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Sinopse

Depois de ser preso por conta de um acidente automobilístico, um jovem logo entra para um grupo de presidiários chamado de Comando. Sua mãe, Lucia, professora de piano, é arrastada para esse submundo, se transformando em peça-chave de um jogo perigoso.

Crítica

Eleito para ser o representante brasileiro na disputa por uma indicação ao Oscar na categoria de Melhor Filme em Língua Estrangeira, Salve Geral só nos dá uma certeza: a de que estamos fora do páreo. Afinal, poucas vezes nos últimos anos o longa nacional selecionado era tão desprovido de méritos. Talvez Orfeu, em 1999 (será uma sina a cada dez anos?) tenha sido o caso mais próximo. Pois desde então, todos os títulos escolhidos – Cidade de Deus (2002), Tropa de Elite (2007), O Ano em que Meus Pais saíram de Férias (2006) – possuíam qualidades que os colocavam aptos à competição proposta. Até mesmo o equivocado Última Parada 174 (2008) era dono de mais elementos a seu favor.

O mais curioso a respeito desta seleção é que, pelos temas abordados pelos finalistas no processo, era de se apostar que o longa do diretor Sérgio Rezende seria o indicado. Afinal, apresenta vários dos quesitos relevantes a esta eleição, como tratar de uma questão urbana, envolvendo violência nas grandes cidades e, ao mesmo tempo, assumindo um viés humano, com uma forte figura feminina como protagonista. E talvez seja por isso mesmo que a frustração ao nos depararmos com o que vemos na tela seja tão grande.

O realizador de O Homem da Capa Preta (1986) e Guerra de Canudos (1997) decidiu, assim como em seu trabalho anterior (Zuzu Angel, 2006), ter uma mulher à frente do elenco. Quem desempenha este papel é Andréa Beltrão, que só não é a melhor coisa de todo o filme porque tem ao seu lado e igualmente ótima Denise Weinberg. As duas são as responsáveis por manter o espectador acordado durante a projeção. Ambas estão completamente entregues aos seus personagens, por mais passíveis de erros e moralmente equivocados que eles possam ser. Beltrão, da mesma forma como fez no pouco visto Verônica (2008), agarra com todas as forças o papel que lhe é entregue, oferecendo ao menos algo que recompense o investimento do público. Assim como Weinberg, compondo uma coadjuvante por excelência numa atuação irretocável.

Lúcia (Beltrão) perdeu o marido há pouco, e com ele foi-se também o estilo de vida da família. Ela e o filho (o estreante Lee Taylor) se mudam para o subúrbio e tentam se adaptar a nova condição. Ele, no entanto, não consegue esconder a revolta, e se joga às más companhias. Ao lado delas acaba se envolvendo num crime, que o leva à prisão. A partir deste ponto a mãe fará tudo que estiver ao seu alcance para soltá-lo, até mesmo se envolver com outros bandidos e servir de ajudante para uma advogada (Weinberg) de caráter bastante duvidoso. As coisas parecem estar dando certo, mas no dia do indulto do Dia das Mães de 2006, quando o garoto consegue sair do presídio para uma visita familiar, acontece o Salve Geral, quando o PCC – Primeiro Comando da Capital, facção criminosa que se impôs contra a repressão policial, decide tomar conta de São Paulo, simplesmente evacuando as ruas e instaurando um clima de terror nunca antes imaginado na maior cidade do país. E mãe e filho se veem diretamente envolvidos nesta tragédia inimaginável.

O mais chocante de tudo é que como um produto tão morno pode ter sido feito a partir de um argumento tão explosivo como este. Os pontos problemáticos são vários e fáceis de apontar, no entanto. A começar pelo próprio perfil dos personagens, não muito fáceis de serem defendidos. É muito difícil se compadecer com o drama enfrentado pelos protagonistas, uma vez que tudo que lhes acontece é reflexo imediato das atitudes que tomam, e não infelizes casualidades do destino. Outro fator foi a decisão do cineasta em manter os acontecimentos no aspecto íntimo, pessoal, quando se sabe que mais de 20 milhões de pessoas foram diretamente afetadas por este episódio. A dimensão se perde, assim como a empatia da plateia.

Salve Geral não possui chances de alcançar bons resultados, seja junto ao público ou com a crítica, queira se aventurar no Brasil ou no exterior. Lançado no centro do país no início de outubro, teve um desempenho muito aquém do esperado, o que dificultou sua exibição nos estados do Sul e do Norte. E sem conseguir se firmar dentro da própria casa, não é muito complicado imaginar o que irá lhe acontecer quando estiver diante de outros competidores muito mais fortes e bem estruturados. Não foi dessa vez, novamente. E parece estar cada vez mais distante o tempo em que se faziam bons filmes falados em português.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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