Alexis Michalik nasceu no início dos anos 1980 em Paris, França. Filho de um pintor polonês com uma artista britânica, estudou no Conservatório Nacional de Arte Dramática. Seus primeiros passos como artista foram nos palcos, mas logo estava também se aventurando pela tela grande. Em 2002 já aparecia no seu primeiro curta-metragem. Seguiu-se com uma série de trabalhos na televisão, e pouco mais de uma década depois, com o curta Au Sol (2014), estreava como diretor. Com esse trabalho foi premiado em diversos festivais, dos Estados Unidos à Índia. Mas ainda faltava o passo mais ambicioso, e esse veio com Cyrano Mon Amour, em que além de atuar, também assina a direção e o roteiro. Com a história por trás do clássico, investigando a vida do homem que criou um dos textos mais populares do teatro mundial, Michalik veio ao Brasil como convidado do Festival Varilux de Cinema Francês. E o Papo de Cinema aproveitou a oportunidade para conversar com o astro e saber um pouco mais desse projeto. Confira!
Olá, Alexis. Como tem sido essa visita ao Brasil?
Realmente incrível. Você sabe, viemos em uma comitiva de artistas franceses, todos a convite do Festival Varilux de Cinema Francês. Mas essa era uma oportunidade boa demais para ser desperdiçada. Então, vim antes. Passei alguns dias em Salvador, encontrei os demais em São Paulo, e agora estamos no Rio de Janeiro. Tem sido dias maravilhosos. Esta é a minha primeira vez no Brasil, e tem sido maravilhoso. Estou adorando.
Sei que Vincent Cassel adora o Brasil (risos). Já pensou em fazer como ele e vir trabalhar por aqui?
Pois é, ouvi falar dessa preferência dele. Ainda mais que ele surfa, né? As praias aqui são fantásticas. Mas, até o momento, não recebi nenhum convite de trabalho por aqui. Se surgisse um interessante, por que não? Ficaria muito feliz se isso acontecesse. Seria muito melhor vir trabalhar no Brasil do que na Lituânia, por exemplo (risos).
Ou como na República Checa, onde foi filmado Cyrano Mon Amour?
Ah, foi uma experiência encantadora. Lá fomos muito bem acolhidos. É um lugar muito bacana. E foi possível encontrar uma equipe técnica muito experiente, o que me deu segurança ao fazer esse filme. Produções de Hollywood estão sempre por lá, então estão acostumados com esse tipo de trabalho, ao mesmo tempo em que tem formado gente muito habilidosa. Outra coisa interessante é que os extras ficavam muito empolgados com o convite de participar de uma filmagem. Eles adoram atuar! E esse é um filme com muitos extras, então você pode imaginar o quanto foi positivo para nós.
Você falou de produções de Hollywood, mas entre os franceses também é comum filmar no Leste Europeu?
Sim, é algo que acontece com bastante frequência. É mais caro filmar na França do que no Leste Europeu, por exemplo, e esse já é um forte motivo. Mas, claro, depende do tipo de filme que você está fazendo. Se é um filme de época, como era o meu caso, com muitos figurinos e sabe que não será possível filmar Paris do jeito que você gostaria, pois a Paris de hoje não se parece em nada com a Paris de séculos atrás, além da necessidade de contar com muitos extras, tudo isso vai ser muito caro. Então, o melhor caminho é ir para o Leste Europeu, pois irá economizar, além de encontrar com facilidade o que está procurando.
Pelo que soube, quando você se interessou por esse projeto, inicialmente não pensava em dirigi-lo. É verdade? O que o fez mudar de ideia?
Sim, exatamente. Mas não é que tenha mudado de ideia. Acontece que, quando comecei a me interessar por essa história, também me vi obrigado a ser realista. Sabia que seria difícil, algo muito grandioso para se fazer, ainda mais sendo meu primeiro filme como diretor. Sabe, lidar com tudo isso, com restrições de orçamento, seria necessária mais experiência. Quando conheci um produtor, ele me disse: “ok, vamos adiante, você escreve o roteiro e vou procurar um diretor”. É claro que queria, que sonhava em dirigir, mas entendi que era a regra do jogo, e precisava me submeter a ela. Se quisesse que o filme fosse feito, teria que ser desse jeito, então disse “ok” e fui trabalhar. Só que enviamos o texto para dois ou três diretores, e todos recusaram. Talvez fosse pelo tema, ou por acharem teatral demais, cada um tinha a sua razão. Até que chegou um ponto que disse: “bom, talvez eu mesmo tenha que dirigir”. Então comecei a fazer alguns curtas, para ir me acostumando com a câmera, e fomos atrás de investidores que topassem financiar. E mesmo assim não deu certo.
E o que fizeram, então?
