Crítica

O cinema francês anda numa fase particularmente interessante. São tantos filmes de altíssima qualidade atualmente em cartaz – Os Nomes do Amor, Para Poucos, A Guerra está Declarada, Minhas Tardes com Margueritte e Tomboy encontram-se, todos ao mesmo tempo, em exibição em Porto Alegre – que cada novo lançamento acaba cercando-se de muita expectativa. Felizmente, ela é mais do que recompensada no caso de Românticos Anônimos, essa saborosa e esquisita comédia romântica escrita e dirigida por Jean-Pierre Améris, o mesmo de Más Companhias, 1999, e Eu me chamo Elisabeth, 2006.

Angélique (Isabelle Carré, de Medos Privados em Lugares Públicos, 2006) é uma chocolatiêr de mão cheia. Mas possui um pequeno problema: uma timidez alarmante. Seu constrangimento cada vez que vira o centro das atenções é tão grande que chega a desmaiar. Para evitar esse embaraço, decide mentir sobre seu talento, e o fabuloso chocolate que elaboradamente cria acaba sendo reconhecido como se fosse de autoria de um velho ermitão isolado de tudo e de todos, cujo único contato com o mundo fosse através dela. À procura de emprego, acaba batendo na porta da fábrica de chocolates de Jean-René (Benoît Poelvoorde, de Coco Antes de Chanel, 2009), um homem que sofre do mesmo mal que ela: absoluta falta de jeito ao lidar com outras pessoas. E, como não poderia acontecer de forma diferente, os dois irão se apaixonar um pelo outro. Mas, até criarem coragem para assumir esse sentimento e se declararem, muitas confusões irão acontecer.

A performance de Isabelle Carré chegou a ser reconhecida pela Academia de Cinema Francês, que a indicou como uma das cinco melhores atrizes de 2010 no César (a vitoriosa foi Sara Forestier, do já citado Os Nomes do Amor). Mas creio ser um pouco complicado apontar apenas um deles como destaque, pois Românticos Anônimos cresce realmente quando os dois estão em cena. É a química que se estabelece entre o casal protagonista que oferece um brilho todo especial ao filme. Este é, literalmente, um daqueles longas de dar água na boca, e se a história soa à princípio ser um tanto bobinha, nos pegamos surpreendidos quando percebemos o quão envolvente pode ser. Partimos abertamente pela torcida por um final feliz – por mais evidente que este seja – mas de qualquer forma o que importa nesse gênero em específico é o caminho que se faz até lá. E este aqui é tão gostoso quanto a melhor das sobremesas: vem em pequenas porções, mas é exatamente o que faz o arremate final de um belo jantar.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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