Crítica

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Muitos anos antes da computação gráfica tomar conta de 90% das produções infanto-juvenis lançadas pelos grandes estúdios, os desenhos eram, literalmente, animados. Por isso, não é de se estranhar a maestria de Hayao Miyazaki e do Studio Ghibli desde o seu início. Laputa: O Castelo no Céu foi a primeira produção lançada oficialmente com o selo do estúdio e trata com sensibilidade aqueles temas que viriam a se tornar tão caros a (e a cara de) seus filmes. É claro, como em todo início de carreira, algumas falhas se tornam mais visíveis, mas nada que tire o encanto da produção.

Laputa é um castelo flutuante só acessível aos portadores de uma pedra especial. Descendente de um clã de residentes, Sheetah é uma garota que possui a tal pedra em seu colar, o que a torna alvo de muita gente, inclusive de piratas e do próprio exército. Ela recebe a ajuda do garoto Pazu, cujo pai foi um aviador que ninguém acreditava ter conhecido o local dos céus.

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Com um tema simples em mãos, Miyazaki demora um pouco para desenvolver a história e mostrar Laputa de verdade, pois é a partir do momento em que os protagonistas chegam ao castelo (ou seria uma cidade?) que a ação realmente inicia. No entanto, é interessante notar como o cineasta já se voltava desde o início muito mais para o desenvolvimento da relação de seus personagens do que à aventura ininterrupta. Além de estabelecer a confiança entre Sheetah e Pazu, transformando aquela amizade em um romance prestes a florescer da forma mais singela, também constrói o panorama político e social que serve de pano de fundo à história. Quase um Elysium (2012) em versão animada. Afinal, em Laputa se encontra riqueza em ouro e uma tecnologia que pode mudar vidas.

Com técnicas de animação mais do que conhecidas por fãs de animes, como cenários estáticos e escuros em contraste com os personagens vivos e iluminados, Laputa: O Castelo no Céu pode até parecer muito simples no primeiro olhar, mas são os cuidados com a representação histórica que chamam ainda mais a atenção no filme. Afinal, apesar de toda tecnologia envolvida, a trama parece se passar no início do século XX, com aviões e carros muito longe dos modelos tradicionalmente conhecidos após várias revoluções industriais. O figurino dos personagens parece remeter à mesma época, quase fazendo com que o período do século seja uma alusão à Primeira Guerra Mundial, em vários sentidos narrativos.

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O terceiro longa-metragem de Miyazaki pode não figurar entre suas obras-primas e até ter sido esquecido após quase 30 anos, mas serve não apenas como inspiração para sua excelência na técnica, mas também para comprovar que sua visão madura sobre o mundo e as relações humanas só melhorou com o tempo, sem nunca deixar o romantismo de lado. Afinal, é impossível assistir a um longa do cineasta sem se emocionar em algum momento. Algo que poucos conseguem sem precisar de outros artifícios que não a própria magia do cinema.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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