13 ago

In Memoriam :: Lauren Bacall (1924 – 2014)

O seu olhar de femme fatale não poderia indicar outro caminho para o início da carreira em Hollywood. Betty Joan Perske, ou Lauren Bacall, era modelo e tinha 19 anos quando estreou no cinema em Uma Aventura na Martinica (1944), ao lado do futuro marido, Humphrey Bogart. Nascida em 16 de Setembro de 1924, em Nova Iorque, Bacall era filha de imigrantes judeus e prima direta de Shimon Peres, antigo Primeiro Ministro e atual Presidente de Israel.

Aos cinco anos de idade, seus pais se divorciaram e ela passou a utilizar o último nome da mãe, original, Bacall, com quem se mudou para a Califórnia. Lá teve aulas na American Academy of Dramatic Art. Após estrear na Broadway e ter a carreira de modelo alavancada, foi convidada pela esposa de Howard Hawks para estrelar seu primeiro filme. Entre seus treinos de atuação, os Hawks lhe ensinaram a falar em um tom de voz rouco, que logo seria sua marca registrada.
Apesar de um passo em falso com o filme Quando os Destinos se Cruzam (1945), que foi arrasado pela crítica, a carreira de Bacall crescia de forma rápida. Neste período, inclusive, estrelou À Beira do Abismo (1946), mais uma parceria com Bogart e Hawks, em que um diálogo dúbio sobre corrida de cavalos e sexo foi muito comentado na época.

Seu último trabalho com o então marido foi em Paixões em Fúria (1948), mais um clássico do cinema noir. Na década de 1950, Bacall rejeitou vários papeis, o que aumentou sua fama de personalidade difícil. Para quebrar um pouco esse ar que muitos chamavam de arrogante, a atriz estrelou Como Agarrar um Milionário (1953), comédia que fez ao lado de Marilyn Monroe e Betty Grable como caçadoras de maridos ricos.

Seu último grande papel nesta década foi ao lado de Gregory Peck em Teu Nome é Mulher (1957), comédia vencedora do Oscar de Roteiro Original. A partir de então, seus bons papeis começaram a minguar e sua carreira voltou-se para a Broadway nas próximas duas décadas. Sua carreira voltaria a decolar ao protagonizar Applause (1973), musical para a televisão inspirado no clássico A Malvada (1950), em que Bacall repetiria o papel de Bette Davis.

Foi o que bastou para Hollywood chamar de volta uma de suas grandes damas. A atriz foi peça importante do grandioso elenco de Assassinato no Expresso Oriente (1974), suspense baseado no livro homônimo de Agatha Christie que foi grande sucesso de público e crítica. Apesar do bom papel, nos próximos anos a estrela não teria grande visibilidade no cinema, e sim na política, onde mostrou ser totalmente partidária aos democratas, apoiando de forma ativa os candidatos do partido.

Seu nome voltaria aos holofotes cinematográficos nos anos 1990, primeiro ao ser citada como uma das divas de Madonna no sucesso Vogue. Após, ao fazer o papel da mãe de Barbra Streisand no sensível O Espelho Tem Duas Faces (1996) que lhe garantiu sua única indicação ao Oscar. Seu desempenho foi tão aplaudido que, ao subir ao palco para receber a estatueta por sua atuação em O Paciente Inglês (1996), Juliette Binoche reconheceu que a grande merecedora do prêmio era Bacall.

Desde então, foram poucos papeis de destaque em sua carreira, sendo impossível não mencionar sua participação em dois filmes de Lars von Trier, Dogville (2003) e Manderlay (2005). Em 2010, a atriz recebeu um Oscar honorário pela sua carreira. No dia 12 de agosto de 2014, Lauren Bacall deixou o mundo após um acidente vascular cerebral. Porém, seu olhar fatal continuará encantando a todos como uma das maiores divas da Era de Ouro de Hollywood.

 

Filme imprescindível: Teu Nome é Mulher (1957), onde foi reconhecida também por seu talento cômico.

Filme esquecível: Quando os Destinos se Cruzam (1945), seu segundo trabalho no cinema arrasado pela crítica.

Maior sucesso de bilheteria: O Espelho Tem Duas Faces (1996), com 40 milhões de dólares arrecadados só nos EUA.

Primeiro filme: Uma Aventura na Martinica (1944)

Último filme: O Falsificador (2012)

Guilty pleasure: Prêt-à-Porter (1994), uma das obras “menores” de Robert Altman.

Oscar: Recebeu uma única indicação como Melhor Atriz Coadjuvante por O Espelho Tem Duas Faces (1996). Em 2010, recebeu um Oscar honorário por sua carreira na Era de Ouro de Hollywood.

Frase inesquecível: “Eu gosto de vê-los treinarem um pouco, se eles são favoritos ou azarões, descobrir qual seu papel, o que os faz correr.”, Vivian Rutledge, em À Beira do Abismo (1946), no dúbio diálogo sobre corrida de cavalos e sexo.

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Matheus Bonez

é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.

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