Quarentena

16 ANOS 89 minutos
Direção:
Título original: Quarantine
Ano:
País de origem: EUA / Espanha

Crítica

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Sinopse

Durante a realização de uma matéria sobre o corpo de bombeiros local, uma repórter e seu cinegrafista recebem um chamado para averiguar um prédio no qual a polícia investiga circunstâncias estranhas. Eles encontram uma senhora infectada por algo desconhecido e ficam presos quando as autoridades decidem lacrar o lugar.

Crítica

Hollywood é especialista em resgatar sucessos de outros países e ‘remodelá-los’ ao gosto norte-americano. Isso inclui diversas produções, desde o oscarizado Os Infiltrados (2006) até o brasileiro Dona Flor e Seus Dois Maridos (1976). E um dos mais recentes exemplos é o terror Quarentena, que nada mais é do que a versão ‘comportada’ do espanhol REC (2007). E este novo filme, se explora com certa competência a boa ideia original, acaba se perdendo numa conclusão apressada e em sustos fáceis.

Dirigido pelo desconhecido John Erick Dowdle, Quarentena começa de modo aparentemente inofensivo. Acompanhamos uma jornalista (Jennifer Carpenter, de O Exorcismo de Emily Rose, 2005), obviamente em início de carreira, tentando fazer uma matéria sobre o cotidiano do corpo de bombeiros de Los Angeles. Dois oficiais (Jay Hernandez, de O Albergue2005, e Johnathon Schaech, de The Wonders: O Sonho Não Acabou, 1996) são destacados para orientá-la durante um chamado, naquilo que eles garantem ser apenas algo rotineiro (“provavelmente tirar um gato de uma árvore ou levar um senhor a um hospital”, alertam-na). Ao chegarem num edifício antigo, encontram quase todos os moradores no hall de entrada. Eles afirmam que uma senhora do segundo andar está aos gritos. Após entrarem no apartamento, a encontram ensanguentada e com a boca espumando. Ela os ataca com uma força descomunal, e é preciso mais de um homem para contê-la. Os bombeiros descem para chamar uma ambulância, mas é neste ponto que a ameaça se instaura – não há mais como sair do prédio! O local inteiro foi lacrado, e ninguém está autorizado a entrar ou sair. Do lado de fora, policiais, helicópteros e as forças armadas fazem o bloqueio, enquanto que uma multidão de curiosos tenta descobrir o que se passa. Mas mais intrigados estão os enclausurados, que não se cansam de perguntar o que está acontecendo.

Aos poucos ficamos a par de que há no prédio um vírus mutante de um novo tipo de raiva animal, contagiosa em humanos, que se desenvolve com incrível rapidez e com efeitos devastadores. As pessoas contaminadas se transformam em monstros letais quase indestrutíveis. Para detê-los, somente com a morte. E os que continuam vivos dentro do edifício tentam fazer de tudo não só para contê-los, como também para impedi-los de novos ataques – afinal, basta entrar em contato com o sangue dos infectados para que a doença se dissemine. Estamos novamente diante de um clássico jogo de gato-e-rato, porém desta vez dentro de um ambiente claustrofóbico e apavorante. O grande lance que tenta diferenciar Quarentena dos demais do gênero é a fotografia do filme, que, feita no estilo do recente Cloverfield: Monstro (2008) e no hoje já referencial A Bruxa de Blair (1999) provoca ainda mais angústia no espectador. Em nenhum momento ficamos diante de um quadro parado – tudo é visto através das lentes do cinegrafista da repórter, ou seja, é como se estivéssemos assistindo as fitas da reportagem – ou ao menos o que foi recuperado delas. É tudo muito tremido, nervoso. O que também facilita no sentido de proporcionar uma quantidade enorme de sustos ocasionais. São tantos – e desnecessários – que lá pelas tantas estamos cansados. E o pior é que o pesadelo nem bem havia começado!

Quem assistiu aos dois filmes – Quarentena  e REC – afirma que são quase que uma cópia literal um do outro. Bem, nesse caso, a única coisa que posso afirmar é que isso nada mais é do que um sinal evidente da clara escassez de ideias do cinema hollywoodiano. Se por um lado o longa é eficiente em provocar medo e pregar peças no espectador, por outro cai na vala comum dos filmes de mortos-vivos, como os superiores Extermínio (2002) e Madrugada dos Mortos (2004). Ou seja, enquanto dura até é divertido e prende atenção. Mas logo que acaba – e sem explicar muito bem as origens de todo o tormento – o que foi visto fica pálido, como uma lembrança não muito memorável. E completamente descartável.

Robledo Milani

é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.

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