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Sinopse

Na iminência de disputar o pleito para sua reeleição, o presidente dos Estados Unidos se envolve num escândalo sexual. Sua conselheira recruta um especialista em crise. Ele decide fabricar uma guerra para desviar o foco. 

Crítica

Questionamentos sobre os limites da permissividade ética no campo político podem ser levantados aos montes no decorrer de Mera Coincidência, filme de Barry Levinson vencedor do prêmio do júri no Festival de Berlim. Em uma sátira ao ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton e seu infame escândalo sexual com Monica Lewinsky, esta comédia sequer apresenta o rosto do governante norte-americano ficcionalmente proposto, e se restringe a uma aprofundada e imaginativa viagem pelo universo comunicacional que circunda os bastidores de assuntos do gênero.

Robert De Niro, Dustin Hoffmann e Anne Heche compõem o triângulo advindo de diferentes áreas da comunicação requisitado para lidar com uma grande polêmica presidencial que ocorre próxima ao período eleitoral. A trinca, que parece ignorar quaisquer conceitos sobre a verdade e justiça, forja uma guerra para desviar a atenção do problema e incumbe-se de fazer isso se valendo de importantes estratégias, que incluem um hino, um símbolo e até mesmo um herói. Enquanto o saldo com os feitos parece ser cada vez mais positivo, cada um deles descobre razões diferentes para questionar suas ações e repensar decisões tomadas até então – seja para o bem ou para o mal.

Os conceitos de ética e moral já são subvertidos nos primeiros momentos do longa, quando os protagonistas do filme são convocados às pressas para lidar com a situação supracitada. Suas decisões e escolhas quebram códigos normativos sociais e comunicacionais, pois são pautadas em omissões e mentiras, além de prejudicarem envolvidos direta e indiretamente com o caso. Filmes como Obrigado Por Fumar (2005), de Jason Reitman, e mais recentemente o chileno No (2012), de Pablo Larraín, são igualmente bem sucedidos ao explorarem perspectivas diferentes para dilemas semelhantes.

O utilitarismo proposto por Kant, que pregava que o agir correto é aquele que visa uma ação que possa ser universalizada, é simplesmente ignorado pela ética apresentada em Mera Coincidência. No incisivo roteiro indicado ao Oscar de David Mamet e Hilary Henkin, os protagonistas elegem suas ações visando exclusivamente o fim, que é a reeleição do presidente, independente dos meios que sejam escolhidos para isso. No campo da comunicação, um dos maiores absurdos sugeridos pelo filme, porém infelizmente plausível, está na manipulação midiática e populacional – campos da sociedade que passam a dedicar sua atenção para uma causa que sequer existe.

Por fim, temos uma série de consequências geradas pelas ações dos protagonistas, e, por meio delas, os juízos de valores. Estes últimos são extremamente sérios, porém igualmente cômicos na abordagem ácida e sagaz proposta por Barry Levinson. O produto final é uma comédia política como poucas, de roteiro e diálogos ágeis e inteligentes, e uma grande mensagem, talvez sublimada pelo espírito leve e despretensioso do filme.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Graduado em Publicidade e Propaganda, coordena a Unidade de Cinema e Vídeo de Caxias do Sul, programa a Sala de Cinema Ulysses Geremia e integra a Comissão de Cinema e Vídeo do Financiarte.
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