Riocorrente
Crítica
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Sinopse
Marcelo é jornalista. Carlos é um ex-ladrão de automóveis. Renata é uma mulher dividida entre dois relacionamentos tão diversos quanto os seus desejos. Exu é o porvir.
Crítica
Paulo Sacramento é um dos grandes nomes do atual cinema brasileiro, porém não como cineasta. Reconhecido por seu trabalho como editor em filmes como Amarelo Manga (2002) e Meu País (2011), foi premiado nos festivais de Brasília, Ceará e Gramado, além da APCA – Associação Paulista de Críticos de Arte – e no Grande Prêmio Brasil de Cinema. Enquanto diretor, no entanto, sua única experiência até hoje havia sido com o documentário O Prisioneiro da Grade de Ferro (2003), vencedor dos festivais de Los Angeles e do Rio de Janeiro, entre outros. Por isso a expectativa em relação à Riocorrente, sua estreia como realizador de ficção, exatos dez anos após sua primeira incursão no comando de uma obra. E se o resultado não está à altura do que se aguardava, ao menos possibilita um vislumbre de um eficiente contador de histórias.
Os protagonistas de Riocorrente são Marcelo (Roberto Audio), um jornalista preocupado com a preservação da memória, Carlos (Lee Taylor), um ladrão de carros, e Renata (Simone Iliescu), a mulher que tem seu coração – e sexo – dividido por estes dois homens. Além deles há a presença de Exu (Vinícius dos Anjos), um garoto de rua abrigado pelo bandido, que reflete bem o descaso vivido pelos personagens principais. Por fim, há a própria cidade de São Paulo, observadora consciente do drama enfrentado por todos e, especialmente, por estas figuras aqui desenhadas. Com tantas opções, como escolher o que se quer de verdade?
Renata começa a história na cama de Marcelo, apenas para deixá-lo logo de manhã e correr para os braços de Carlos. Esse, ao mesmo tempo em que a repele, questiona sua ausência com veemência. O primeiro quer compromisso, o segundo busca prazer e, quem sabe, algo mais. E ela, o que almeja com estes dois relacionamentos? A tensão/tesão que se instala entre eles será como uma panela de pressão, uma chaleira prestes a explodir. Assim como a cidade que os abraça, aqui ninguém pode ficar parado, pois qualquer descuido poderá significar a diferença entre sucesso e derrota, entre vitória e frustração, entre vida ou morte. O calor que aquece também perturba, a ponto da violência irromper de modo quase que dominante.
Paulo Sacramento, também autor do roteiro, da produção e da montagem final, demonstra controle pelo filme que realiza. Seu interesse, no entanto, parece ser maior pelos tipos criados do que pela história em si que os conecta. Riocorrente é uma trilha que segue, e se os objetivos traçados não chegam a ser realizados plenamente, ao menos o clima provocado é eficiente em abalar os nervos dos envolvidos em ambos os lados da tela. Trata-se, portanto, de um filme-exercício, que possui méritos evidentes, mas que poderia ser ainda melhor caso houvesse tido um maior cuidado com os detalhes e uma parcimônia nos excessos imagéticos, principalmente naqueles voltados à estética adotada. Sua eficiência é perceptível em diversos elementos, partes que se sobressaem ao todo. Pode não ser o melhor dos resultados, mas é algo que, definitivamente, não pode ser ignorado.
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O filme foi uma grande decepção para mim. Havia alguma expectativa, já que o documentário (O prisioneiro da grade de ferro) tem a contundência e veemência que o tema requisita. Como moradora de SP mas não natural daqui - o que me possibilita ter um olhar de estrangeira e conhecedora ao mesmo tempo - fiquei muito animada com a ideia de um filme em que a cidade fosse quase um personagem e que estabelecesse relações com outros personagens (os humanos). Mas a sensação final foi de uma grande chance perdida, de uma boa ideia muito mal aproveitada. Terminei de ver o filme e ainda fiquei sentada, pensando que nem os personagens ficaram bem delineados pra mim. Tenta-se falar de tudo - dificuldades de relacionamento, oportunidades e opressões na cidade, abandono e solidão - e não se fala de nada de verdade.