A noite do quinto dia de programação oficial do 24° Cine Ceará foi marcada por um momento histórico. Quem primeiro subiu ao palco do imponente Theatro José de Alencar foi Nelson Xavier, que antecipou sua vinda à Fortaleza (ele próprio receberá um troféu por sua carreira na quinta-feira) para estar presente na homenagem oferecida ao cineasta e organizador da Jornada de Cinema da Bahia, Guido Araújo. O realizador, que é tema também de uma mostra retrospectiva com alguns dos seus principais trabalhos, foi lembrado pela APCNN – Associação de Produtores e Cineastas do Norte e Nordeste. Foi muito bonito o reencontro dos dois, oferecendo ao festival um instante para relembrar os esforços de dois pioneiros da cinematografia nacional.

Guido Araújo e Nelson Xavier

A quarta-feira guardou outras atrações para os participantes do evento. A Mostra Foco Argentina apresentou seis títulos: o curta de animação Vim Sozinho (2011), de Martín Boggiano, no recorte específico do gênero; o longa O Último Elvis (2012), de Armando Bo, destaque do Festival de Sundance, nos Estados Unidos, no ano do seu lançamento; o curta História de Amor num Banheiro Público (2002) e o longa Puto (2006), ambos de Pablo Oliverio e exibidos na seleção de filmes LGBT; e o curta A Garota Mais Estranha do Mundo (2014), de Mariano Cattaneo, e o longa A Memória do Morto (2012), de Javier Diment, estes dois integrando a programação especial Cinco Noites de Horror.

Denise Vieira, diretora de Meio Fio e diretora de arte de Marina Não Vai à Praia

As mostras competitivas nacional de curtas e ibero-americana de longas ocuparam a programação à noite no Theatro José de Alencar. Marina Não Vai à Praia (2014), do mineiro Cássio Pereira dos Santos, chamou atenção tanto pela temática, que aborda o desejo de uma garota com Síndrome de Down do interior de Minas Gerais de ver o mar pela primeira vez, quanto por uma trágica coincidência: a protagonista faleceu no início desse ano, vítima de um acidente automobilístico. Depois foi a vez de Meio Fio (2014), de Denise Vieira, que já havia sido exibido no Festival de Brasília. O curta narra a retomada da vida de uma locutora de rádio que, após o fim de um relacionamento, se muda para uma casa pré-fabricada em Ceilândia, no Distrito Federal, e tenta, sozinha, se reencontrar. É interessante pela maneira como abraça sua personagem sem reservas, ainda que não aponte para uma resolução concreta dos dilemas apresentados.

Juan Ignacio Aranda, de Obediência Perfeita

Por fim, o dia terminou com a projeção de Obediência Perfeita (2014), longa do mexicano Luis Urquiza. Inspirado em um polêmico caso de abuso sexual de menores por padres de uma ordem religiosa em seu país, o filme tem uma concepção novelesca, com clichês a torto e a direito, maniqueísta e sem a menor sutileza em suas tentativas condenatórias de exploração deste episódio. O ator Juan Ignacio Aranda, presente em Fortaleza para apresentar esse trabalho, destacou o sucesso de público que teve no México ao ser exibido nos cinemas, tendo contabilizado mais de 600 mil espectadores. Um retorno que dificilmente se repetirá em outros países, visto as particularidades tão específicas que apresenta. Em resumo, tem-se um filme que pouco acrescenta ao já batido debate a respeito das irregularidades da Igreja Católica ao redor do mundo.

(O Papo de Cinema é um veículo convidado oficial do 24° Cine Ceará)

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