Homem-Aranha 3

12 ANOS 139 minutos
Direção:
Título original: Spider-Man 3
Gênero: Ação, Aventura, HQs
Ano:
País de origem: EUA

Crítica

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Sinopse

Peter Parker conseguiu encontrar um meio-termo entre seus deveres como o Homem-Aranha e seu relacionamento com Mary Jane. Porém, o sucesso como herói e a bajulação dos fãs, entre eles Gwen Stacy, faz com que se torne auto-confiante demais e passe a negligenciar as pessoas que se importam com ele. A situação muda quando precisa enfrentar Flint Marko, mais conhecido como o Homem-Areia, que possui ligações com a morte do seu tio Ben. Tendo que lidar com o sentimento de vingança, Peter passa a usar um estranho uniforme negro, que se adapta ao seu corpo.

Crítica

Quando um filme chega aos cinemas com tanta expectativa, é mais fácil prestarmos atenção aos seus supostos “defeitos” do que às virtudes apresentadas. Afinal, já entramos na sala escura considerando-o o “melhor de todos, espetacular, insuperável”. Porém, cada percalço soma direto na decepção, no desânimo e na frustração. Dito isso, é importante ter algo em mente: Homem-Aranha 3 é bom. Mas inferior aos capítulos anteriores da trilogia e a outros filmes baseados em heróis dos quadrinhos lançados mais ou menos na mesma época, como X-Men 2 (2003) e Batman Begins (2005), por exemplo. Tendo esclarecido esta questão, vamos adiante.

Cada aventura cinematográfica de Peter Parker é como uma história independente de gibi, com início, meio e fim. No primeiro ele adquiriu seus poderes, enfrentou o Duende Verde (o pai do melhor amigo, um cientista que enlouquece após uma experiência mal-sucedida) e presenciou uma tragédia familiar: a morte do tio que o criara. No segundo, assume sua condição de herói para a mulher que ama e declara seu amor, tem sua identidade secreta revelada e ganha um novo inimigo: o Doutor Octopus, outro cientista enlouquecido. Agora, neste terceiro episódio, a situação é ligeiramente diferente: Homem-Aranha (Tobey Maguire, com a mesma cara de “nada” de sempre), após salvar a cidade em duas ocasiões, é admirado e reconhecido por toda a população. Esse excesso de segurança vai interferir nas suas relações pessoais, como com a namorada (Kirsten Dunst, visualmente desmotivada) e ao lidar com novos inimigos: a aparião do novo Duende (James Franco, que visualmente funciona, apesar das limitações interpretativas que possui), o Homem-Areia (Thomas Haden Church, convincente) e um rival no trabalho, Eddie Brock (Topher Grace, o mais empolgado), que posteriormente irá se transformar no assustador Venom.

Homem-Aranha 3 persiste no molde desenhado nos filmes anteriores: o grande personagem é mesmo o homem por trás da máscara. O que importa, portanto, são as motivações deste, como chegou a ser o que é hoje e como lida com as desilusões e conquistas do caminho. Esta nada mais é do que uma história de pessoas carentes, em busca de orientação e auxílio. Parker sente a falta do tio, Mary-Jane (a namorada) quer um amor verdadeiro, Harry (o melhor amigo) procura um culpado pela morte do pai, Flint Marko (Homem-Areia) quer ajudar a filha doente, Eddie Brock busca reconhecimento pessoal e profissional. Com tantos necessitanto de atenção, será quase impossível para o diretor Sam Raimi (o mesmo nos três filmes) e para o público espectador se dividir de forma equilibrada.

Cenas de ação espetaculares, efeitos especiais de última geração, atores que entendem e defendem seus personagens com amor e dedicação: tudo está presente! Quais são, então, os defeitos? Bem, eles existem, e são muitos. O principal, que talvez englobaria todos os demais, é, no entanto, um só: o excesso. Assim como aconteceu no final da franquia anterior de Batman (Batman & Robin, 1997), há gente demais em cena.

Tá certo que o novo Duende deveria aparecer, afinal o arco dele é o único que começou no primeiro filme e que merecia um encerramento. Mas Homem-Areia (um dos vilões clássicos, ainda da década de 60 nas hq’s) e Venom (presente apenas por ser bastante popular entre os fãs mais jovens), juntos? A verossimilhança perseguida nos filmes anteriores vai por água abaixo com estes dois. Afinal, um aparece ao tropeçar num buraco e ser atingido por uns raios e o outro simplesmente cai dos céus, como um alienígena enraivecido. Apenas o primeiro, que é melhor desenvolvido, com mais tempo em cena, talvez já fosse suficiente. Do outro, o único acréscimo interessante é ideia do lado negro do herói (já explorado com muito mais sucesso em outra saga, Star Wars), mas este é um argumento que, infelizmente, é mal desenhado.

Outro sinal do exagero é o acréscimo da família Stacy: o capitão de polícia (James Cromwell, inexpressivo), e sua filha, Gwen (Bryce Dallas Howard, perdida). Muito importantes nos gibis, os dois têm presenças pálidas no filme. Gwen, por exemplo, deveria servir para realmente abalar a relação Peter/Mary-Jane: ou se oferecendo para o protagonista, ou despertando o interesse romântico do herói. Mas o que vemos não é nem uma coisa, nem outra. E, sem função maior, sua existência acaba se revelando um constrangimento para os fãs e um desperdício para os curiosos.

E, por fim, temos a falta de ritmo do roteiro. Desenvolvido pelos irmãos Sam e Ivan Raimi, com o auxílio do vencedor do Oscar Alvin Sargent, o enredo se perde entre as diversas opções apresentadas. Há o momento “sou o favorito da cidade”, para depois seguir com o “emo-herói abandonado em busca de vingança” e terminando com o “bom moço que salva todo mundo e ainda conquista a mocinha”. Os vilões não são “maus” o suficiente, e nenhuma ameaça chega verdadeiramente a assustar. A principal antítese, Venom, é um ser amorfo e desprovido de maiores características, tornando quase impossível se criar qualquer relação – antipatia ou simpatia – com ele. E, quando surge a indiferença, o erro é quase irrecuperável.

Homem-Aranha 3, apesar de tudo, abre bem a temporada de blockbusters norte-americanos. Mas, aquele que deveria ser o prato principal, dificilmente será mais do que um aperitivo (diante dos novos Piratas do Caribe, Harry Potter e Shrek, por exemplo). E somente os mais fanáticos irão conferir na sala escura este longa mais de uma vez. Não chegou ao ponto de encerrar a carreira cinematográfica do personagem, mas ao menos serviu como alerta para os próximos filmes: assim como na vida real, no cinema também, em muitos casos, “menos” significa “mais”!

Robledo Milani

é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.

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