A maratona de Wagner Moura não tem prazo para acabar. Ou melhor, tem: ao que tudo indica, vai até o dia 15 de março de 2026, um domingo, quando acontecerá a cerimônia de premiação do 98o Academy Awards, o Oscar, entregue pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, em Los Angeles. Isso porque O Agente Secreto (2025), representante oficial do Brasil na maior festa do cinema mundial, tem despontado em várias previsões de especialistas, com prováveis indicações a Melhor Filme Internacional e também para Melhor Ator (entre Direção, Roteiro Original e até mesmo para Melhor Filme) para o protagonista, interpretado por Moura.
Pois o baiano tem circulado por todo o Brasil e também no exterior falando sobre este papel que já lhe rendeu o troféu de Melhor Ator no Festival de Cannes, onde o filme teve sua première mundial, em maio passado. Foi no meio dessa correria, durante o Festival do Rio, que Wagner Moura pode conversar melhor com a imprensa e recebeu o Papo de Cinema para um bate-papo inédito e exclusivo, no qual comentou sobre a parceria com o diretor Kleber Mendonça Filho, sobre a expectativa para o Oscar e ainda lembrou de uma filmagem no Rio Grande do Sul que será para sempre lembrada por ele com imenso carinho. Confira!
Wagner, prazer falar contigo. Conversando com o Kleber Mendonça Filho, diretor de O Agente Secreto, ele comentou que o teu personagem foi pensado aos moldes do James Stewart nos filmes no Hitchcock. O que você acha dessa comparação?
Li sobre isso, recentemente, numa outra entrevista que ele deu. Acho que os personagens do James Stewart tinham um estoicismo. Geralmente, eu, Wagner Moura, e isso reflete nos personagens que faço, costumo reagir de modo muito veemente, até mesmo explosivo. E esse personagem não podia ser assim. O Marcelo tem mais a temperatura do próprio Kleber, acho, do que da minha mesma. Talvez ele esteja se comparando mais com o James Stewart do que comigo, entende?

Vocês dois têm demonstrado entrosamento durante a divulgação de O Agente Secreto. Esse filme parece ter dado início a uma parceria que vai além da tela. Como foi esse encontro?
Conheci Kleber vinte anos atrás, em um festival de Cannes. Ele estava lá como crítico de cinema. A gente se gostou de imediato, as conversas entre nós fluíram sem esforço. Ele é de Recife, sou de Salvador, rolou um encontro do Nordeste. Daí comecei a ficar atento nele, fui ver os curtas que tinha feito. Quando assisti a O Som Ao Redor (2012), fiquei louco. “É o melhor filme brasileiro de todos os tempos”, foi o que pensei na época. Desde ali já queria trabalhar com ele. Só que nos anos seguintes nos cruzamos várias vezes, porém nunca parecia ser o momento certo. O que nos juntou, mesmo, foi a política. O período de 2018 a 2022, quando eu e ele sofremos, vivemos e lutamos. Nessa época tive problemas com o meu filme Marighella (2019), ele também com a produtora dele. Então, acho que O Agente Secreto vem disso, nasceu nestes anos.
Tu é um cara de turma, basta lembrar dos teus amigos de Salvador. O Kleber também tem a turma dele, atores e equipe que repete de um filme para outro. Vocês estão agora um na turma do outro? Se imaginam trabalhando juntos mais vezes?
Ah, totalmente. A gente se encontrou num lugar profissional, artístico, espiritual, de amizade mesmo. Vemos o mundo de forma parecida, apesar de sermos duas pessoas muito diferentes. Nossas famílias já são amigas, e essa turma dele, a qual você se refere, virou minha turma também. Recife não é um lugar difícil pra mim. Algumas das coisas mais importantes da minha carreira aconteceram em Recife. A peça A Máquina, que fiz com João Falcão, que tinha no elenco o Lázaro Ramos, o Vladimir Brichta e o Gustavo Falcão, começou lá. Eu vivi naquela cidade. E ele não vai se livrar de mim tão cedo.

Há pouco tempo tivemos o relançamento nos cinemas de Saneamento Básico, O Filme (2007), que foi estrelado por ti e pela Fernanda Torres. Ela foi indicada ao Oscar nesse ano, tu já aparece em varias listas para o ano que vem. Que encontro premonitório, hein?
Que lembrança maravilhosa. Foi tão bom fazer aquele filme. A oportunidade de trabalhar com a Nanda, Lazinho, Bruno Garcia. O Paulo José fez esse filme, o Tonico Pereira estava também. Acho o filme hilário. Eu adoro, um dos melhores do Jorge Furtado. Muito inteligente e também muito divertido. A gente passou muito bem por lá, e era quase no Uruguai. Na comunidade de Santa Tereza, depois do Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves. Bom, você é gaúcho, sabe bem de onde estou falando. Vinhos maravilhosos, foi massa. E esse filme vai ser lembrado por mim para sempre como o que eu estava fazendo quando o meu filho nasceu. Foi no último dia de filmagens, minha mulher ligou avisando que a bolsa havia estourado, foi uma loucura. Tive que sair correndo. Meu filho, o Bem, que já está com 19 anos.
Conversei recentemente com a Juliette Binoche, durante o Festival do Rio, e ela comentou o quanto ficou satisfeita com as vitórias de O Agente Secreto no Festival de Cannes, na edição na qual ela era a presidente do júri. Como foi a passagem por lá, que marcou o início dessa maratona que vai até o Oscar?
No momento, estou passando pela etapa mais difícil. Isso porque estou até o pescoço envolvido com a maratona, como você falou, e estou fazendo teatro também. Estou em cartaz em Salvador, e depois no Rio de Janeiro, todos os dias. Tenho uma folga por semana. E sem perspectiva de descanso nas próximas semanas e meses. A partir de novembro, no entanto, vou viajar o mundo com o filme. Vou estar ao lado do Kleber, vamos falar sobre o filme onde formos convidados, vou sentar e tomar uma cerveja com quem quiser me ouvir. Vai ser mais descontraído. Agora, no entanto, preciso lidar com isso. Muito feliz com a peça e também com o filme, claro, mas focado, porque também não quero exagerar e ficar doente.

E se vier o Oscar, como vai ser?
Ah, vai ser massa (risos).
Entrevista feita ao vivo durante o 27o Festival do Rio, em outubro de 2025
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