Nesse momento decidi que talvez fosse melhor fazer no teatro, ao invés do cinema. Já havia feito algumas peças, e haviam se saído razoavelmente bem, então era possível que funcionasse. Só que esse meu parceiro disse: “boa sorte para você se tentar fazer um filme de época no teatro”. E caiu fora. Me vi, novamente, sozinho. Mas não desisti. Acabou que virou uma peça, com doze atores, diferentes cenários e muitas trocas de figurino. Abrimos em um teatro muito lindo, o Théâtre du Palais-Royal, que é famoso por grandes sucessos, como A Gaiola das Loucas, e outras comédias – é muito antigo e tradicional. E seguimos em cartaz, após três anos! Se tornou um evento, com milhares de ingressos vendidos, ganhamos todos os prêmios. Com tudo, os financiadores apareceram, vieram até mim e me perguntaram: “ei, por quê não fazemos um filme?”. E respondi: “ok, talvez eu possa assumir a direção”. E concordaram!
Quanto tempo durou todo esse processo, desde o teu primeiro contato?
Todo o processo, desde o começo? Deixa ver… bom, acho que tudo começou uns quinze anos atrás. E a primeira vez que me encontrei com esse produtor faz uns seis anos.
Ao assumir a direção, qual foi a maior dificuldade que encontrou?
Honestamente, foi chegar até o momento em que me dei conta de que, sim, poderia dirigir um filme. Uma vez que estava no set, foi difícil, sim, mas o desafio foi lidar com tudo aquilo, enfrentar o que ia surgindo diariamente e ainda assim achar um jeito de chegar até o final. A gente até tinha um orçamento bacana para um filme de estreia, mas, por ser de época, foram necessárias algumas soluções alternativas para que tudo se tornasse viável. Foi bastante intenso, pois tinha que terminar o que estava programado dia após dia, uma vez que não haveria chance de conseguir um tempo extra, caso houvessem atrasos, por exemplo. Essa, talvez, tenha sido a maior questão com que tive que lidar: o filme precisava terminar dentro do prazo.
Cyrano de Bergerac foi escrito há mais de um século. O quão importante esse texto segue sendo para a literatura francesa?
É, provavelmente, a mais famosa peça já escrita na França. Muita gente que vinha assistir à Cyrano Mon Amour no teatro chegava até nós e dizia: “você sabe, Cyrano é a minha peça favorita”. E eu respondia: “sim, eu sei, pois é a minha também”. Afinal, é brilhante, é engraçada, e a figura de Cyrano, como herói, toca um nervo muito especial na cultura francesa, pois é um perdedor maravilhoso. E os franceses tem esse costume de torcer por aqueles que resistem, ao invés dos que são bem-sucedidos. E ele é um resistente. Além de que está sempre infeliz, seja com o nariz, ou por não conseguir relevar a sua amada que a ama. Mesmo assim, é uma figura maravilhosa. Toda vez que Cyrano de Bergerac é montado nos palcos, as salas ficam lotadas!
Interessante isso dos franceses preferirem os que resistem aos que são sucesso. Por que isso?
Existem muitos exemplos disso, Cyrano não é um caso isolado. Na França, assim que você começa a fazer sucesso, as pessoas começam a desconfiar: “é, legal, mas não é tudo isso”. Agora, se você está tentando, mesmo que nunca dê certo, sempre haverá alguém ao seu lado, torcendo por você. Eles amam aqueles quem não desiste. Amam os infelizes, porém bravos, espertos, engraçados. É por esse tipo que o meu povo torce. É o oposto dos Estados Unidos. Se lá eles têm o Superman, nós temos Cyrano.
Este foi o motivo que o levou a escolher um nome não muito conhecido, como Thomas Solivérès, para viver o protagonista?
Bom, é verdade, ele fez alguns filmes anteriormente, mas ainda não é um dos nossos atores mais populares. Ainda que tenha tido alguns personagens marcantes, como Spirou, em Les Aventures de Spirou et Fantasio (2018), além de comédias que tiveram um certo sucesso. Mas Cyrano Mon Amour certamente representa uma outra direção na carreira dele. Acima de tudo, eu precisava de um ator que parecesse jovem, até mais novo do que o personagem. E ele tinha 29 anos quando filmamos. Ao mesmo tempo, tinha uma maturidade que me interessava. Havia interpretado Edmond nos palcos, antes, e se saíra muito bem. Por isso o convidei, e quando os produtores viram os testes, concordaram que era a melhor opção.
Além de dirigir e assinar o roteiro, você também atua em Cyrano Mon Amour. Como equilibrar tudo isso?
