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Sinopse

Mauro é um garoto de 12 anos, que adora futebol e jogo de botão. Um dia sua vida muda completamente quando seus pais decidem sair de férias de forma inesperada e sem motivo aparente para ele. Na verdade, foram obrigados a fugir por serem de esquerda e serem perseguidos pela ditadura, tendo que deixá-lo com o avô paterno. Enquanto aguarda um telefonema dos pais, Mauro precisa lidar com sua nova realidade, que tem momentos de tristeza pela situação em que vive e também de alegria, ao acompanhar o desempenho da seleção brasileira na Copa do Mundo.

Crítica

Em 2006, o talentoso diretor Cao Hamburger partiu de um ponto de vista curioso para mostrar a época da Ditadura Militar no Brasil em O Ano em que meus Pais saíram de Férias, seu primeiro filme desde o sucesso infantil Castelo Rá-Tim-Bum (1999). Tendo uma criança como protagonista, o longa retratava aqueles anos através de uma visão mais ingênua, e que por isso mesmo se revelava tão interessante. O resultado é um belo filme, e não é difícil entender o porquê dele ter sido selecionado para tentar uma vaga para o Brasil na categoria de Melhor Filme Estrangeiro no Oscar 2008.

Com roteiro escrito por Hamburger, Claudio Galperin, Bráulio Mantovani e Anna Muylaert, a partir de um argumento concebido pelo diretor em parceria com Galperin, O Ano em que meus Pais saíram de Férias se passa em 1970 e nos apresenta a Mauro (Michel Joelsas), menino de 12 anos que é levado de Belo Horizonte por seus pais, Bia e Daniel (Simone Spoladore e Eduardo Moreira, respectivamente), até a casa de seu avô, Mótel (Paulo Autran), em São Paulo. O motivo da mudança é que os dois são ativistas políticos e precisam “tirar umas férias” (leia-se: tentar fugir da repressão da ditadura). No entanto, Mótel morre no mesmo dia da chegada de Mauro, deixando o garoto desamparado, além de totalmente alheio à fase que o Brasil está passando. Ele acaba sob os cuidados de Shlomo (Germano Haiut), um velho judeu solitário e rabugento que não sabe bem o que fazer com o garoto, que espera ansiosamente pela Copa do Mundo, não só por adorar futebol, mas também por esta ser a época na qual seus pais lhe prometeram que voltariam.

A inocência de Mauro diante de tudo o que acontece ao seu redor é tocante de se ver ao longo do filme, tratada sempre com sensibilidade pelo diretor. Afinal, enquanto várias pessoas “tiram férias” diante da atual situação do país, ele está preocupado com coisas típicas de qualquer criança, como fazer um gol no jogo de botão, ver o jogo da seleção na Copa ou não ser reprovado na escola, sem ideia de que eventos muito maiores estão acontecendo. Em determinados momentos o roteiro traz toques de humor que são inseridos organicamente na narrativa e ajudam até a descontrair um pouco, como quando o protagonista e seus amigos tentam ver mulheres trocando de roupa na loja da mãe de Hanna (a adorável Daniela Piepszyk).

Mas por mais infantil que seja a visão do garoto (e não poderia ser diferente, é claro), Cao Hamburger não tenta amenizar de alguma forma o peso daquela época, trazendo um ar melancólico apropriado à história que está contando. Para isso, o diretor conta com a ajuda da excepcional fotografia de Adriano Goldman e do design de produção de Cassio Amarante, que investem em uma paleta dominada por cores de tom pastel, tirando muito da vida existente naquele cenário.

Enquanto isso, o jovem Michel Joelsas interpreta Mauro com uma delicadeza surpreendente, encarnando eficientemente a ingenuidade do personagem e sua tristeza por não ter os pais por perto. E se Germano Haiut brilha como Shlomo, que apesar de rabugento mostra uma bela determinação em ajudar o protagonista, Paulo Altran tem praticamente uma ponta no papel de Mótel, mas ainda assim marcante, ao passo que Simone Spoladore e Eduardo Moreira têm atuações tocantes como os pais de Mauro (a cena logo no início, na qual se despedem do filho, é uma das mais tristes do enredo). Já atores como Caio Blat e Liliana Castro surgem carismáticos, sendo presenças sempre bem-vindas.

Isso tudo não quer dizer que o filme não tenha problemas em alguns aspectos. Por exemplo, a relação de Mauro com Shlomo é desenvolvida de maneira previsível, e a narrativa, em alguns momentos, não deixa de ser um pouco episódica. Ainda assim, O Ano em que meus Pais saíram de Férias compensa todos esses delizes com um retrato triste e relevante de um período que marcou a história do país.

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é crítico de cinema, formado em Produção Audiovisual na ULBRA, membro da SBBC (Sociedade Brasileira de Blogueiros Cinéfilos) e editor do blog Brazilian Movie Guy (www.brazilianmovieguy.blogspot.com.br). Cinema, livros, quadrinhos e séries tomam boa parte da sua rotina.
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