A beleza ingênua de Joan Fontaine encantou Hollywood quando a então jovem atriz começou a dar seus primeiros passos no cinema na década de 1930. Porém, apesar da rápida ascensão na carreira, seu nome ficou marcado na história muito mais por ter sido a única intérprete de um filme de Alfred Hitchcock a ganhar o Oscar e também pela rivalidade com a irmã, a diva Olivia de Havilland.

Esta rivalidade parece ter vindo da própria criação familiar. Nascida Joan de Beauvoir de Havilland em 22 de outubro de 1917, em Tóquio, no Japão, seus pais eram naturais do Reino Unido. A mãe de Joan, Lilian Augusta de Havilland, era atriz, o que incentivou suas filhas. Olivia foi a primeira a seguir seus passos, inclusive tendo destaque em E o Vento Levou (1939). Por conta disso, a mãe das garotas teria proibido que Joan usasse o mesmo sobrenome para atuar. Por isto a escolha por Fontaine, por parte de pai. A própria afirmava que isto também se daria por uma preferência de Lilian em relação à Olivia.

Fofocas à parte, a estreia e os primeiros anos em Hollywood não foram dos mais destacados em sua carreira até a oportunidade de trabalhar com Hitchcock, que surgiu de forma quase inusitada. Em uma reunião com David O. Selznick, Joan teria comentado que havia lido e gostado muito de Rebecca: a Mulher Inesquecível, ao que prontamente o produtor de E o Vento Levou reagiu, já que este recém havia comprado os direitos da obra para o cinema. O resultado: uma série de testes em que bateu atrizes do calibre de Vivien Leigh e Loretta Young, uma quase torturante experiência com o mestre do suspense (que queria o melhor da atriz) e a consequente primeira indicação ao Oscar pelo filme de 1940.

Contudo, não foi desta vez que ela levou o ouro para casa, deixando a oportunidade para o ano seguinte. Novamente ao lado de HitchcockFontaine estrelou Suspeita (1941), um dos filmes mais bem conduzidos, porém com final totalmente descartável da filmografia do diretor. Algo que não rebateu na performance da atriz, que ganhou a estatueta em cima de nomes como Bette Davis e, é claro, a própria irmã, que era a favorita por sua atuação em A Porta de Ouro. Há quem diga que a animosidade entre as duas piorou após esta cerimônia, já que Olivia teria se levantado para cumprimentar Joan. Ela, no entanto, teria a ignorado.

Os problemas na carreira de Joan começaram pela “maldição do Oscar”. Após vencer o prêmio, suas escolhas de papeis não foram das melhores, embarcando sempre no terreno seguro da moça frágil. Por De Amor Também se Morre (1943) viria sua terceira e última indicação ao Oscar. Após, nada de grandes destaques, com uma exceção ou outra, como Ivanhoé: o Vingador do Rei (1952) ou Cartas de uma Desconhecida (1948), pelo qual teve uma atuação muito elogiada, ainda que não premiada. Com bons papéis cada vez mais em baixa, Fontaine foi para a televisão, onde participou de diversos telefilmes e séries por anos, além de ter atuado na Broadway, onde, inclusive, interpretou Disque M Para Matar, coincidência ou não, grande sucesso de seu mestre Hitchcock.

Cada vez mais sumida dos holofotes, Fontaine investiu em frutas cítricas, fazendas de gado, petróleo, imóveis… tudo longe do meio artístico. Tanto que foi eleita presidente da Oakhurst Enterprises, uma corporação da California formada para negócios próprios. Ainda estrelaria um telefilme ou outro neste período, mas sem nunca mais chamar a atenção como ocorreu nos anos 1940. Sua última aparição nas telonas havia sido em 1966 em A Face do Demônio. Já na televisão, foi em O Bom Rei Venceslau (1994), quase vinte anos antes de sua morte. A estrela de Joan Fontaine se apagou no dia 15 de dezembro de 2013, aos 96 anos de idade. Data em que, ironicamente, …E O Vento Levou, grande  sucesso de sua irmã, Olivia, completava 74 anos de estreia.

Filme imprescindível: Rebecca: A Mulher Inesquecível (1940)

Filme esquecível: A Face do Demônio (1966)

Maior sucesso de bilheteria: Rebecca: A Mulher Inesquecível (1940)

Primeiro filme: No More Ladies (1935)

Último filme:  A Face do Demônio (no cinema); O Bom Rei Venceslau (1994, telefilme)

Guilty pleasure: Ivanhoé: o Vingador do Rei (1952)

Papel perdido: Teve que recusar o papel de Karen Holmes em A um Passo da Eternidade (1953) por estar em um processo de custódia da filha contra o ex-marido. Quem levou a melhor foi Deborah Kerr, que foi indicada ao Oscar pela performance.

Oscar: Premiada como Melhor Atriz por Suspeita (1941). Indicada outras duas vezes na mesma categoria por Rebecca: A Mulher Inesquecível e De Amor Também se Morre (1943).

Frase inesquecível:A minha irmã nasceu um leão e eu um tigre. Segundo as leis da selva, eles nunca foram amigos” (sobre a relação com a irmã, Olivia).

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
avatar

Últimos artigos deMatheus Bonez (Ver Tudo)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *