Maria Clara Gueiros é uma das maiores comediantes da atual geração no Brasil. Divertida e de bom astral, ela tem um papo contagiante e recebeu uma ligação do Papo de Cinema para uma conversa rápida na sala de embarque do aeroporto, poucos minutos antes de embarcar para Paris, seu destino de férias. Curioso é ela se ausentar do país justamente quando está em cartaz em dois sucessos. Primeiro, como a voz de Lucy, personagem dublada originalmente por Kristen Wiig no campeão de bilheteria Meu Malvado Favorito 3 (2017), reprisando a boa performance que já havia demonstrado na sequência de 2013. E depois como uma das bruxas malvadas e atrapalhadas do nacional D.P.A.: Detetives do Prédio Azul – O Filme, adaptação para a tela grande do seriado que é uma verdadeira febre na televisão. E foi sobre estes dois trabalhos, e outros de destaque em sua carreira, que a atriz conversou com exclusividade com a gente. Confira!
Olá, Maria Clara. Bom, antes de mais nada, preciso te dizer que você é responsável por uma das frases mais icônicas do cinema brasileiro…
Ah, não me diz, deixa eu ver se adivinho. É do Muita Calma Nessa Hora (2010)?
Claro (risos)!
(Rindo muito) É quando a menina me pergunta se pode ir a pé até onde as amigas dela estão…
E tu responde: “claro”. Para, assim que ela sai, completar: “a pé dá pra ir até o Piauí, basta querer” (rindo alto)!
(Risos) Isso é hilário! Até hoje lembram disso. E o mais curioso: isso é puro texto! Não é caco! Essa é a verdade, não foi algo que improvisei, nem nada. Já estava no roteiro do filme. E quando lemos, ninguém se deu conta que seria tão engraçado, nem quando filmamos. Só depois, com o filme pronto, quando fomos assistir, numa pré-estreia, se não me engano, é que vimos todo mundo se desmanchando de tanto rir nessa hora. Nós, a equipe do filme, só nos olhamos, e foi aí que começamos a rir junto. Nem a gente tinha imaginado o quão cômico era essa frase.
Bom, eu dou muita risada cada vez que lembro dessa tua fala. Já virou até um meme entre meus amigos.
Que bom. Isso é sinal que alguma coisa ali funcionou, né?
Com certeza. Mas indo adiante, agora você está de volta aos cinemas em D.P.A. Detetives do Prédio Azul: O Filme. Fala um pouco sobre a tua personagem.
Então, eu faço a Mari P. Ela é uma das bruxas convidadas para a famosa festa que vai ter no Prédio Azul, organizada pela Dona Leocadia (Tamara Taxman). Enfim, ela é uma das presentes… não posso dar spoiler! É uma aventura, muita coisa maluca acontece nessa festa! Só que os detetives estão atentos, e ele vão investigar!
Como é ser bruxa?
Olha, é o máximo! Já frequentei muito esse lugar, por assim dizer, e sempre me dei muito bem. Acho que tenho algo muito malvado (risos) dentro de mim. Senão, veja só: fiz a Bruxa Má do Oeste, em O Mágico de Oz, fui uma das Bruxas de Eastwick, e também a Madrasta da Cinderela, tudo isso no teatro musical. Fiz também a Gata Borralheira, numa versão linda da Maria Clara Machado. O jeito que gosto de fazer esses personagens é brincando muito, pois sou comediante., é importante saber rir de si mesmo! E no cinema é a mesma coisa. No teatro, quando brincamos assim, a gente brinca dá uma piscada de olho para o público, como se dissesse: “vamos rir disso juntos?”. Sem fazer o vilão antipático. É importante trazer o lado lúdico, rir junto. E aqui no Detetives do Prédio Azul, a minha é uma vilã desconstruída, que faz tudo errado, é desajeitada. Acho que isso a deixa ainda mais engraçada.
O que te atraiu nesse projeto?
