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Sinopse
Joseph Merrich é um jovem com uma doença genética que deformou seu corpo com o passar dos anos. Sua vida começa a mudar quando o doutor Frederick Treves o encontra em um circo de aberração em Londres. Joseph, que era maltratado, alimentado por sobras de comida e constantemente espancado, vê esperança com a atenção do médico.
Crítica
Nunca se sabe o que esperar de um filme de David Lynch. O cineasta famoso por suas histórias surreais e complexas, até mesmo quando opta por uma narrativa um pouco mais convencional, consegue surpreender. É o caso de O Homem Elefante, belíssimo drama ambientado no século XIX, que retrata um monstro horrível, patético e asqueroso. E estes adjetivos não cabem a John Merrick, o pobre ser humano que nasceu com anomalias, e sim, à nossa própria sociedade.
Baseado nos manuscritos do doutor Frederick Treves, O Homem Elefante conta a história de John Merrick (John Hurt), que nasceu com sérias deformações no corpo e, por isso, é tratado como uma aberração de circo. Tudo levava a crer que Merrick estava fadado a um destino pouco digno, até que o doutor Treves (Anthony Hopkins) coloca os olhos nele. Em um primeiro momento, o doutor usa Merrick apenas para um inovador projeto. Mas com o passar do tempo, acaba ficando fascinado com a figura misteriosa do chamado Homem Elefante. Para sua surpresa, Merrick não só é um homem normal em sua mentalidade, mas também revela-se uma pessoal especial e amistosa.
David Lynch é hábil ao contar a história sem apressar a narrativa. Vamos degustando a evolução de John Merrick e nos surpreendendo com suas conquistas, paulatinamente. O doutor é quase um representante da plateia, por estar observando perplexamente a progressão do seu paciente, apesar de poder contribuir diretamente com ele – diferente do espectador, que nada pode fazer. Anthony Hopkins, muito antes da fama alcançada com O Silêncio dos Inocentes (1991), serve como nosso cicerone, mas não escapa das perguntas mais preponderantes da história. Seria ele um explorador daquele sujeito, assim como aquele outro de quem Merrick foi resgatado? É bem verdade que o questionamento é rápido e não dá margem para muito desenvolvimento. Mas o fato de estar ali já conta muitos pontos.
Lynch viria a ser conhecido pelas narrativas inusitadas, mas também por ser um incrível diretor de atores. John Hurt, por exemplo, pode estar escondido sob pesada maquiagem, mas sua atuação é digna de nota. Foi, inclusive, vencedor do BAFTA como Melhor Ator, tendo sido indicado na mesma categoria no Oscar daquele ano. Se no começo da narrativa, Hurt tem especial cuidado na expressão corporal do seu personagem, a partir do momento em que Merrick começa a falar, nota-se um desenvolvimento ímpar naquele sujeito, muito bem retratado pelo seu intérprete. Nos comovemos com sua evolução e acreditamos naquela figura extraordinária graças ao trabalho de John Hurt.
A fotografia em preto-e-branco e a direção de arte que nos transporta para a Inglaterra do século XIX são pontos a serem exaltados em O Homem Elefante. Além de nos dar um senso de passado, a forma como o longa-metragem é fotografado remete a outras escolas cinematográficas, como o Expressionismo Alemão ou a filmes britânicos dos anos 40. Mas nada dessa beleza plástica do filme seria interessante caso a história de John Merrick não fosse cativante, fato que seguramente o é.
Infelizmente, o diretor pesa a mão no drama em alguns momentos, exagerando na trilha sonora. A música, não raro, tenta falar mais alto que as cenas em questão, como se estivessem pontuando a emoção que deveríamos estar sentindo. Não era necessário. Já estamos completamente imbuídos do sofrimento daquele homem e a trilha sonora acaba soando redundante, quando não invasiva por demais. Um pequeno porém em um trabalho que expõe a sociedade britânica - um pequeno cosmos que representa um todo muito maior - sedenta pelo novo, pelo diferente, pelo deslumbrante. Tudo isso sem pesar as consequências. Merrick vira um espetáculo naquela sociedade, não muito diferente de seus dias de circo. Existe, claro, um tratamento diferenciado, mas aquele sentimento de "homem na vitrine" não o abandona. O cineasta é muito feliz em sua crítica, nada restrita ao século XIX. Muito pelo contrário.
Para quem nunca teve contato com qualquer trabalho de David Lynch, O Homem Elefante é um bom ponto de partida. Possui uma narrativa sem o ar surreal que o cineasta empregou em seus trabalhos posteriores, ainda que em seu início e no desfecho o diretor tenha incluído cenas com uma pegada mais onírica, abrindo e fechando muito bem uma de suas primeiras obras.
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