Crítica

Há quem diga que o documentário é uma forma superior de cinema, pois, se essa arte busca normalmente dragar o espectador através da emoção, seus resultados são potencializados em uma narrativa que tem, operando a seu favor, o fato de ser verídica. Entretanto, esse propulsor é, também, o desafio imposto ao gênero, já que a realidade foge de fórmulas, é criativa a seu modo, não se submete a roteiros e possui vida própria. É preciso refinamento para encontrar o modo mais efetivo de abordar e ressaltar a dramaticidade desse ou daquele evento. O que, no geral, é o que este No Exílio: Um Filme de Família falha em alcançar.

Narrado por Juan Francisco Urrusti, o filme nos leva pela trajetória da família do cineasta, emigrada da Espanha para o México após uma série de eventos políticos. E que bagagem trazem consigo! Testemunhas oculares da era de Franco, das duas Guerras Mundiais, de revoluções e conflitos civis, os pais, avós e ancestrais de Juan reconstituem a turbulenta história do seu país de origem conforme são abordados e, os que ainda são vivos, ganham voz.

Com a ajuda do que deve representar uma parceria admirável entre o Instituto Mexicano de Cinema e os arquivos espanhóis, No Exílio recupera imagens de arquivo preciosas de quase todos esses momentos políticos e sociais da Espanha, ilustrando com clareza cada ponto narrado pelos parentes do narrador e por ele próprio. Além disso, a organização de Urrusti como roteirista é impecável, pulando intuitivamente entre cada depoimento de modo a fazer entender a ordem em que os acontecimentos se desenrolaram. Além disso, sua familiaridade (literal) com os entrevistados, retira deles depoimentos abertos e prolixos, que auxiliados pelas imagens de arquivo, constroem um rico imaginário sobre aquilo de que falam.

Porém, por mais azeitado que seja o esforço, ele não demora a se mostrar monocórdio. Sem demais recursos, o longa recai nesse esquema repetitivo de entrevista, narração e imagens de cobertura ad infinitum. Essa formatação garante uma monotonia de magnitude tal que, em dado momento, quando Urrusti decide usar um gráfico, a quebra de ritmo é tão brusca que parece ser intenção do cineasta ressaltar aquele momento. Não é, infelizmente, e logo estamos de volta ao velho formato, embalado por uma trilha distante e emotiva que, claro, Juan deve ter achado apropriado tornar onipresente, por se tratar de um filme sobre sua família.

Ao menos não cometendo o erro de se colocar como protagonista da própria obra, o que é um impulso natural nesse tipo de abordagem documental, e que aqui tornaria a experiência ainda mais insuportável, No Exílio termina deixando a ideia de que falou de algo muito interessante. O problema, claro, é encontrar a paciência necessária para vencer as suas duas horas de duração e descobrir o quê.

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é formado em Produção Audiovisual pela PUCRS, é crítico e comentarista de cinema - e eventualmente escritor, no blog “Classe de Cinema” (classedecinema.blogspot.com.br). Fascinado por História e consumidor voraz de literatura (incluindo HQ’s!), jornalismo, filmes, seriados e arte em geral.
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