maia. A partir do momento que me desprendi dessa necessidade da verossimilhança, acho que consegui ser mais íntimo, sem nenhum tipo de julgamento, sem certo nem errado. Tive toda a tranquilidade de poder compor um personagem focando no lado humano, buscando entender quem era aquela pessoa. A semelhança ficou a cargo do figurino e do pessoal da arte, que fizeram um trabalho incrível!
Você fez uma pequena participação em Meu Nome Não é Johnny. Como foi retomar a parceria com o diretor Mauro Lima?
Foi bem bacana, o Mauro é muito legal, um cara flexível, que tem muita paciência e soube entender nossos anseios, as dúvidas que foram surgindo durante todo esse processo. Acho que a grande diferença dele é que ele é sempre seguro nas decisões, é um cara que sabe o que quer. E foi muito legal também porque no Meu Nome Não é Johnny nós quase não nos vimos, foi tudo muito rápido, era uma participação muito pequena. Então, se mesmo assim ele acabou apostando em mim novamente, tive a prova da minha competência. Fiquei muito feliz com esse reencontro.
Qual foi a parte mais difícil em Tim Maia, as sequências musicais ou o drama íntimo do personagem?
Acho que o mais difícil, tecnicamente falando, era cantar. Sou um cara muito musical, e o ato de cantar em si até não era novidade, pois faço parte do grupo Nós do Morro, seguido estamos com montagens de musicais nos palcos, então já estava habituado. Mas no filme não era só isso, era preciso ir além, pois não podia cantar com a minha voz, era preciso alcançar o registro vocal de um cara que foi um ícone, que todo mundo conhece! Isso me deixou um pouco mais inseguro, mas o resultado que está na tela é fruto de muito trabalho com o Mauro e com o Pedro Lima, que foi nosso preparador vocal e esteve sempre ao nosso lado.
Como você espera que seja o retorno do público?
Olha, ontem mesmo aconteceu a pré-estreia aqui no Rio de Janeiro, e foi muito legal. Acho que quando se fala em Tim Maia sempre se pensa em alegria, sucesso, e não quero que seja diferente com o filme. Espero que as pessoas vão até os cinemas de coração aberto, que procurem reviver o Tim Maia e tudo que ele representou. Não espero que alguém vá para ver o Babu ou o Robson, mas que vá para curtir aquela emoção novamente, para conhecer um artista que deixou sua marca no imaginário popular. E que depois procurem pelas músicas dele, que o escutem no rádio, nos cds. Se o filme servir para resgatar essa eterna lembrança, já está de bom tamanho!
(Entrevista feita por telefone direto do Rio de Janeiro em 28 de outubro de 2014)
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