Desde o começo, sabia que queria estar no filme. Só não sabia em qual papel. Georges Feydeau foi um que me pareceu interessante, pois não possui muitas falas, me tomou apenas cinco dias de filmagens, e ao mesmo tempo era engraçado. Adoro interpretar esses canalhas, sabe? Vilões, idiotas, arrogantes. Estes são os melhores personagens. É sempre divertido fazer algo que não tem nada a ver com você. Alguém mesquinho, e por isso mesmo, risível. São os papéis mais ricos.
Feydeau foi baseado em alguma figura real?
Sim, Feydeau existiu de fato, mas essa rivalidade entre os dois é totalmente ficcional. Veio da necessidade de ter um inimigo no filme. Precisava de alguém que fosse celebrado, o mais admirado da cidade, para criar essa oposição ao Edmond. E ele era o melhor, quem colecionada sucessos, o mais aplaudido. Mas entrou a Comédia Francesa muito antes de Edmond, nem sei ao certo se chegaram a se conhecer. Trabalhou muito, diversas das suas peças seguem sendo encenadas até hoje. Por isso foi divertido imaginar um duelo entre eles, como se daria essa relação.
O seu filme se chama, no original, Edmond, que é o nome do protagonista. Mas, no Brasil, ganhou o título Cyrano Mon Amour. O que você achou dessa mudança?
Acho que ficou ainda melhor. Afinal, ninguém aqui conhece Edmond, certo? Na França até criou um certo mistério, do tipo “hum, quem será esse tal de Edmond?”. Mas, pensando agora, acredito que deveríamos ter chamado de Cyrano Mon Amour lá também, desde o princípio.
Por que você decidiu fazer um filme sobre Edmond, ao invés de uma adaptação de Cyrano de Bergerac?
Bom, porque sou um criador. Uma adaptação literal de Cyrano, hoje em dia, seria simplesmente… preguiçoso. Queria fazer algo a mais. E não foi fácil. Exigiu muito trabalho capturar a essência de Cyrano e colocá-la em uma peça sobre o autor desse texto. Mantendo essas camadas de leitura, gerando um Cyrano dentro de outro Cyrano. Foi complexo.
Um dos personagens, o dono do restaurante, é bastante significativo. O que você queria dizer com ele?
Há muitos personagens que são figuras históricas, mas há alguns que precisei inventar. O objetivo era colocar a essência de Cyranonessa nova história. Acima de tudo, se trata de uma comédia. Mas tem também um lado romântico, há um triângulo amoroso envolvido. Precisava, portanto, contar, além do Edmond, com mais dois protagonistas. É por isso que Jeanne e Léo foram inventados, para que esse conjunto fosse possível. Precisava também de uma cena do balcão, e por isso ela foi inserida. Tinha que ter um final, com o monólogo do nariz, e também de um Cyrano. O Monsieur Honoré, portanto, é o meu Cyrano. Ele é a inspiração para que Cyrano fosse possível. Ele é orgulhoso, esperto, perspicaz e engraçado. É um cara muito popular. Mas também há nele algo que está estampado em sua cara, que todo mundo sabe e vê, e que provavelmente foi uma dificuldade com a qual teve que lidar a vida toda. França, século XIX. Se não era um nariz grande, o que poderia ser? Ele era negro. E assim o personagem foi criado.
O preconceito que enfrenta me lembrou o personagem vivido por Omar Sy em Chocolate (2016).
Sim, há algumas conexões. Mas vai além do fato dos dois serem negros. Queria contar com um personagem negro em uma posição heroica, mesmo que fosse em um filme de época, em 1897.
Como foi a escolha de Olivier Gourmet, um dos mais celebrados atores franceses da atualidade, para viver o icônico Coquelin?
Para esse papel, precisava de um ator com muitas qualidades. Tinha que ser alguém na faixa dos 50 anos, que era a idade do Coquelin naquela época. Precisava ser bom na comédia, mas também eficiente no lado dramático de Cyrano – o final dele é muito trágico. Então, precisava de um ator que combinasse tudo isso. E também queria alguém alto, não gigante, mas com masculinidade suficiente para se impor diante dos outros atores. O que percebi é que Olivier Gourmet tinha todas essas qualidades. Outra curiosidade é que ele não é, geralmente, escalado para papeis cômicos. Por isso mesmo, ficou muito feliz só pela oportunidade de entrar num set e ser exagerado, fazer graça e apenas rir. E funcionou maravilhosamente bem. Ele é incrível, um dos melhores. Além de ser muito gentil. Alguém que dá prazer de trabalhar junto. É até estranho que o chamem para fazer personagens durões, políticos ou criminosos. Pessoas más, que não têm nada a ver com ele.
As aparições dele, cedo pela manhã, são muito engraçadas!
Ele está incrível. E é uma das pessoas mais humildes que conheço. Ele é belga, e se dedica muito. Não tem nem um pingo de estrelismo, está sempre disposto e não tem preguiça de tentar coisas novas. Isso tudo faz dele um ator maravilhoso.
