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Sinopse

Fruto de uma linhagem de pilotos de corrida, Speed Racer é uma estrela automobilística que desperta a ira de empresários envolvidos em corrupção nos bastidores do esporte. Speed vai precisar desafiar esses vis magnatas.

Crítica

Depois do estrondoso sucesso de Matrix (principalmente do primeiro filme, de 1999), as irmãs Lilly e Lana Wachowski precisavam, definitivamente, se reinventar. Afinal, não iriam passar o resto da vida contando e recontando a saga de Neo (nem George Lucas se preocupa apenas com Luke Skywalker, basta ver o retorno de Indiana Jones às telas). E a opção deles recaiu num clássico da animação oriental, mas também de muito sucesso no Ocidente: Speed Racer, criado por Tatsuo Yoshida e exibido pela primeira vez na televisão japonesa em 1967. O objetivo, afirma o produtor Joel Silver, era fazer um filme “para toda a família”. O resultado, entretanto, está longe disso.

Speed Racer, o filme, conta a história do jovem Speed, filho do meio do clã Racer, todos aficionados por corridas de automóveis. O irmão mais velho, Rex, era também corredor, mas sumiu após um acidente misterioso. O mais novo, Gorducho, só cria confusão ao lado do macaco de estimação, Zequinha. Os pais – Pops e Mãe Racer – tentam organizar a bagunça, sem muito sucesso. Speed é o novo astro da família, e após vencer uma corrida disputada passa a ser assediado pelas companhias mais importantes. Mas o que descobre é que estas, na verdade, armam os resultados, buscando os melhores resultados para seus produtos. Assim, decide se unir ao – até então rival – Corredor X para, juntos, acabarem com esta armação desonesta.

Num papel que foi disputado por atores como Johnny Depp e Nicolas Cage, o novato Emile Hirsch (que mostrou ser um ótimo ator no visceral Na Natureza Selvagem) assume o papel título. Agora por que ele decidiu encarar este projeto, ao lado de nomes mais tarimbados como John Goodman (Pops), Susan Sarandon (Mãe), Christina Ricci (Trixie, a namorada) e Matthew Fox (X), é bastante simples: todos precisavam, urgentemente, de um estrondoso sucesso comercial. Fox é conhecido na televisão (é o doutor Jack, da série Lost), mas pouco fez no cinema. Sarandon tem até um Oscar na estante, mas isso já conta mais de dez anos, e desde então pouco tem se destacado. Goodman foi... Fred Flintstone? E Ricci... a Vandinha, da Família Addams, 1991? Já Hirsch, conhecido dos cinéfilos mais dedicados, precisava se tornar popular, e assim, viável comercialmente. Só que não foi desta vez.

Prensado num mês que começou com o lançamento de Homem de Ferro (2008) - mais de US$ 200 milhões arrecadados em todo o mundo só nos 3 primeiros dias de exibição - e que terá ainda pela frente Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal (2008) e As Crônicas de Nárnia: Príncipe Caspian (2008), Speed Racer acabou comendo poeira. Apesar de ter custado mais de US$ 100 milhões, somou nas bilheterias norte-americanas no final de semana de estréia menos de US$ 20 milhões, amargando uma terceira posição entre os mais vistos. Isto praticamente enterrou as possibilidades de uma continuação e, assim, o início de uma nova franquia. Mas por que as pessoas não foram assistir a Speed Racer?

São vários os motivos que podem explicar o fracasso desta empreitada. Mas talvez o mais simples seja, também, o mais verdadeiro: excesso. É muito colorido, muito frenético, muito agitado, muito editado, muito fantasioso, muito psicodélico, muito demais! Em contrapartida, tem história de menos, sem falar nos personagens, tão rasos quanto um pires. E sem motivação, com o que o espectador irá se identificar? Com o Mach 5 (o carro pilotado por Speed)?

Vertiginoso (creio que desde Moulin Rouge, 2001, não tinha tanta gente saindo tonta das salas de cinema), frenético, intenso, porém tão vazio quanto um pastel de vento, esta aventura nunca consegue deixar claro seus objetivos. O visual inovador e o conceito inédito de cenários digitais logo deixam de ser novidade, e após meia hora de projeção você já estará se perguntando quanto falta para acabar. E sem empatia, a experiência toda se revela atordoante. Speed Racer, o filme, talvez tenha melhor chance na telinha, universo mais próprio do personagem. Do jeito que está, entretanto, parece brincadeira de moleque – ainda mais numa temporada em que, capitaneada por nomes como Homem de Ferro, Indiana Jones, O Incrível Hulk, Príncipe Caspian e Batman, já deixa claro que a batalha será coisa de gente grande!

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.

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