Crítica

A temporada de 2004/2005 foi bastante impressionante para o cinema alemão. Foi nesta época que foram lançados os comentados A Queda (2005) e Uma Mulher Contra Hitler (2005), ambos indicados ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e vencedores de diversos prêmios internacionais. Mas faltava ainda chegar até nós, brasileiros, a produção que bateu estes dois nas principais premiações do cinema germânico - e o mais incrível, trata-se de uma comédia! Todos Contra Zucker, de Dani Levy, vencedor de 6 Lolas (o Oscar alemão), inclusive nas categorias de Melhor Filme (superando Uma Mulher Contra Hitler, 2005) e Melhor Ator, para Henry Hübchen (numa disputa que incluía ainda um impressionante Bruno Ganz, de A Queda, 2005). Mas após conferir a obra, a questão que surge é: merecia todo este alarde?

Talvez tenha sido um pouco além da conta. Não que Todos Contra Zucker seja um filme ruim - longe disso! Mas também não é dos mais originais, e com tantos personagens em cena e elementos na trama fica um pouco complicado garantir o interesse do espectador em todos os níveis da ação. Senão, vejamos: Jakob Zucker descobre que a mãe, a qual não via há mais de 40 anos, morreu recentemente, e que ele deve providenciar o funeral, tudo dentro da mais rígida tradição judaica. E, de quebra, o irmão - também afastado - estará presente, juntamente com a família, para todos estarem juntos durante a primeira semana após a morte materna. E se não se entenderem neste período, podem dizer adeus à herança que lhes cabe. Como os dois estão praticamente quebrados, tentarão fazer as pazes. O problema é que isso está acontecendo durante um importante campeonato de sinuca, que poderá livrar Zucker de várias dívidas - inclusive da prisão!

Tendo como pano de fundo a queda do Muro de Berlim e as diferenças entre as Alemanhas Ocidental e Oriental, fica quase impossível para Todos Contra Zucker não nos remeter a outro sucesso alemão recente, o mais bem sucedido Adeus, Lênin, de 2003. Por outro lado, trata-se de uma comédia, e ainda por cima alemã, o que por si só já desperta nossa curiosidade. Afinal, todo mundo sabe que humor germânico é artigo raro no mercado. Mas se o longa não provoca gargalhadas soltas, ao menos garante momentos de bom entretenimento, aliados a um contexto estruturado de forma inteligente, combinando bom senso com reflexão social.

Todos Contra Zucker foi um grande sucesso de público na Alemanha, tendo levado mais de um milhão de pessoas aos cinemas. No resto do mundo a recepção foi mais tímida, e não há motivos para os resultados serem diferentes no Brasil. Mesmo assim, tenho certeza que há cinéfilos nacionais dispostos a se interarem desta produção divertida e muito competente, que busca através do riso discutir questões bastante caras, mesmo que tenham sido elaboradas há quatro anos. A atualidade do discurso empregado continua na ativa, e sempre é válido empregarmos nosso olhar de estrangeiros sobre os problemas dos outros. Afinal, nem sempre a grama do vizinho é mais verde. Mesmo que esse esteja no Primeiro Mundo e aparentemente livre de desgraças como as nossas!

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
avatar

Últimos artigos deRobledo Milani (Ver Tudo)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *