Crítica

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O canadense Matt Johnson está se especializando no formato documentário falso, chamado comumente de mockumentary na gringa. Em The Dirties (2013), o jovem cineasta mostrava um plano de vingança contra os bullies de seu colégio, assumindo ele mesmo o papel protagonista ao lado de seu amigo Owen Willians, utilizando da câmera subjetiva e dos chavões do gênero documentário para contar uma história tão falsa quanto perigosa. Três anos depois, Johnson se envolve em um projeto ainda mais arrojado e ambicioso: a conquista do espaço. Ou melhor, a corrida entre Estados Unidos e União Soviética para colocar o primeiro homem na lua, em plena Guerra Fria, na década de 1960. Para tanto, o diretor praticamente faz uma viagem no tempo e se joga para aquela época, sendo o homem que conseguiu fazer o país americano vencer a tal corrida – de um jeito ou de outro. Isso é Operação Avalanche.

Ambientado na década de 1960, o longa-metragem mostra dois jovens agentes da CIA – Matt Johnson e Owen Williams, usando seus nomes verdadeiros – que se infiltram na NASA para encontrar um espião soviético que estaria passando informações para seus camaradas. Nesse movimento, os dois acabam descobrindo que os Estados Unidos não têm ideia de como fazer para o homem pousar na lua – ao menos não em tempo de vencer a corrida contra seus inimigos. Ao saber disso, Johnson tem um estalo: encenar a chegada de Neil Armstrong na lua e usar das imagens como prova de que a América plantou sua bandeira primeiro. Owen é mais pé no chão e acredita que o plano tem tudo para dar errado. Mas Matt é cabeça dura e fará de tudo para que suas filmagens funcionem – nem que para isso, tenham de pedir a ajuda a um grande cineasta como Stanley Kubrick, em plena filmagem de 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968).

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Essa teoria da conspiração não é nada nova e muitas pessoas acreditam piamente que foi Kubrick quem dirigiu as supostas imagens do homem pisando na lua. O que é interessante em Operação Avalanche são os twists que Johnson acrescenta à trama, modificando um conceito bem sedimentado na cabeça dos conspiradores de plantão e se incluindo nesse momento histórico único. Para tanto, ele utiliza de imagens de arquivo e trucagens para conseguir “voltar no tempo” e estar presente em pontos marcantes daquele período. O uso da imagem granulada em 8mm e 16mm ajuda a plateia a comprar o conceito. E a paixão de Matt Johnson pelo projeto é muito óbvia, desde o seu início. Basta olharmos o cuidado com o retrato de época que o filme exibe, além dos riscos que a equipe tomou para alcançar um grau de realismo intenso. O exemplo mais claro é o fato de Johnson e seus amigos terem realmente se infiltrado na NASA para filmar o longa. Sob a desculpa de ser um cineasta capturando imagens para um documentário sobre as missões Apollo, ele ganhou espaço privilegiado para adentrar nos locais onde parte daquela história realmente aconteceu. Esse passeio entre a realidade e a ficção fazem muito bem ao filme.

Assim como em The Dirties, Matt Johnson e Owen Williams vivem amigos bastante diferentes, com o primeiro sendo o ousado sonhador enquanto o segundo é o cético pé no chão. Embora a história principal em Operação Avalanche seja a gravação do homem na lua, a trama dá espaço para o desenvolvimento da cisão na relação entre os dois, com suas diferenças não permitindo mais que a amizade continue. O desfecho de um deles, inclusive, mostra uma seriedade que não condiz com o início divertido da trama. Nada mais natural. Os riscos cresceram, os perigos aumentaram. Ninguém estaria seguro, afinal de contas.

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Equilibrando a trama como uma comédia de início para virar um thriller tenso no final, Operação Avalanche perde um tanto do seu foco no terço final, como se já não soubesse mais a história que desejava contar, até que recaptura a atenção do espectador com uma cena de perseguição fantástica, em plano sequência, em alta velocidade, com direito a tiroteios e um bom trecho com um dos carros em marcha ré. Por ser uma produção de orçamento limitado, o que Matt Johnson realiza ali é um trabalho de muito fôlego, com seu talento e criatividade sendo aliadas fortes para o resultado final muito acima da média.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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