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Sinopse

Jonas é apaixonado desde a infância por Branca, filha da patroa de sua mãe. E os dois vão viver uma história de amor inusitada a bordo de um carro alegórico de carnaval apelidado de Baleia.

Crítica

A narrativa do livro de Jonas consta do Velho Testamento: um profeta israelita que teria vivido um famoso episódio ao ser engolido por uma baleia (ou, um peixe grande, segundo a tradução mais precisa), de dentro da qual só foi regurgitado com a ordem de Deus, após se arrepender de seus pecados. Claro que o conto, hoje, é visto como uma parábola (ao menos, pela maioria dos estudiosos da Bíblia), e não como um evento literal. Entretanto, é tanto como alegoria quanto como fatalidade que Jonas encara o arco de seu protagonista.

Apaixonado por Branca (Laura Neiva), que é filha dos patrões de sua mãe, uma humilde empregada, o personagem título percebe que talvez a garota esteja dando brecha para responder a seus sentimentos. Embriagado, certa noite, ele acaba invadindo a luxuosa casa dela e descobrindo que está saindo com Dandão (Criolo), um traficante perigoso que reage violentamente ao descobri-lo ali. A briga tem um fim abrupto, e o garoto acaba sequestrando a jovem, fazendo seu cativeiro dentro da estrutura de um carro alegórico em forma de baleia.

Lô Politi, que escreve e dirige o filme, não se poupa, portanto, de tentar criar uma série de simbolismos no seu projeto. Afinal, para além de Jonas e a baleia, temos a menina abastada que se chama Branca, o pai que se chama Moisés, uma transa que se consuma em um local que deveria ser de arrependimento, o fogo que assume papel puramente estético, e por aí vai. Porém, a diretora não consegue dar muita coesão a essa camada de leituras subjacentes que poderia despertar. Qual a subversão do mito de Jonas aqui? É óbvio que o garoto se arrepende do que fez, mas um mero paralelo não sustenta o investimento de escrutínio à obra. Se a Baleia é uma forma de renascimento, jornada na qual se pode falhar, a que ponto Jonas foi levado? Qual o arco que percorreu?

Não, o filme de Politi parece se divertir com a ideia de jogar algumas pistas interessantes sobre o que poderia ser, mas na verdade é exatamente o que parece ser: um thriller, simples e puramente. Entretanto, o longa-metragem tampouco funciona muito bem como tal. Embora tenso e hábil ao transmitir ameaça sobre o protagonista (vivido com um misto de intensidade e delicadeza pelo talentoso Jesuíta Barbosa), Jonas não desenvolve ou aprofunda nenhuma daquelas figuras de forma a nos fazer realmente se importar com elas. Branca, por exemplo, muda seu comportamento conforme o roteiro necessita, enquanto personagens secundários assumem atitudes inexplicáveis que, muitas vezes, vão completamente contra seus interesses, só para que o arco de Jonas se mantenha.

Porém, mais grave do que isso, é como o filme parece abandonar completamente todos os conflitos criados em prol de uma conclusão que privilegie um plano de beleza plástica. O que, ao menos, é um mérito do projeto: ser bonito de se ver. Fotografado com uma leve dessaturação que contrasta com universo colorido do Carnaval, Jonas aspira a uma técnica rebuscada que, infelizmente, surge vazia de conteúdo, como a baleia em que Jonas esconde Branca – uma mera casca bem produzida, com contornos interessantes, mas oca e sem imaginação pelo lado de dentro.

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é formado em Produção Audiovisual pela PUCRS, é crítico e comentarista de cinema - e eventualmente escritor, no blog “Classe de Cinema” (classedecinema.blogspot.com.br). Fascinado por História e consumidor voraz de literatura (incluindo HQ’s!), jornalismo, filmes, seriados e arte em geral.
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