Ah, o sucesso da série da televisão é incrível, né? E o filme é um blockbuster! Tem crianças que eu nem conhecia, que moram no meu prédio, que não sei como, ficaram sabendo que eu faria parte do filme. Daí, um dia eu estava no elevador e uma delas entrou e ficou me olhando, quase hipnotizada. Isso foi na época que a gente estava filmando. Coitadinha, ela estava com medo de mim, mas ao mesmo tempo queria estar perto, pois sabia que eu fazia parte daquele universo que ela tanto admira. Eu fiz um carinho nela, foi algo muito impressionante para mim, pois nem imaginava a força do programa. Trabalhar com o público infantil é algo muito prazeroso, adoro. E o Andre Pellenz, nosso diretor, é incrível. Amo ele! Este é o segundo trabalho que fazemos juntos, ele é muito bom no que faz.
Você já conhecia a série de televisão na qual o filme é baseado?
Eu não tinha assistido. Quando veio o convite, vi uns três episódios pra me inteirar, saber do que se tratava. E adorei. Senti uma comunicação direta. Mas não cheguei a fazer uma maratona, até porque a Mari P não existe na série. Ela é uma das novidades do filme. Então, o que precisava era entender o mote da história, quem eram aquelas crianças. A partir daí, fui construir meu personagem a partir do roteiro do filme e do trabalho com o Andre.
Com tanta criança no set e muitos nomes de destaque fazendo participações especiais, imagino que as filmagens tenham sido bem curiosas, não?
Foi uma diversão, tinha muita gente amiga reunida. Além do Andre criar um clima ótimo. O Otavio Muller, por exemplo, é um amigo pessoal meu, alguém que é sempre um prazer ter ao meu lado. Mas tinha também o Aílton Graça, que é o máximo, e a Mariana Ximenes, que é uma querida, uma atriz ótima. Nós éramos os novatos, né? Encontrar a Tamara Taxman, que faz a série há anos, foi divertidíssimo. Sem falar das crianças, que são geniais, fiquei chocada! Elas dão um banho de atuação, são super concentradas, fazem tudo aquilo muito sério. Impressionante.
Há espaço para cinema infantil no Brasil?
Ah, sim, com certeza. A gente sempre precisa ter um cuidado especial, é claro, pois hoje em dia tudo é muito pensado. Não pode ser politicamente incorreto, não pode desagradar, tem que cuidar para não ser preconceituoso. E isso é muito bom, principalmente com as crianças, pois estão em formação de personalidade, construindo o caráter. Sem falar que estamos contribuindo, também, para criar uma nova plateia de cinema, esses pequenos precisam se apaixonar por essa coisa mágica, para que ele nunca acabe. Então, tem muita coisa em jogo. E no Detetives do Prédio Azul isso era algo muito real, todo mundo que estava envolvido tinha essa preocupação, não apenas em fazer uma megaprodução, mas em construir um filme que conseguisse se comunicar com esse público, entende?
Você é muito conhecida por seus trabalhos no teatro e na televisão, mas fez pouca coisa no cinema. Por quê?
Até uns dois anos atrás, costumava falar em entrevistas que queria seguir fazendo muito teatro, televisão também é algo que amor, estou sempre no ar, mas que queria entrar mais no cinema! E parece que me ouviram, pois comecei a emendar um filme no outro. Só neste ano já estive em Os Saltimbancos Trapalhões (2017), há pouco participei da dublagem nacional do Meu Malvado Favorito 3, e agora tem o Detetives do Prédio Azul. Ou seja, sei que não é muita coisa ainda, mas aos poucos isso está mudando.
Como foi voltar para a personagem Lucy de Meu Malvado Favorito 3?
