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Sinopse

Desde pequena, Rebecca é atormentada por fantasmas quando as luzes se apagavam. Acredita ser perseguida pela figura de uma mulher que vagava apenas na escuridão. Anos mais tarde, seu irmão caçula começa a sofrer do mesmo problema. Juntos, descobrem que a aparição está ligada à mãe deles.

Crítica

Em 2013, em curta de apenas 3 minutos de duração, feito em vídeo e como exercício narrativo, mais para testar técnicas e habilidades dos envolvidos, tomou a internet de assalto, virando uma verdadeira febre. Trata-se de Lights Out (facilmente encontrável no Youtube ou mesmo no Google), que com apenas um cenário e uma única atriz no elenco fez tanto sucesso que alavancou de vez a carreira do diretor e roteirista David Sandberg. Tanto que, após outros seis curtas-metragens feitos nos dois anos seguintes, ele estreia agora no formato de longa duração com uma adaptação da mesma história, só que agora desenvolvida o suficiente para sustentar 80 minutos de trama. Quando as Luzes se Apagam tem a missão de provar que o cineasta é mais do que indicava o seu até então ‘cartão de visitas’. Porém, pelo resultado genérico aqui apresentado – além da confirmação de que seu próximo trabalho será Annabelle 2 (2017) – tudo indica que ele até pode estar sendo apadrinhado por James Wan, porém ainda tem muito o que mostrar se quiser ir além destes caminhos já trilhados.

Assim como outros exemplos do gênero assinados por Wan – seja como diretor (Jogos Mortais, 2004, Sobrenatural, 2010, ou Invocação do Mal, 2013) ou como produtor (Annabelle, 2014, ou A Casa dos Mortos, 2015) – Quando as Luzes se Apagam também começa apostando mais no suspense do que no terror explícito. Porém, como se trata do segundo caso e o bem sucedido realizador de Velozes e Furiosos 7 (2015) e Aquaman (2018) parece estar mais preocupado com seus projetos futuros ao invés de doutrinar novos pupilos, essa paciência demonstrada inicialmente logo se esgota, passando-se a investir em sustos mais escancarados, eliminando o poder da sugestão e dando espaço para recursos óbvios – como portas que se abrem inexplicavelmente, ruídos estranhos antes de lâmpadas e lanternas falharem e personagem que desaparecem sem muita explicação. Aliás, neste ponto há uma irritante constatação: todo intérprete negro do elenco, seja a conselheira tutelar ou os policiais chamados de emergência, ou são descartados sem cerimônia ou eliminados de modo irreversível. Não há tempo para o politicamente correto, pelo jeito.

Após a morte do pai (participação especial de Billy Burke, da saga Crepúsculo), garoto (Gabriel Bateman, de Annabelle) não consegue mais dormir à noite por medo da mãe (Maria Bello), que se tranca em casa e passa a falar sozinha. A situação desperta o interesse dos professores do menino, que o pegam cochilando em plena sala de aula. Como resultado, a irmã mais velha (Teresa Palmer), que não mora mais com eles, é chamada. A criança quer ficar com a mana, mas a lei pode considerar isso um sequestro, uma vez que a guardiã legal dele ainda é a mãe. E se esta está ou não desequilibrada, esta dúvida parece menor diante da menção do único nome por ela pronunciado: Diana. E ao saber desta presença, Rebecca terá não só que voltar para casa, mas também lidar com os maiores medos maternos, pois somente os três, juntos, poderão salvar esta família.

A explicação, que não demora a ser dada, é que Sophie (a mãe), quando criança e órfã, teve como colega de orfanato a tal Diana, que por sofrer de uma rara doença de pele vivia se escondendo no escuro. Os tratamentos alternativos que enfrentou, ao invés de levá-la à cura, terminaram por matá-la. Só que agora ela está de volta como uma assombração determinada a não perder a única companhia que chegou a ter em vida – Sophie. E, para isso, está disposta a eliminar qualquer um que se coloque no caminho delas, sejam os remédios terapêuticos, os maridos – as crianças possuem pais diferentes, e ambos foram assassinados misteriosamente – ou até mesmo os filhos. Como se percebe, este espírito do mal parece ter frequentado a mesma escola de Samara e outras garotas cabeludas e desgrenhadas que volta e meia decidem vir do além para pregar suas peças cinematográficas.

Respeitoso com sua fonte – a atriz Lotta Losten, protagonista do curta, faz uma participação especial no prólogo – e assustador na medida certa, Quando as Luzes se Apagam é um produto competente, porém não mais do que isso. Palmer e Bello, os dois nomes mais conhecidos, não desapontam em suas expressões de medo e determinação, enquanto que o companheiro da mais jovem, interpretado pelo novato Alexander DiPersia (cuja estreia foi numa ponta em Eu Sou a Lenda, 2007), surpreende pela desenvoltura, garantindo-lhe uma conclusão muito além do esperado. Em resumo, é um filme que, mesmo longe de provocar o mesmo impacto do original, cumpre o que promete e deve garantir o entretenimento dos mais aficionados, ao menos até as luzes – da sala de projeção, é claro – se acenderem.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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