Crítica

Às vésperas das Olimpíadas no Rio de Janeiro, o Brasil vive uma pluralidade de novidades que invadem o país muito além da esfera esportiva. São críticas que apontam à incapacidade da cidade em servir como sede dos jogos, escândalos de corrupção, especulações imobiliárias, protestos, crises na saúde e a violência, num conjunto que torna competidores internacionais temerosos, entre outras problemáticas. Para além de todas as polêmicas, e destacado entre os maiores êxitos do evento em terras tupiniquins, estão os Jogos Paralímpicos, que serão mais acessíveis aos paratletas brasileiros. Estes recebem a devida atenção e exaltação no documentário nacional Paratodos, de Marcelo Mesquita.

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Numa abordagem episódica e multitemática, Paratodos explora diferentes modalidades esportivas e os dramas e superações de seus atletas, portadores de necessidades especiais distintas. Da equipe de futebol integrada por deficientes visuais aos corredores com lâminas no lugar de suas pernas, os registros evidenciam a jornada de pessoas que desafiam a si mesmo a cada dia e parecem desconsiderar o conceito de limitação física, geralmente aplicado a elas. Apoiada pelo Comitê Paralímpico Brasileiro, a produção é protagonizada por atletas como Alan Fonteles, velocista detentor de recordes que busca redenção após ser afastado da seleção nacional, e Fernando Fernandes, modelo e ex-BBB que se tornou paracanoista após um acidente que lhe retirou o movimento das pernas.

Foram quatro anos de filmagens entre seis países e diferentes competições – de paralimpíadas a torneios mundiais – até Paratodos ganhar forma. Apoiado numa narrativa clássica de documentário esportivo, Mesquita não vai além do registro das imagens espetaculares dos atletas em campo, rios, pistas de corrida ou piscinas. Estes são os esportes prestigiados pela abordagem do filme: futebol de cinco, corrida, natação e canoagem. Entre entrevistas com os paratletas, suas equipes e familiares contrapostos com imagens de arquivo que definem seus históricos, o documentário privilegia o objeto à forma. Não há inventividade ou ineditismo estético ou narrativo, mas o foco e sua exposição garantem uma sessão envolvente e até mesmo emocionante.

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Mais que uma introdução aos Jogos Paralímpicos Rio 2016, Paratodos é um convite para a apreciação de uma competição ainda menosprezada e com pouca visibilidade. Enquanto em Londres os estádios eram lotados por entusiastas dos paratletas e seus eventos, o Brasil ainda enfrenta o desinteresse de espectadores e a baixa procura pelos ingressos – estes, inclusive, vendidos com valores promocionais. Paratodos tem um plano de distribuição específico para levar o filme até escolas, o que demonstra a preocupação com a formação de novos espectadores e torna a produção ainda mais louvável.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Graduado em Publicidade e Propaganda, coordena a Unidade de Cinema e Vídeo de Caxias do Sul, programa a Sala de Cinema Ulysses Geremia e integra a Comissão de Cinema e Vídeo do Financiarte.
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