Cyrano de Bergerac (1990), estrelado por Gerard Depardieu, foi um grande sucesso, além de premiado no mundo todo, inclusive no Oscar. Como você vê a relação entre esses dois filmes?
A minha relação com Cyrano de Bergerac, preciso ser honesto, é mais com a peça original do que com o cinema, ou esse filme em particular. Aliás, Cyrano já foi adaptado inúmeras vezes para o cinema, essa não é a única versão. Mas, claro, houve a sombra desse filme, afinal se trata de um clássico. Mas, mesmo antes do Gerard Depardieu envergar esse nariz gigante, Cyrano já era uma obra referencial. Haviam outros filmes, programas de televisão e peças de teatro. O primeiro registro, se não me engano, é do início do século passado, nos anos 1920, em um filme mudo. Há muitos anos a indústria do cinema vem se apropriando dessa história e refilmando-a nas mais diversas maneiras. E com certeza vão continuar, logo novos filmes serão feitos. Afinal, é isso que fazem com os clássicos, são constantemente adaptados para novas gerações. Mas Cyrano Mon Amour não é, na verdade, uma homenagem ao filme. É, sim, ao próprio Edmond Rostand e à peça que escreveu. Fala da origem de tudo isso. Quem foi o criador por trás da história? Mas falando do filme com o Depardieu, é claro que o acho magnífico. Com certeza, foi uma das nossas maiores inspirações.
Neste ano você está em outros dois filmes, como ator: Alerta Lobo, que já está na Netflix, e Inocência Roubada, previsto para estrear em breve. Como foi teu envolvimento com estes projetos?
Bom, em Inocência Roubada, se você piscar, não irá me ver (risos). Os dois diretores são meus amigos, e me ligaram um dia com esse convite: “olha só, temos esse personagem, quer vir fazer? Se não der, tudo bem, a gente entende”. E como não estava fazendo nada, e gosto muito deles, pensei “ok”, vamos lá. Apareço logo no começo, chegando com um dos meus filhos na aula de dança. Estou ali só para deixá-la, e já vou embora. Tinha duas ou três linhas de diálogo apenas, pois era um pai recém divorciado, então havia esse drama. O que me atraiu, acima de tudo, é que Inocência Roubada, assim como Cyrano Mon Amour, também havia sido uma peça antes. Os diretores possuem essa relação com o teatro, e por isso os conheço muito bem. Sem falar que foi um grande sucesso, um texto que todo mundo comentou.
Bem diferente, imagino, da tua participação em Alerta Lobo, não?
Alerta Lobo, por sua vez, é outra pegada. É um thriller, sobre submarinos. Se passa quase que todo no fundo do mar, e estou quase irreconhecível. De cabelo raspado, sem barba. A maioria das pessoas que o assiste não chegam a me reconhecer. Esse é um problema com o qual já estou acostumado.
Como assim?
Veja o caso de Cyrano Mon Amour, em que interpreto Georges Feydeau. Sempre que apresento o filme e falo da minha atuação, as pessoas levam um susto, pois sabem que sou o diretor, mas não se dão conta de que estou também no elenco. Nesse caso, no entanto, é por causa do bigode. O engraçado é que deixei crescer a barba por três meses, até ter um bigode volumoso de verdade, pois queria que fosse real. Um dia antes da filmagem, me barbeei por completo e deixei apenas o bigode. Quando mostrei para a equipe, olharam e disseram: “nossa, como ficou boa essa fantasia”. Ou seja, parecia falso! Isso me deixou tão irritado que acabei raspando tudo, e usei um falso de fato no filme. Era mais real do que o verdadeiro!
O sucesso do filme, na França, pode ser comparado com o retorno que a peça teve nos palcos?
Posso ser sincero e afirmar que a peça foi mais bem-sucedida. Mas o filme foi bem, também. Tivemos mais de 700 mil espectadores, o que é um número bem razoável. Até o momento já foi vendido para mais de 15 países – inclusive o Brasil. Então, para um primeiro filme, estou mais do que satisfeito. Talvez estivessem esperando por algo de maior impacto, ao menos na França, mas fiquei muito feliz.
Como você imagina que o público brasileiro irá receber Cyrano Mon Amour?
Olha, participei de algumas sessões do filme no Brasil, e o que percebi foi um retorno muito positivo. As pessoas saíam felizes do cinema, emocionadas, comentando o que haviam visto. Mesmo que você nunca tenha ouvido falar de Edmond ou mesmo de Cyrano, trata-se de uma história sobre teatro, sobre como é estranho e difícil criar uma obra de arte, e fala de amor, acima de tudo. Não é apenas sobre o teatro francês. Imagino que espectadores de qualquer canto do mundo poderão se conectar com essa trama.
(Entrevista feita ao vivo no Rio de Janeiro em junho de 2019)
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