Foi incrível, um prazer fantástico! Amo a Lucy, ela é uma graça. Essa nossa relação começou no Meu Malvado Favorito 2 (2013), e foi ótimo poder voltar. Ela é uma agente secreta, toda aventureira, mas no filme anterior acabou se casando com o Gru. Então, agora tem esses novos lados dela para serem explorados, tanto como esposa, como também como mãe, com as três meninas que o Gru adotou no primeiro filme. Só que ela não sabe muito bem como agir, está sempre querendo impressionar, tentando entender como é ser mãe, ser mulher do Gru e, ao mesmo tempo, continuar sendo uma agente superpoderosa. Está muito mais rico!
E como se dá esse trabalho de dublagem? Pois, quando o filme chega até vocês, ele já está pronto, não é mesmo? Como vocês fazem, ficam muito presos à dublagem original, ou há espaço para criar a partir daquilo?
Tem espaço para improvisação, sim! Trabalhamos com o Manolo Rei, que é um diretor de dublagem fantástico, talvez o melhor do Brasil, o cara sabe tudo de dublagem! Aliás, essa é uma área de excelência para os artistas brasileiros, que são super requisitados, respeitados no mundo todo. Quando mandam dublar um filme de Hollywood por aqui, eles já ficam tranquilos, pois sabem que o resultado ficará incrível. É algo que sempre falo, quanto melhor o profissional, mais confiança no ator ele terá. Diretor inseguro não deixa ator fazer nada, são muito nervosos, mas atrapalham do que contribuem. Mas aqui não, eles são tão bons que deixam o ator improvisar, e o caco que eventualmente inventamos acaba funcionando. A gente não quer crédito por isso ou aquilo, o que importa é o resultado ser o melhor.
Está cada vez maior a oferta de filmes dublados no Brasil. O que você acha disso?
Acho incrível. No cinema infantil, por exemplo, acho que não tem pra ninguém! As nossas dublagens são as melhores. Eu, por exemplo, faço questão para não ver o original, até para prestigiar os nossos colegas. Agora, quando é o caso de filmes adultos… Bom, na Europa todo mundo vê dublado, né? Acho que é uma questão de costume. Eu acho ótimo, pois é um mercado a mais que se abre para os atores nacionais, e qualquer nova oportunidade precisa ser valorizada. Importante ver gente boa, ganhando espaço.
E o que você pode nos adiantar sobre os seus próximos projetos?
Eu to fazendo tanta coisa que até me esqueço. Juro para você! No lançamento do Meu Malvado Favorito 3, me perguntaram sobre outros trabalhos que estou fazendo e acabei esquecendo de um filme que acabei de fazer com Luana Piovani e se chama Amor Sem Fronteiras. É uma produção da LC Barreto, com direção do Marcelo Santiago e tem também o Paulo Tiefenthaler no elenco, além de um casal argentino. Foi uma experiência muito bacana, faço a melhor amiga da Luana. É uma comédia de erros, divertidíssima.
As comédias estão sempre contigo, né?
Ah, mas depois deve vir o 98%, do Ian SBF, que fiz no ano passado, mas não sei quando será lançado. Esse é uma participação pequena, são duas ou três cenas, apenas, mas amei fazer. E é uma ficção-científica, olha só! O mundo está acabando, restam apenas 48 horas antes do fim. Faço a mãe do Rafael Portugal, vê se pode?! No máximo, irmã, né? (risos)
Pode ser ficção-científica, mas feita pelo pessoal do Porta dos Fundos, ao menos bom humor deve ter…
Ah, com certeza. E depois volto para a comédia escrachada, não tem jeito. Tem o Festa da Firma, que não foi lançado, mas já está pronto, e é estrelado pelo Marcos Veras. Acho que sai nesse ano. Estou em uma cena também, como uma executiva, tipo o George Clooney no Amor Sem Escalas (2009), que só aparece para demitir, sabe? Só que, depois que faz o trabalho dela, ela mesmo é demitida. Daí se revolta, quebra tudo, destrói a sala do patrão. Foi muito engraçado fazer. Bom, pelo jeito vai ter muita Maria Clara Gueiros nos cinemas nos próximos meses.
(Entrevista feita por telefone direto do Rio de Janeiro em 07 de julho de 2017)
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