Gnomeu e Julieta: O Mistério do Jardim

LIVRE 86 minutos
Direção:
Título original: Sherlock Gnomes
Gênero: Animação, Comédia
Ano: 2018
País de origem: Reino Unido / EUA

Crítica

5

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Sinopse

No coração de Londres, na Inglaterra, alguns gnomos desaparecem sem deixar rastro. Gnomeo e Julieta unem forças com os renomados detetives Sherlock Gnomes e Gnomo Watson para descobrir o que está por trás do mistério. Aos poucos, começam a perceber que permanecer apaixonados pode não ser tão fácil como se apaixonar.

Crítica

Os anões de jardim e demais enfeites multicoloridos são deslocados para outra vizinhança em Gnomeu e Julieta: O Mistério do Jardim. Agora em Londres, eles se veem no centro de um plano “diabólico”, marcado por desaparecimentos frequentes, um caso tão intrincado que pode ser confiado apenas ao investigador mais sagaz das redondezas, exatamente Sherlock Gnomes, escudado pelo fiel Watson. Aliás, há duas linhas que convergem no novo longa-metragem produzido por Elton John. A primeira dá conta de um estremecimento na relação de Gnomeu e Julieta, situação que sobrevém à nomeação deles como novos líderes do pedaço. Ela se imbui de um espírito empreendedor, organizando o local e cumprindo tarefas. Enquanto isso, ele se sente preterido. A segunda diz respeito à rivalidade entre Sherlock e Moriarty, seu arqui-inimigo ameaçador, aqui mascote amarelo de uma empresa de tortas que leva o nome do personagem de Arthur Conan Doyle.

Um dos grandes problemas de Gnomeu e Julieta: O Mistério do Jardim é justamente a dificuldade para entrelaçar as premissas, pois elas acabam competindo. Assim que Sherlock cruza o caminho dos protagonistas, ele passa a ser a figura principal, equivalendo-se à Julieta no que tange às lições necessárias para mudanças urgentes. Já a correspondência entre Gnomeu e Watson é bem menos eficiente, ocorrendo somente por um dado específico, mas não sendo desenvolvida criativamente pelo roteiro que, então, se contenta em oferecer uma sucessão de micro aventuras para formar o painel maior. De pista em pista, encabeçados pela coragem do investigador e pela valentia da líder de saia e touca vermelha, os vários seres completam fases, como num jogo, indo na direção do definitivo confronto com um vilão supostamente outrora derrotado. Há duas viradas no enredo, sendo a inicial bastante previsível e a subsequente destituída de impacto considerável.

Aliás, tendo em vista o público-alvo do filme, pode ser excessiva essa reviravolta dentro de uma reviravolta. Tal opção tende a gerar confusão nos menores, dificultando sua compreensão, não por falta de explicações, mas em virtude da inépcia na criação de momentos expressivos o suficiente para cristalizar as alterações de comportamento. Nesse itinerário em que os âmbitos brigam constantemente por atenção, sobra pouco espaço aos coadjuvantes, como ao anão de jardim apaixonado pela colega sapa de porcelana ou mesmo ao alívio cômico festeiro que usa óculos escuros e maiô minúsculo. As músicas de Elton John conferem um toque próprio a determinadas cenas, vide as perseguições contornadas como missões relativamente cativantes, mais pela trilha sonora conhecida que por qualquer outro elemento. O diretor John Stevenson, veterano na área de animação, cria um exemplar morno, com esparsos instantes de verdadeira inspiração.

O único recurso engenhoso de Gnomeu e Julieta: O Mistério do Jardim é deflagração da incrível capacidade dedutiva de Sherlock. Toda vez que ele precisa colocar a cachola para funcionar, sobretudo diante de uma pista deixada pelo vilão, temos uma versão animada tradicionalmente. As imagens preto e branco contrastam com a profusão de cores do restante do longa, e essa diferença é funcional. Tais passagens dão charme ao todo, desviando o filme ocasionalmente de sua rotina um tanto insossa e dispersa. Tiradas como a do Cão dos Baskervilles, menção ao famoso livro de Sherlock Holmes, ótima piscada aos adultos, não se repetem com frequência, o que acaba restringindo a sessão aos mais jovens, potencialmente fisgados pelo forte apelo visual. Não apresentando uma trama necessariamente empolgante, a produção dirigida por John Stevenson demonstra fadiga, principalmente por extinguir possibilidades, cômicas e dramáticas, tão logo elas surjam na telona.

Marcelo Müller

Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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